Cidades

Pesquisadora da UnB cria mecanismo com garrafas pet para aliviar efeitos da chuva

postado em 06/07/2009 08:00
Cidades inteiras devastadas, famílias desabrigadas, água por todos os lados. Os danos causados pelo excesso de chuvas fizeram com que cenas como essas passassem a ser frequentes em todo o mundo. Mudanças constantes no ecossistema do planeta, como as geradas pelo aquecimento global, além do acúmulo de lixo nas cidades, são alguns dos motivos para o agravamento do problema. No Brasil, as regiões Sul e Nordeste estão entre as que mais sofreram, nos últimos meses. Os estragos causados pela chuva foram tão grandes que foram necessárias a ajuda do governo federal e a ação de voluntários como forma de amenizar o sofrimento da população. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Brasília (UnB), porém, provou que a solução pode estar onde menos se imagina: no lixo. Nesse caso, a partir do uso de politereftalato de etileno, as famosas garrafas pet ; material que, se não for reaproveitado, pode levar mais de 100 anos para se degradar.

Dados divulgados pela Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), vinculada ao Ministério da Integração Nacional, são alarmantes. Os números mostram que desastres provocados por fortes chuvas e enchentes já mataram 64 pessoas, deixaram 314 mil desalojadas e 138 mil desabrigadas em 13 estados, de abril a junho deste ano. O Distrito Federal, graças a uma grande quantidade de áreas verdes (que facilita o escoamento da água das chuvas), ainda não vivenciou nenhuma situação calamitosa do tipo. Ciente do problema que, no futuro, pode se agravar e vir a afetar os brasilienses, a pesquisadora Joseleide Pereira da Silva, mestre em geotecnia pela UnB, criou um sistema que armazena e permite a infiltração da água da chuva no solo, testado no câmpus da univerdidade desde 2006.

Clique na imagem para ampliarDepois de muita pesquisa sobre o processo de infiltração e análise de vários tipos de material, Joseleide descobriu que as garrafas pet, baratas e fáceis de encontrar, seriam ideais para o novo sistema. O material serviria para a construção de colunas que vão acumular a água e, posteriormente, drená-la para o solo. Medidores também são instalados para controle, além de uma espécie de tecido feito de material geossintético, que permite apenas a passagem da água. ;É só chover que a água preenche todo o sistema. Uma alternativa eficiente para o governo, que tem de arcar com danos causados pelas enchentes, e para as famílias que trabalham com a venda de material reciclável;, defende.

Testes
A pesquisadora explica que o sistema, num primeiro momento, pode ser aplicado com sucesso em jardins e estacionamentos, áreas ainda relativamente livres de concreto. Na UnB, por exemplo, foram instalados cinco protótipos ; chamados de ;trincheiras; ; em uma área de 700m. Dentro de cada uma delas há pelo menos 3 mil unidades de garrafas pet. Os próximos passos da pesquisa, segundo Joseleide, consistem nos chamados testes de carga. ;Com a aplicação de peso sobre elas (as trincheiras) saberemos se o mesmo sistema poderá ser usado em locais onde há abundância de concreto, a exemplo de cidades como São Paulo (SP). A partir daí, poderá ser aplicado em calçadas, pavimentos e sarjetas;, destaca.

Joseleide e o orientador, o professor José Camapum: projeto une preocupações sociais e ecológicasAlém de grande utilidade para a resolução de problemas que prejudicam o meio ambiente, pesquisas como a de Joseleide servem para orientar estudantes de todo o Brasil. Por meio de cartilhas destinadas a crianças e jovens em idade escolar, os estudiosos da universidade esperam conscientizar um número cada vez maior de pessoas. O material é distribuído gratuitamente em todo o Brasil. ;É mais fácil educar do que ter de arcar com os prejuízos causados pelas enchentes. Não recebemos nada por esse trabalho, e as prefeituras de todo o Brasil só gastam com o valor da impressão;, explica o professor do Departamento de Geotecnia da UnB e orientador da pesquisa, José Camapum.

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