Jornal Correio Braziliense

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Marcelo Caron enfrenta o banco dos réus

Começou às 10h desta terça-feira (7/7), no Fórum de Taguatinga, o julgamento do ex-médico Denísio Marcelo Caron. Esta é a primeira vez que Caron senta no banco dos réus acusado pela morte de duas brasilienses, a funcionária da Terracap Adcélia Martins de Souza, 39 anos, e a universitária Graziela Murta Oliveira, 26 anos. As duas perderam a vida ao se submeterem a cirurgia de lipoaspiração, em 2002.

Sem demonstrar nenhuma emoção e aparentemente bem tranquilo, o ex-médico se apresentou diante do júri, composto por quatro mulheres e três homens. No início, o advogado de defesa chegou a solicitar a separação dos processos numa tentativa de adiar o julgamento, mas não teve sucesso. A primeira testemunha de acusação ouvida foi Patrícia Murta, irmã de Graziela. Patrícia contou que Caron garantiu ser o melhor profissional do Brasil na área. Segundo ela, quem indicou o médicol foi uma massagista da universitária. A mulher disse à Graziela que conhecia uma pessoa que havia passado pelo procedimento. [SAIBAMAIS]

A testemunha de acusação relatou ainda que, um dia após a cirurgia, Graziela teve febre alta e vomitou por diversas vezes. Mesmo com a preocupação da família, o médico afirmou que os sintomas eram naturais devido ao tipo de intervenção cirúrgica que ela havia sofrido. Procurado diversas vezes, Caron afirmou à família que estava em Goiânia cuidando de seus cavalos e que não poderia se ausentar. Patrícia disse ainda que a irmã foi internada no Hospital Santa Helena, na Asa Norte, seis dias depois. A vítima ficou por três dias na UTI. Ela passou por sessões de drenagem linfática, feitas por Caron. Logo depois, teve parada cardíaca e após um mês morreu.

Recusa

Tereza Murta, mãe de Graziela, foi a segunda testemunha de acusação a depor. "Minha filha sempre quis fazer essa cirurgia. Ela ficou encantada com o que escutou do médico e nem pesquisou outros", disse. A mãe da vítima afirmou que a filha desembolsou R$ 4 mil pela cirurgia. Tereza disse também que, enquanto a filha passava mal em casa, ela sugeriu levá-la a outro profissional, mas Graziela se recusou. "Ela dizia que Caron a abandonaria."

A terceira testemunha de acusação foi a anestesista Olívia Mota. A médica participou da cirurgia de Graziela. Em breve depoimento, ela afirmou que as questões técnicas na área da anestesia foram normais. No entanto, relatou que o médico não contou com a ajuda de um cirurgião auxiliar. Caron teria alegado que a intervenção era simples. Mas, segundo Olívia, a cirurgia prevista para durar 40 minutos levou quatro horas.


Serão ouvidas ainda outras três testemunhas de acusação. Três pacientes que tiveram cirurgias bem sucedidas vão testemunhar em defesa de Caron. O julgamento é presidido pelo juiz Germano Oliveira Henrique de Holanda. O promotor é Leonardo Jube e o assistente de acusação é João Tadeu Neto.


O crime

Adcélia morreu em 29 de janeiro no Hospital Anchieta, em Taguatinga. Graziela teve complicações e resistiu internada até fevereiro. Caron foi denunciado por homicídio qualificado, por motivo torpe (duas vezes), pela omissão e pelo exercício ilegal da medicina. Se condenado, pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.


Além das duas acusações na capital do país, o ex-médico responde pelos homicídios de outras três pacientes em Goiânia. O promotor Diáulas Ribeiro, do Ministério Público do DF, iniciou as investigações. Todas as vítimas perderam a vida em operações plásticas. A última condenação de Caron ocorreu em abril deste ano. O Tribunal de Justiça de Goiás o sentenciou a oito anos de prisão em regime semiaberto pela morte de Janet Virgínia Novais Falleiro, em 14 de janeiro de 2001. Também teve de pagar R$ 30 mil à família da vítima. A advogada não resistiu a complicações decorrentes de uma lipoescultura.


Caron recebeu condenação anterior na Justiça goiana. Em 2003, pagou R$ 88 mil a Marlene Maria Alves, uma das 17 pacientes com graves sequelas após se submeter a cirurgia com o ex-médico. Além das cinco mortes, ele responde a processos por estelionato, desvio de dinheiro público, formação de quadrilha, furto, uso de documentos falsos e falsificação de documentos públicos e particulares. Diáulas comprovou ainda que Caron usou diploma falsificado de especialização em cirurgia plástica para conseguir registro profissional no Conselho Regional de Medicina de Goiás.

Com informações de Guilherme Goulart