postado em 11/07/2009 08:20
Quem mora em Brasília precisa encarar, pelo menos, 1.000km de distância para estar na praia. Reduzir o trecho dessa viagem para menos de 20km (contando a partir da Torre de TV) é o projeto da Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma). A polêmica proposta é transformar o atual Piscinão do Lago Norte numa praia de 400m de extensão, com direito a areia fina, dezenas de coqueiros, calçadão, quadra de futevôlei e quiosques com diferentes cardápios. O local, que há pouco mais de um mês ganhou os primeiros banheiros químicos e uma guarita para os salva-vidas, vai receber infraestrutura capaz de receber, dentro d%u2019água, 30 mil pessoas de uma só vez.
A primeira "praia" de Brasília será construída aos moldes do Piscinão de Ramos, no Rio de Janeiro. Uma parte do Lago Paranoá, no mesmo lugar onde hoje fica o piscinão %u2014 às margens da Estrada Parque Paranoá (EPPR ou DF-005), nas proximidades do Varjão e das MIs MLs do Lago Norte -, será represada para formar um espelho d%u2019água de 30 mil metros quadrados. Essa água captada do lago passará antes por um processo de tratamento para garantir a balneabilidade. Como o muro da represa não será muito alto, essa mesma água transbordará, voltando ao Paranoá. O chão da piscina será de areia, como todo o resto da área da praia.
Mas os planos para o local provocam polêmica, especialmente por conta da quantidade de pessoas que poderão visitar o piscinão promovido à praia. Hoje, aos fins de semana, a área costuma receber mil pessoas. A quantidade de visitantes pode aumentar em 30 vezes com a criação da praia, que deverá custar aos cofres do GDF R$ 20 milhões. O projeto está em fase final de elaboração. A previsão é que as obras sejam licitadas em setembro e comecem em outubro deste ano. A entrega do novo balneário candango deve ocorrer em abril de 2010, mês de comemoração dos 50 anos de Brasília.
Itapõa, Varjão, Paranoá, Lago Norte - em especial, o Setor de Mansões Internas - são alguns dos bairros próximos ao local e possuem, ao todo, cercam de 150 mil habitantes. Até o fim de julho, a Subsecretaria de Meio Ambiente fará a primeira audiência pública com a população para apresentar o projeto. %u201CA ideia é sociabilizar o acesso e o uso do Lago Paranoá e dar uma opção de lazer a todas as classes, principalmente, àquelas de menor poder aquisitivo%u201D, justifica o subsecretário de Meio Ambiente, Eduardo Cavalcanti.
Sem cascalho
Em meio ao lixo espalhado, ao mato alto e às pedras que foram colocadas para evitar que os carros chegassem até a beira do lago, os amigos Adriana
Ferreira, 19 anos, Wodison Trindade, 27, e Daiane Mara, 21 %u2014moradores do Itapoã e do Varjão %u2014, procuram se divertir no piscinão como ele é hoje. Eles nunca estiveram numa praia de verdade, mas acreditam que poderão sentir um pouco desse prazer ali mesmo, perto de casa. "Meu sonho é ir a Fernando de Noronha, mas fico feliz de vir nessa praia daqui. O melhor de tudo é que vão tirar esse cascalho e colocar areia. Meus pés doem só de entrar nesse lago", afirma Adriana.
Moradora da QI 10 do Lago Norte, a publicitária Bruna Daibert, 28, apoia a iniciativa de construir uma área de lazer mais estruturada. No entanto, ela, que já nadou perto do piscinão, considera que o público esperado é um exagero de planejamento. "Acho que é meio megalomaníaco uma piscina que recebe 30 mil pessoas. Essa intervenção pode piorar a qualidade da água e atrapalhar os praticantes de esportes aquáticos", argumenta.
Na opinião do professor do Departamento de Geoquímica da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em análise da água, Geraldo Boaventura, se a construção da praia for feita com rigor ambiental prevendo tratamento de água e escoamento de esgoto, não haverá impactos negativos ao Lago Paranoá. O docente, porém, ressalta que o acesso das pessoas ao local poderá se transformar no grande problema da obra, devido ao sensível aumento no fluxo de veículos. "É preciso ter uma melhor infraestrutura viária. Como as pessoas poderão passar e estacionar dezenas de carros e ônibus naquela região?", indaga ele.
Inspiração
A piscina pública do bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, com 26 mil metros quadrados de espelho d%u2019água, foi inaugurada
em 2002 ao custo de R$ 18,5 milhões. Em volta dela, há calçadão, ciclovia e quadras esportivas. Antes da obra, a
área estava degradada. No último réveillon, o local recebeu
50 mil pessoas e tornou-se a festa com maior público
entre os subúrbios da cidade.