Guilherme Goulart
postado em 12/07/2009 08:18
As organizações criminosas especializadas em tráfico de seres humanos mataram pelo menos oito brasileiras em 2009. Houve seis assassinatos na Espanha e um nos Estados Unidos. As vítimas são mulheres que deixaram o país para tentar a vida por meio da prostituição. O crime mais surpreendente, no entanto, ocorreu em território brasileiro, especificamente na capital do país. A morte de uma goiana no Guará revelou que as máfias europeias vinculadas à prostituição internacional não temem a segurança nacional. E dão ordens para aliciadores tirarem a vida daqueles que as ameaçam.
Investigação da Polícia Civil brasiliense mostrou o tamanho do esquema no Brasil. Ficou comprovado que o homicídio da ex-prostituta Letícia Mourão, 31 anos, em março deste ano, ocorreu a mando de uma organização criminosa dona de seis prostíbulos na Espanha. Órgãos federais e estaduais também têm informações de que aliciadores de outros 10 países - Portugal, França, Suíça, Irlanda, Holanda, Bélgica, Reino Unido, Israel e Estados Unidos - têm influência dentro das fronteiras brasileiras. Movimentam dinheiro, convencem novas vítimas e matam, se preciso.
Goiás aparece como o estado que mais exporta brasileiros. Há 250 mil goianos no exterior. Boa parte vive da prostituição. Alguns voltam ao país como recrutadores. "Esses grupos criminosos são organizados e estruturados. Enviam pessoas principalmente para Espanha e Portugal, pela facilidade da língua, e para a Suíça. Depois, vêm de fora para dentro", explicou o procurador da República Daniel de Resende Salgado, do Ministério Público Federal de Goiás. O órgão se dedica ao combate à prostituição internacional desde 2004. Atuou na condenação de 20 pessoas por exploração sexual no exterior.
Vulnerabilidade
A experiência no assunto levou o Ministério Público Federal goiano a traçar o perfil das vítimas e dos aliciadores (veja abaixo). "Elas (as organizações mafiosas) elegem algumas prostitutas para voltar ao Brasil e fazer a propaganda positiva da vida no exterior. Usam a condição de vulnerabilidade das pessoas e trabalham com certa sutileza", detalhou Salgado.
O problema no estado vizinho ao DF levou à criação da Assessoria de Assuntos Internacionais do Estado de Goiás. Desde 2000, o órgão, comandado por Elie Chidiac, presta assistência aos familiares e às vítimas de prostituição. O trabalho passa por três pilares: repressão, assistência e conscientização. "Só assim podemos fazer um escudo psicológico para conscientizar e alertar dos perigos que há neste meio", explicou. Segundo ele, uma média de 20 goianos são assassinados por ano na Europa devido à exploração sexual.
A proposta da assessoria goiana segue a iniciativa do governo federal para combater a prostituição internacional a partir do Brasil. "Estamos focados em campanhas educativas, repressão e capacitação de profissionais", disse o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior.
O ALVO
* A maioria das mulheres atraídas pelas máfias estrangeiras é goiana. Organizações criminosas internacionais
enviam aliciadores ao Brasil para convencê-las a viver da prostituição na Europa. Veja o perfil delas:
- Têm entre 18 e 26 anos
- O grau de instrução não passa do ensino fundamental
- Não têm condições de arcar com pacotes de turismo sequer para um local no interior do país. Por isso, desembarcam endividadas na Europa
- São de famílias de baixa renda, residentes na periferia. A maior parte é de cidades do interior de Goiás
Boa parte se encontra desempregada antes da partida para o exterior
- A maioria tem um ou dois filhos, geralmente de pais diferentes
- Tiveram relacionamentos frustrados
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