postado em 13/07/2009 08:36
O vestido de formatura da concluinte do ensino médio Ana Beatriz de Oliveira Silva, 18 anos, vai ser assim: longo, cruzado nas costas e absolutamente vermelho. O modelo foi desenhado pela própria estudante ; que se aventurou em fazer seu primeiro croqui. A intenção dela não é se tornar estilista. Aliás, Ana Beatriz quer prestar vestibular para o curso de direito. Mas colocar no papel o tal do vestido parece ser o primeiro passo para a realização de seu sonho. O segundo passo depende da ajuda de amigos, parentes ou algum desconhecido que queiram colaborar com a ;vaquinha; que Ana Beatriz criou para ela mesma na internet.Na rede mundial de computadores, a garota pede R$ 400 para comprar o tecido e mandar fazer o traje de gala. Usa como argumento a fortuna que os pais já terão que gastar com a festa de formatura. Criada há uma semana, a vaquinha de Ana Beatriz teve 44 visitantes e um deles doou R$ 10 . ;Estou pedindo humildemente o dinheiro. Me considero modesta porque tem gente que pede muito mais;, acredita.
Como se autodenomina uma pedinte virtual, Ana Beatriz tem mais duas solicitações: R$ 40 para ir ao retiro espiritual organizado pela igreja que frequenta e R$ 1 mil para custear a viagem que pretende fazer ao Rio de Janeiro, ano que vem, para assistir ao show do U2. ;Eu sou muito fã deles e quando vieram ao Brasil, há três anos, eu não tinha idade para ir ao show. Ano que vem, vou de qualquer jeito;, afirma. Até agora, a estudante arrecadou R$ 15 com suas vaquinhas, mas não está desanimada. ;Acabei de criá-las e ainda pouca gente conhece esse novo jeito de arrecadar dinheiro;, defende ela.
É no site www.vakinha.com.br onde Ana Beatriz e milhares de brasileiros fazem seus pedidos. Criado em janeiro deste ano, por três gaúchos que queriam dar o presente ideal para amigos recém-casados, o site virou uma saída para quem quer angariar fundos independentemente da causa. ;O casal pedia dinheiro porque estava de mudança para a Espanha e começamos a fazer a tradicional vaquinha, coletando dinheiro e guardando no envelope. Foi quando percebemos como seria fácil e ágil fazer a arrecadação via internet e o saque direto da conta bancária;, lembra um dos criadores e diretor comercial do Vakinha, Fabrício Milesi.
Depois de reuniões entre os sócios para definir melhor a nova ferramenta, o Vakinha se mostrou um negócio original e divertido. Logo vieram as parcerias e o site entrou no ar pelo portal Uol. ;Tivemos a preocupação de criar uma ferramenta transparente e segura porque exige transações bancárias para o seu funcionamento;, esclarece Milesi. Um mês após a sua criação, o site já tinha 500 usuários cadastrados ; chamados de vaqueiros ;, e mais de 10% eram noivos pedindo dinheiro para o casamento. Hoje, são três mil vaqueiros que pedem dinheiro para tudo: comprar uma televisão, financiar o aniversário do avô, fazer uma cirurgia plástica, pagar a primeira prestação da casa própria, ajudar alguma instituição de caridade. Vale qualquer pedido de qualquer valor. E pode-se doar qualquer quantia também.
Fazer a vaquinha na internet é simples e de graça (veja o passo a passo abaixo). Segundo Milesi, o site recebe cerca de dois mil acessos por dia. As doações variam de R$ 30 a R$ 50.
O patinador Rafael Akio, 13 anos, pretende realizar seu sonho com o dinheiro da vaquinha virtual feita pela mãe, Andréia Alves da Fonseca, 34. Com três anos de experiência na patinação, ele foi convidado no mês passado a fazer parte da Seleção Brasileira da modalidade. O grupo foi convocado para o campeonato mundial que ocorre, entre 16 e 27 de setembro, na China. Mas o atleta, que atualmente não tem patrocínio, precisa levantar fundos para comprar a passagem de R$ 4,7 mil com destino à cidade chinesa de Haining.
Para levar o filho à China, Andréia não pensou duas vezes quando a irmã Stella da Fonseca, 23 anos, comentou sobre o site. Fez o cadastro e enviou mais de duas mil mensagens, via e-mail, pedindo contribuições. ;Preciso levantar esse dinheiro e vou conseguir;, aposta ela. Para sua surpresa, em poucos dias, foram debitados na conta virtual 23% do valor solicitado, equivalentes a R$ 1,1 mil. ;Sinal de que ainda há gente disposta a ajudar os outros. Recebemos doações de parentes distantes e amantes da patinação que moram no Rio de Janeiro;, diz.
Diante do resultado positivo da irmã, Stella e o noivo, Victor Loureiro, 28 anos, fizeram uma vaquinha para comprar a cama de R$ 3 mil que vai fazer parte da casa nova. Eles pretendem se casar no ano que vem, já têm algumas economias, mas toda ajuda é bem-vinda. ;Quem ama quer cama nova e quem é amigo de verdade vai nos ajudar;, brinca ela.
Onde surgiu
Fazer uma vaquinha - A expressão, que significa reunir pessoas e arrecadar dinheiro para um fim específico, surgiu na década de 1920, quando poucos jogadores de futebol recebiam salário. Naquela época, a torcida juntava dinheiro para recompensar o bom desempenho dos jogadores. O valor desse prêmio era associado ao jogo do bicho, uma espécie de loteria criada no fim do Império. Se conseguissem juntar 5 mil réis,
por exemplo, chamavam o prêmio de ;cachorro;, já que cinco era o número desse animal no jogo do bicho. Vinte e cinco mil, que era o prêmio máximo, era chamado de ;vaca;, daí surgiu a expressão ;fazer vaquinha;.
Recompensa pela honestidade
Um taxista argentino devolveu uma mala com 130 mil pesos (quase R$ 67 mil) a um casal de passageiros e recebeu, em doações, a mesma quantia após uma vaquinha feita por dois publicitários na internet. O caso aconteceu em abril deste ano. Na ocasião, o taxista Santiago Gori, de 49 anos, fez uma corrida curta na cidade de La Plata, a 60 quilômetros de Buenos Aires, com um casal. Após deixar os dois, pegou uma nova passageira. Ela avisou que havia uma mala no banco de trás. Gori abriu em seguida, disse que o dinheiro não era seu e devolveu cada nota ao casal distraído.
Surpresos com a história, principalmente pela reação dos passageiros ; que não deram nada de recompensa ao taxista ; , dois publicitários resolveram criar um site para arrecadar doações até que o valor chegasse à quantia encontrada na mala. A campanha continha também peças em outdoors e publicidade nos pontos de ônibus. Nicolas Diaco, de 24 anos, um dos publicitários, disse à época que a iniciativa iria permitir que as pessoas expressassem seus sentimentos. E funcionou.
A página http://devolvelelaguitaaltaxista.com teve 55 mil visitas e chegou ao montante de 131.411 pesos. Foram doados não só dinheiro como bebidas alcoólicas, queijo e camisas de futebol. Após a campanha, os donos da mala com 130 mil pesos resolveram dar 12 mil pesos (R$ 6,3 mil) para o taxista - dois dias depois da devolução.