Cidades

Pediatras do DF começam a rescindir contratos com os planos a partir de amanhã

Médicos planejam fazer protesto em todo o Brasil no próximo dia 27. Enquanto a mobilização dos profissionais ganha força, pais se queixam tanto dos médicos quanto do alto preço dos convênios

Helena Mader
postado em 14/07/2009 08:00
Os pediatras de Brasília apostam em uma mobilização nacional para convencer as empresas de planos de saúde a reajustarem os valores das consultas. A data escolhida para a manifestação contra os planos de saúde é 27 de julho, Dia do Pediatra. A pressão se inicia antes disso, porém. A partir de amanhã, os médicos começam a cancelar os contratos com os convênios. O 15 de julho havia sido definido como a data limite para uma possível abertura de negociação. Como não houve propostas, eles vão começar a rescindir os acordos com as empresas. Mas isso não ocorrerá de uma só vez. (1)

Maria e Luiz Carlos Costa, pais de Davi (no colo da mãe) e Lucas: família teme ser obrigada a cancelar o planoOs profissionais têm amanhã uma reunião na Sociedade Brasileira de Pediatria no Distrito Federal para discutir como se dará esse cancelamento. Mesmo que decidam pelo boicote definitivo às operadoras, eles não vão deixar de atender por convênios imediatamente. Isso porque é preciso avisar as empresas sobre o fim dos contratos com antecedência mínima de dois meses. Assim, antes de meados de setembro, nenhuma criança ficará privada de atendimento em emergências de hospitais privados ou consultórios.

No embate entre pediatras e operadoras de planos de saúde, que dura três meses, já houve um protesto no qual, por um dia, os convênios ; com exceção do do Senado ; não foram aceitos em consultórios nem em emergências particulares. O movimento ganhou força e quase todas as sociedades estaduais de pediatria aderiram à reivindicação de aumento no valor pago por consulta. Falta, agora, planejar como será feita a mobilização do dia 27. Para tanto, haverá reunião na semana que vem. Não está descartado boicote em todo o Brasil.

O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria no DF, Dennis Alexander Burns, está otimista quanto aos efeitos da ação: ;Com os pediatras unidos em todo o país, nosso poder de negociação será muito maior;.

Consultas
Os planos de saúde pagam hoje de R$ 24 a R$ 40 por consulta. Desse valor, ainda são descontadas as taxas de administração do convênio e os impostos. O que chega ao médico não alcança R$ 30. A reivindicação da categoria é que as empresas paguem R$ 90 pelas consultas nas emergências dos hospitais e R$ 120 pelos atendimentos em consultórios. Eles exigem ainda a remuneração pelas consultas de retorno e o pagamento das visitas extras a pacientes internados.

[SAIBAMAIS]As empresas alegam ser impossível reajustar apenas uma especialidade e afirmam que o repasse reivindicado pelos pediatras acarretaria em um grande reajuste nos valores das mensalidades pagos pelos clientes.

O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Dioclécio Campos Júnior, classifica o movimento dos médicos como uma ;reação contra a violência e o desrespeito das empresas;. Dioclécio conta que já procurou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para tratar do assunto. ;É preciso levar esse movimento para todo o Brasil e, felizmente, já tivemos muitas adesões;, destaca.

Mensalidades
Na hora de levar os filhos à consulta com o especialista, os pais sentem-se inseguros com relação à validade dos planos. ;A gente nunca sabe se vai ter que tirar mais dinheiro do bolso. Ligo para a empresa à qual sou conveniado antes de levar as crianças ao médico, mas nem eles sabem dizer qual será o preço cobrado;, relata o autônomo Luiz Carlos Costa, 38 anos, morador do Gama e pai de dois meninos, Lucas, 3, e Davi, 2.

A mãe dos garotos e mulher de Luiz Carlos, Maria Pereira Costa, 39 anos, reclama do valor da mensalidade do convênio. O casal paga quase R$ 900 para garantir o atendimento de qualidade à família. ;Muitos psicólogos e fonoaudiólogos já não dão o desconto para quem tem convênio. Se os pediatras também pararem de aceitar o plano de saúde, vamos cancelá-lo;, diz Maria.

O agente de viagens Guilherme Saldanha, 27 anos, e a mulher Elizangela Pereira Silva, 27, pais de Laura, 1, acreditam que o movimento dos pediatras serve apenas para pressionar as seguradoras. ;Se o médico quer ter essa liberdade toda, ele deve montar o próprio consultório. Em hospitais grandes, se eles aderirem a esse boicote absurdo devem ser demitidos;, opina Guilherme.

Laura tem consulta marcada com o especialista para o próximo dia 16 ; os pais estão apreensivos. ;Pagamos R$ 100 pelo plano empresarial. Para nós, é inviável investir R$ 250 em cada consulta;, lamenta o pai de Laura. ;Médicos sérios não prejudicam os pacientes dessa maneira tão injusta;, critica Elizangela.


1 ; ESCALONAMENTO
Os representantes dos pediatras pretendem começar a suspender os contratos com os planos de saúde que pagam menos aos médicos pelas consultas. Os nomes desses convênios devem ser informados depois da reunião marcada para amanhã. Atualmente, o piso é de R$ 24.


; Problemas no HUB

O caos no atendimento pediátrico em todo o DF afeta também o Hospital Universitário de Brasília (HUB), ligado à Universidade de Brasília (UnB). O problema da falta de pessoal, que compromete a qualidade dos serviços prestados à população, chegou ao Ministério Público Federal. Médicos, enfermeiros e técnicos que atuam no setor fizeram um abaixo-assinado para cobrar melhorias nas condições de trabalho. O documento foi enviado aos procuradores da República no DF. A direção do hospital garante que boa parte das reivindicações já está encaminhada e afirma que as falhas devem ser sanadas antes do fim deste ano.

A lista de reivindicações foi assinada por 93 profissionais da pediatria do Hospital Universitário de Brasília. O documento denuncia que o setor de atendimento ao recém-nascido tem equipamentos e recursos técnicos obsoletos e deteriorados e que não tem o número de pediatras necessário para atender as crianças. ;Diante das inúmeras atribuições que recaem sobre os responsáveis pelos plantões no pronto-socorro pediátrico, é possível imaginar a vulnerabilidade do exercício profissional que atinge os pediatras;, destaca o abaixo-assinado. A equipe do setor denuncia ainda que a enfermaria pediátrica comporta 27 leitos, mas que atualmente só existem 17 em funcionamento, por causa do déficit em recursos humanos.

Há vagas
Segundo o diretor do HUB, Gustavo Romero, uma das grandes dificuldades da unidade de saúde é conseguir pediatras no mercado brasiliense. ;Contratamos prestadores de serviço para plantões de 12 horas com uma remuneração de R$ 500 líquidos. É um valor semelhante ao oferecido pela iniciativa privada. Ainda assim, não temos conseguido preencher as vagas;, explica Romero. Hoje, o HUB tem 31 pediatras atuando na emergência e no ambulatório, além de 17 profissionais que atuam na área de medicina neonatal.

Sobre os equipamentos, o diretor da unidade garante que vários aparelhos destinados à pediatria já estão em processo de licitação. Somente neste ano, devem ser investidos R$ 442 mil na compra de aparelhos para o setor de atendimento a crianças. ;Conseguimos um suporte institucional para a compra de equipamentos. A UTI neonatal vai receber uma quantidade significativa desses aparelhos novos;, diz o diretor do HUB. Representantes do Ministério Público Federal se reunirão com membros da reitoria da UnB e dos médicos da pediatria para tomar conhecimento da situação real do atendimento infantil no hospital e, então, decidir que providências tomar.

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