Cidades

Brasiliense está menos endividado

Luciana Navarro, Mariana Flores
postado em 17/07/2009 08:33
Após quatro meses de alta, o endividamento do consumidor brasiliense em junho ficou abaixo do patamar registrado no mesmo mês em 2008, quando a crise econômica internacional ainda não dava sinais de se alastrar pelo país. No mês passado, a inadimplência ficou em 5,2% - o índice se refere à diferença entre o volume de incluídos e excluídos da lista de devedores - contra 5,3% verificados em junho de 2008. A diferença é pequena, mas é a primeira vez em cinco meses que ela é registrada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), administrado pela Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF).

Na opinião de especialistas, essa queda é um sinal de que os efeitos da crise estão menos intensos sobre a economia. "Estamos entrando em um cenário de recuperação, passou o susto inicial, a desconfiança do consumidor. E a tendência é de queda da inadimplência no segundo semestre, quando os consumidores limpam o nome para voltar a consumir", afirma o presidente da CDL, Vicente Estevanato.

A melhora se deve não só à retomada da economia, que freou o aumento do desemprego, como à melhora da oferta de crédito. Os bancos e o varejo voltaram a oferecer linhas de financiamento com prazos prolongados e juros menores. "A inadimplência vai recuar porque o crédito aumentou e as contratações voltaram ou pelo menos pararam de cair. A oferta de crédito aumenta a capacidade de pagar dívidas", afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira.

Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa Experian, fala sobre a inadimplência de pessoa física



Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), sobre inadimplência




Dentro da Bíblia
Ele explica que o aumento da inadimplência nos últimos meses - o índice chegou a bater em 5,7% em março - se deu pela elevação do desemprego e da restrição de crédito. "Quem não ficou desempregado passou a ter dificuldade de conseguir crédito para complementar a renda, como as compras no crediário ou outro tipo de financiamento", lembra Oliveira.

Os lojistas sentiram os efeitos do endividamento. A comerciante Ângela Xavier, do New Look Day Spa, acumulou perdas em função dos calotes de seus clientes no período. Pelas suas estatísticas, desde janeiro a inadimplência na loja subiu 50% se comparada com o mesmo período do ano passado. Atualmente, tem em mãos R$ 12,7 mil em cheques sem fundo. Ângela tem recorrido às orações e tenta não fazer a segunda apresentação dos documentos ao banco para evitar que o consumidor fique com o nome sujo. Quem não aparece para quitar a dívida vai parar dentro da Bíblia. Para não ter tantos problemas, a loja suspendeu a venda com cheques e opta por pagamentos em dinheiro ou mesmo em cartão de crédito. Quando renegocia a dívida, Ângela não cobra juros nem multa, quer apenas receber o valor devido pelos clientes. %u201CSabemos que as pessoas vivem momentos difíceis e por isso tentamos negociar%u201D, afirma.

Cautela

Apesar do aumento na oferta de crédito, os consumidores têm que ter cuidado para não entrar para o universo de devedores. Somente em junho, 138.606 moradores da capital federal tiveram o nome incluído no cadastro de inadimplentes. Dos que sujaram o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), a maioria é mulher. Elas representaram 50,5% do total. %u201CA pessoa tem que organizar seu orçamento doméstico, evitar gastar mais do que o salário ou se endividar a longo prazo. O pior da crise já está passando, mas isso não quer dizer que não é preciso ter cuidado%u201D, aconselha Miguel de Oliveira.
Em contrapartida, outras 131.755 pessoas limparam o nome. Mas quem conseguiu quitar as dívidas deve se precaver. %u201CAinda estamos em um período de recuperação. A economia não está em um momento de crescimento. Quem já tem dívida deve prioritariamente tentar negociar e não fazer nova dívida. Além disso, as pessoas não devem entrar no cheque especial. Ainda que os juros estejam caindo, eles continuam muito altos%u201D, alerta o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida.


Calote em queda

Evolução do índice de inadimplência no Distrito Federal (em %)*:
Jan/08 4,9
Fev/08 5,1
Mar/08 5,3
Abr/08 4,8
Mai/08 4,9
Jun/08 5,3
Jul/08 5,4
Ago/08 5,2
Set/08 5,3
Out/08 4,9
Nov/08 4,7
Dez/08 4,6
Jan/09 4,8
Fev/09 5,2
Mar/09 5,7
Abr/09 5,3
Mai/09 5,1
Jun/09 5,2

*O índice se refere à diferença entre o volume de incluídos e excluídos do banco de dados.
Fonte: Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), administrado pela Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação