postado em 18/07/2009 08:23
Quando o mineiro Camilo de Castro, 72 anos, veio para o Distrito Federal, em 1981, ele escolheu o Incra 8, área rural de Brazlândia, para morar. O militar aposentado das Forças Armadas buscava sossego em uma fazenda onde pudessse plantar verduras e frutas. Ao chegar à região, ele se deparou com uma área sem abastecimento de água e esgoto. O chão ainda era de terra vermelha e muitos produtores rurais foram atraídos para o local, por causa dos lotes grandes disponibilizados pelo governo.No próximo dia 25, o Incra 8 completa 47 anos. Para comemorar a fertilidade dessas terras, o movimento turístico que possibilitou a instalação de estabelecimentos comerciais e a urbanização da cidade nesse quase meio século, a associação dos moradores organizou uma festa antecipada (confira a programação). As variadas atrações prometem agradar a pessoas da comunidade de todas as idades. O bolo, que será cortado no domingo, foi feito por meio de doações da comunidade.
Da época da fundação à atual, a paisagem da cidade mudou muito. O local está quase todo urbanizado. Mas a principal atividade que faz esse espaço se desenvolver ainda é a agricultura. As chácaras se concentram ao redor da cidade, pouco afastadas do centro. A região administrativa à qual o Incra pertence abastece o Distrito Federal com 60% de todos os hortifrutigranjeiros encontrados na capital da República. Além disso, de acordo com pesquisas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater), 65% da reserva de água do DF vem da Bacia do Descoberto, localizada em Brazlândia.
As quadras do Núcleo Rural Alexandre Gusmão dividem-se em Incras numerados de seis a dez, sendo que somente o Incra 8 encontra-se totalmente urbanizado. Atualmente, o núcleo urbano 8 tem área de 65,3 hectares, num total de 436 lotes, com, aproximadamente, 5 mil habitantes. A região é pacata. Durante o dia, há pouco barulho nas ruas, o que dá ao Incra 8 a aparência de cidade de interior. A maioria dos moradores ainda tem de se deslocar ao Plano Piloto e a Taguatinga para trabalhar.
A maior atração turística nessa localidade é a própria natureza. Há diversas cachoeiras, algumas dentro de hotéis-fazendas e outras com acesso gratuito. O Incra 8, porém, cresceu e chegaram também os problemas da cidade grande. O posto médico do local, o único antes de Brazlândia, a 11km, não comporta mais toda a população. Há apenas um clínico-geral para atender os habitantes.
Entre as reivindicações da Associação de Moradores do Incra 8, está a construção de espaços de lazer. Há apenas uma praça e duas quadras de esporte, e todas precisam de reforma. ;Queremos construir um ginásio, um centro de convivência e revitalizar os espaços de lazer. Na questão de segurança, queremos trazer um quartel dos bombeiros para cá, e já mandamos pedidos para o governo aumentar o efetivo de policiais;, relata o prefeito comunitário, Silvano Marques, 41 anos.
Produtividade
Na Chácara Coelho de Ouro, no Incra 8, seu Laurindo, como é conhecido pela vizinhança, planta de quase tudo. Tem quiabo, tangerina, maxixe, jiló, mamão, abacate e alface, entre muitas outras variedades. Toda a produção é desenvolvida sem agrotóxicos, ou seja, os alimentos são orgânicos. Laurindo aproveita o adubo natural produzido pelos animais para fertilizar a terra. Toda quinta-feira e sábado, ele vai à Central de Abastecimento do DF (Ceasa), antes de o sol nascer, para vender os frutos do trabalho rural. ;Tenho várias encomendas de restaurantes de todo o DF. As pessoas também compram para levar para casa. Sai um pouco mais caro, mas é mais gostoso e mais saudável;, garante.
O agricultor vende, por semana, quatro caixas de produtos, cada uma com 48kg de hortaliças frescas. A oferta mais barata são as folhas, como alface e couve, que saem por R$ 1,50 o maço. A fruta mais cara é a jaca, comercializada a R$ 40, a maior peça. O pacote com cinco espigas de milho orgânico custa R$ 2,70; o mesmo produto, quando cultivado com agrotóxico, sai por R$ 2. Laurindo, com toda sabedoria, recomenda: ;O alimento que sai daqui leva saúde à mesa de pessoas de todo o DF, por uma diferença de preço muito pequena;. E destaca a alegria de viver no local: ;O Incra 8 é uma das melhores terras que já vi para cultivar. Quando cheguei aqui, sabia que seria feliz;.