Luciana Navarro
postado em 18/07/2009 08:26
Foi-se o tempo em que as lojas de roupas de Brasília vendiam apenas peças produzidas no Sudeste, principalmente em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Cada vez mais, as vitrines mostram produtos locais, desenhados e feitos em fábricas do Distrito Federal. Isso ajuda a movimentar a indústria do vestuário que, atualmente, fatura R$ 480 milhões por ano. A cifra ainda é pequena, mas tende a crescer à medida que a população se sente incentivada a adquirir mercadorias locais e não tem mais interesse apenas nas criações de outros estados.As vendas melhoraram tanto que proporcionaram uma transformação do mercado de vestuário no DF nos últimos cinco anos. ;A atuação do setor melhorou muito e hoje grande parte das indústrias de confecção de moda feminina e masculina tem ponta no varejo;, afirma Márcio Franca, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF (Sindiveste). As empresas estão mais especializadas e viraram não apenas fábricas, mas marcas que, aos poucos, ganham fama não apenas no varejo local como também no nacional.
Isso, obviamente, profissionaliza o trabalho e possibilita a contratação de outros trabalhadores para as mais diversas áreas das empresas. ;Há cinco anos, os empresários faziam de A a Z dentro da empresa. Hoje, contratam profissionais formados e com cursos técnicos para ajudar. Com isso, os empresários, que cuidavam de todos os estágios da produção, agora podem observar o mercado e a concorrência;, detalha Franca.
Preconceito
Além de trabalho árduo e de criatividade, os donos de empresas brasilienses precisaram de uma boa dose de perseverança para conseguir vencer o preconceito do consumidor da capital federal. Era comum as marcas locais esconderem o local de suas fábricas dos clientes para não afastá-los. ;Por muitos anos, as lojas omitiam que eram de Brasília e falavam que traziam as roupas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais;, revela Franca. Lentamente, no entanto, as marcas mostraram sua qualidade e conquistaram a clientela, que acabou se fidelizando às empresas locais.
Na Jukaf, por exemplo, as consumidoras são tratadas quase todas pelo nome. Isso porque vão com frequência à loja para escolher seus modelos prediletos. A fábrica da grife foi aberta antes mesmo da loja no início de 1984. Na época, Marli Rodrigues de Lima, dona da marca, revendia roupas trazidas de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. ;Os tamanhos e cores que eu trazia acabavam e eu resolvi fazer as roupas para vender;, conta. A procura foi tão grande que ela inaugurou a loja meses depois.
Hoje, tem três pontos de venda e emprega 50 pessoas, sendo 33 na fábrica. O empreendimento exige muita dedicação não apenas dela, mas também dos funcionários. A maioria foi treinada dentro da indústria. ;A mão de obra é cara, escassa e precária;, reclama. Uma solução para esse problema seria abrir uma fábrica fora do DF, o que reduziria os custos em pelo menos 30%, segundo cálculos de Marli. Mesmo com uma indústria mais distante, ela não pretende fechar a unidade do Guará. ;Seria uma forma de ampliar a empresa;, revela.
Vendas para fora
A Jukaf se consolidou ao longo dos 25 anos de existência e extrapolou as fronteiras do DF recentemente graças às vendas por atacado. ;Estamos fazendo uma experiência vendendo a empresas do Rio de Janeiro;, conta Marli. A situação começa a se inverter e agora é a população carioca que adquire peças de Brasília.
A Avanzzo, outra marca local, também vende para os mercados fora de Brasília. A empresa acaba de fechar a venda de alguns itens da coleção Verão 2010 para lojas de São Paulo e Paraná. Com 60% da produção no DF, a grife emprega 103 funcionários, sendo 38 na produção. ;Temos parceiros em João Pinheiro, São Paulo e Rio de Janeiro, mas toda a parte de criação, modelagem e corte é feita em Brasília;, afirma André Naegele, proprietário da grife. O empresário considera fundamental manter a produção em Brasília.
Empresas como essas ajudam a incrementar o Produto Interno Bruto (PIB) local, hoje estimado em R$ 100 bilhões. A indústria responde por 10,2% desse total. As de transformação, que englobam as fábricas de roupas, somam 1,7% do valor global. Atualmente, existem cerca de 800 confecções que empregam aproximadamente 10 mil trabalhadores. A expectativa do setor é de aumento na participação do PIB.
Segundo pesquisa feita pelo Sindiveste no varejo local, a qualidade percebida nos produtos comprados e produzidos fora do DF foi considerada entre ótima e boa por 97% dos consumidores entrevistados. O resultado mostra que os clientes sabem que fora do DF o padrão das mercadorias é alto, o que força as empresas locais a se adequarem a esse nível de exigência. Por isso, muitas empresas contam com ajuda de especialistas em vitrines e estilistas. São profissionais que prestam consultoria e ajudam na tomada de decisão das grifes. ;Alcançamos grande reconhecimento do consumidor local e nacional em virtude da qualidade, maior valor agregado e da sintonia com as tendências e desejos de consumo do mercado;, avalia Franca.