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Colecionadores de carros enfrentam problemas para guardar os veículos

postado em 18/07/2009 08:50
Se encontrar vaga para um carro em Brasília é difícil, imagine a situação de quem tem mais de 10, 15, 20 veículos. Para driblar o problema, colecionadores de carros antigos guardam os automóveis em estacionamentos pagos de prédios comerciais. Assim, as raridades ficam protegidas contra sol, chuva e aproximação de curiosos. Os 150 sócios registrados no Veteran Car Club da cidade reúnem um acervo de 500 carros antigos. Parte deles fica nas garagens dos proprietários, mas muitos passam dias em estacionamentos pagos. A falta de espaço e de segurança leva os colecionadores a adotar o serviço. O empresário Paulo Afonso de Sousa, 57 anos, tem três vagas alugadas em uma garagem subterrânea do Lago Sul. Ele reveza o espaço entre os cinco exemplares da coleção %u2014 os outros dois ficam em casa para manutenção e limpeza. %u201CTem segurança e praticidade. Eu venho a qualquer hora para tirar o carro. E aqui circula pouca gente, são mais curiosos e colecionadores%u201D, disse. O serviço mensal sai a R$ 80 por carro %u2014 o valor normal é R$ 120, mas o dono faz desconto para os veículos antigos. O investimento compensa possíveis prejuízos com arranhões e roubo de peças, caso o carro ficasse ao relento. O emblema da Ferrari 348 GTS de Afonso, por exemplo, é bastante cobiçado. %u201COs meninos adoram o cavalinho (símbolo do carro), arrancam o escudo. Tem que prestar atenção%u201D, alertou o empresário. Afonso comprou a Ferrari amarela em 1999 em perfeito estado (o antigo dono guardava o carro na sala de casa). Ela tem todas as peças originais, inclusive o jogo de ferramentas e o macaco. O colecionador costuma passear com o carro aos finais de semana, mas nunca à noite. A Ferrari é vizinha de vaga com o Ford Cobra 1976, uma réplica construída no Brasil com motor norte-americano original, e com um Ford 29. Os três saem da garagem para manter a bateria carregada e o motor funcionando. %u201CNão pode deixar muito tempo parado. Toda semana levo um para tomar sol e lavar%u201D, explicou Afonso. O interesse do empresário pelos carros começou na juventude, quando ele morava nos Estados Unidos. Já em Brasília, ao passar no vestibular, teve a opção de escolher um carro de presente. No lugar de um modelo esporte, pediu uma caminhonete e mudou a aparência dela com peças de sua preferência. Para colecionar carros em Brasília, é preciso ter um bom número de vagas dentro de casa ou dinheiro para bancar aluguel de garagens particulares na cidade, já que os espaços em área pública estão sempre tomados por veículos. Quem mora em apartamento no Plano Piloto, por exemplo, costuma ter direito a uma ou duas vagas de garagem %u2014 acima do subsolo, é difícil conseguir uma área livre. Só na região central da cidade há um déficit de 30 mil vagas. Preço salgado As garagens de shoppings centers eram a solução mais popular entre os colecionadores, mas os altos preços afastaram a clientela %u2014 a mensalidade em um desses estacionamentos varia entre R$ 200 e R$ 360. A saída foi levar os veículos para estacionamentos cobertos de prédios comerciais. A garagem do centro comercial Deck Brasil virou atração no bairro com o aumento na quantidade de raridades abrigadas por lá. Das 90 vagas disponíveis, 70 estão reservadas por colecionadores. A intenção do administrador do estacionamento, Cléber Paz Landim, é atrair ainda mais veículos para que o espaço seja uma exposição permanente. Quem passa pelo local vê os carros antigos e entra para matar a curiosidade. Entre eles, estão algumas das paixões do funcionário aposentado do Banco Central Luiz Felippe Gonçalves, 67 anos, o Felipão. Ele cuida de um Fusca 1970, um Landau 1977 e uma Mercedes Benz modelo 560 de 1987. Além da segurança contra roubo de peças e do veículo, ele optou pelo serviço para garantir a integridade dos carros. %u201CColecionador não deixa carro no sol. O sereno mistura com sol e poeira e estraga a pintura%u201D, afirmou. Felipão já teve uma peça de carro quebrada dentro do estacionamento de outro shopping e foi ressarcido. O retrovisor de um Ford 29 quebrou com o movimento intenso de visitantes e ele precisou de 150 dólares para instalar outro. %u201CA grande vantagem de deixar no estacionamento é a segurança. A maioria fica com uma capa para evitar de ficarem mexendo ou arranharem%u201D, disse o aposentado. Um machucado no pé tem impossibilitado Felipão de dirigir, mas ele não deixa os carros no abandono. Manda o motorista ir à garagem pelo menos três vezes por semana para ligar o motor e não estragar a bateria. O gosto de Felipão pelos carros antigos vem de família. Ele cresceu com os modelos Ford do pai, que trocava de veículo com frequência. %u201CPassa a correr ferrugem na veia e você não consegue parar%u201D, assumiu o colecionador. A diversão do aposentado é encontrar peças originais e arrumar carros abandonados no ferro velho. É o caso do Fusca 1970, que teve teto, portas e bancos traseiros retirados para criar uma versão mini do modelo, resultado de oito meses de trabalho. O exemplar já está reservado para os netos de Felipão, que não vende o automóvel por dinheiro algum. %u201CNinguém tem um carro desse aqui em Brasília. Quando eu passo, o pessoal olha, pede para fotografar%u201D, comentou Felipão. O veículo já passou noites em vagas de prédios residenciais e de um shopping na octogonal.

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