Cidades

Ônibus matam cada vez mais no DF

Em 2008, coletivos se envolveram em 704 acidentes, que tiraram a vida de 50 pessoas. Os números, do Detran, superam os de 2007

Adriana Bernardes
postado em 20/07/2009 08:16
As pistas parecem pequenas para os ônibus. Eles mudam bruscamente de direção, boa parte das vezes sem ao menos sinalizar. Ignoram as baias e param no meio da rua para o embarque dos passageiros. Faixa de pedestre, sinais de trânsito e velocidade regulamentada parecem insuficientes para impor limites. Se do lado de fora os condutores de carros menores se sentem acuados, a situação é ainda pior para quem está dentro dos coletivos. Veículos lotados, freadas bruscas e pressa para arrancar expõem os passageiros a riscos. E não são poucos. Os ônibus estão matando mais.

Em 2008, os coletivos se envolveram em 704 acidentes. O saldo foi de 1.013 feridos e 50 mortos. Para cada grupo de mil coletivos ocorreram 6,5 acidentes fatais, um aumento de 18,1% em relação a 2007. O Correio teve acesso com exclusividade às estatísticas preliminares sobre acidentes com ônibus e as infrações de trânsito mais flagradas por equipamentos eletrônicos, agentes do Departamento de Trânsito (Detran) e do Batalhão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (BPTran). O relatório revela que, em números absolutos, o percentual de mortos é 28% maior que o mesmo período de 2007 e, o de feridos, 11,3%.

Clique para ampliarPortador de necessidades especiais, o servidor público Luiz Adilson Oliveira, 39 anos, desconhece as estatísticas, mas sabe de cor as atitudes de motoristas que, na opinião dele, contribuem para as tragédias. ;Eles não respeitam ninguém. Idoso e deficiente físico então, nem se fala. Correm muito e não esperam você entrar no ônibus e já arrancam;, enumera. Oliveira conta ter caído pelo menos três vezes dentro do coletivo, a última delas na W3. ;Uma vez estava sentado no banco da frente, o motorista freou tão forte que passei por cima do cano de proteção e caí nas escadas. Quando abri os olhos, os outros passageiros tentavam me levantar;, detalha.

Arrastada
Muitos casos de feridos sequer entram para as estatísticas porque dependem da queixa da vítima. E nem sempre as pessoas procuram as delegacias ou os órgãos responsáveis pela gestão do transporte público para oficializar a denúncia. Foi o caso da dona de casa Ivonete Sales dos Santos, 59. No ano passado, ela ficou presa à porta traseira do veículo e [SAIBAMAIS]acabou arrastada por cerca de 5 metros. O motorista só parou porque as pessoas que estavam na parada começaram a gritar. ;Quando eu descia o último degrau para colocar o pé no chão, o motorista arrancou. Só deu tempo de agarrar naquele ferro. Os dedos dos meus pés ficaram sem a pele. Fui à farmácia e fiz curativo. Depois, cuidei em casa;, conta.

Com o sobrinho de Ivonete Santos, o caso foi mais grave. Em 1998, o técnico em automação bancária Rodrigo Sales dos Santos Leandro, 28 anos, caiu do ônibus no momento em que o veículo fazia uma curva. O acidente foi perto do Memorial JK, no Eixo Monumental. Rodrigo diz ter ficado inconsciente por quase 15 minutos. Socorrido ao Hospital de Base de Brasília (HBDF), os exames constataram traumatismo craniano leve com formação de três coágulos de sangue. Ele não precisou passar por cirurgia. Mas teve de tomar remédio controlado por seis meses.

Rodrigo Sales conta que a ocorrência foi registrada na 3; Delegacia de Polícia (Cruzeiro). ;Me perguntaram se eu queria registrar queixa contra o motorista. Eu não quis. Se fosse o caso, denunciaria à Viplan. A porta do ônibus abriu porque estava com defeito;, diz. A estudante de pedagogia Amanda Souza, 23 anos, quebrou o pé num acidente que, segundo ela, foi provocado por um condutor de ônibus. ;Ele nem parou para ver se estávamos vivos;, ressalta.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação