Adriana Bernardes
postado em 20/07/2009 08:20
Não bastassem os ônibus velhos, os atrasos e o descumprimento de itinerário, os condutores ; responsáveis também pela segurança dos que transportam ; são flagrados em infrações de toda natureza. Diariamente, 42,2 veículos são pegos pela fiscalização humana ou eletrônica descumprindo algum artigo do Código de Trânsito Brasileiro (CBT). Das 8.320 multas aplicadas este ano, 3.297 foram por excesso de velocidade e outras 3.027, por avanço de sinal.
No Departamento de Trânsito (Detran), existem 7.509 veículos registrados. Desses, 2,6 mil integram o sistema de transporte público no DF. As estatísticas a que o Correio teve acesso não detalham quantos acidentes ou quantas multas foram aplicadas a esses veículos. Há uma semana, a reportagem solicitou ao secretário de Transportes, Alberto Fraga, por e-mail, o levantamento sobre o número de acidentes fatais em que os ônibus do transporte coletivo estiveram envolvidos, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno.
Na manhã da última sexta-feira, o Correio foi às ruas ouvir o que pensam os usuários e flagrou algumas das infrações mais comuns. No centro de Ceilândia, numa das avenidas mais movimentadas, os motoristas do transporte coletivo furaram o sinal vermelho e pararam sobre a faixa de pedestre. Em muitas paradas de Ceilândia Sul, Taguatinga Centro e Ceilândia Centro, é comum o condutor ignorar o recuo destinado ao embarque de passageiros e parar na faixa de rolamento, obrigando os outros carros a frear e desviar.
Baias
Também há os casos em que as baias são muito pequenas e cabem no máximo dois veículos parados. Quem chega depois, fica no meio da rua, enquanto passageiros correm para não perder a condução. O que mais incomoda a diarista Rosenilda Reis, 44 anos, é o excesso de velocidade. A moradora do Setor de Mansões de Sobradinho já caiu dentro do ônibus com o filho de dois meses no colo. ;Bati com a cabeça na roleta e as costas no chão. Senti tanta dor que achei que fosse morrer. Meu filho, hoje com cinco anos, teve um corte na perna. Fiquei indignada. O pior é que continua tudo igual;, lamenta.
No último dia 10, a estudante a Amanda Souza também se feriu num acidente provocado por um motorista de ônibus. Segundo ela, o coletivo estava parado e saiu de vez. A motorista do Palio, que vinha atrás, teve que frear bruscamente. ;Meu namorado e eu estávamos atrás do Palio, de moto. Ele não conseguiu parar e bateu na traseira;, diz.
O que eles dizem
SINDICATO DAS EMPRESAS DE ÔNIBUS
Por meio da assessoria de imprensa, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo (Setransp), Wagner Canhedo Filho, acusa o GDF de promover a indústria das multas. Cita como exemplo as multas por excesso de velocidade, que, na sua opinião, ocorrem em função dos diferentes limites de velocidade em uma mesma via. Diz ainda que é humanamente impossível uma pessoa não ser multada em Brasília por conta disso.
[SAIBAMAIS]Em relação ao aumento dos acidentes envolvendo os ônibus, Canhedo Filho, por meio da assessoria de imprensa, destacou que o aumento da quilometragem rodada dos ônibus do transporte coletivo eleva a possibilidade de acidentes. Em relação aos atropelamentos de pedestres por ônibus, Canhedo Filho ressalta que o sindicato não tem conhecimento de que nenhum ônibus tenha subido na calçada e atropelado pedestre. Para ele, portanto, os índices possivelmente refletem desatenção dos pedestres. O executivo finaliza dizendo que seria importante que o Detran aplicasse os recursos das multas em campanhas educativas, inclusive de pedestres, que muitas vezes são os responsáveis pelos acidentes.
SINDICATO DOS RODOVIÁRIOS DO DF
O presidente do Sindicato dos Rodoviários do DF, João Osório da Silva, ameniza a responsabilidade dos motoristas nos acidentes e infrações de trânsito. Diz que, em muitos casos, o radar está mal posicionado. Como exemplo, ele cita o equipamento instalado no Eixo Monumental, perto do Tribunal de Justiça do DF. ;O pardal fica em cima do ponto de ônibus. O semáforo está verde e o motorista vive a angústia de passar e ficar parado no meio do cruzamento aguardando o ônibus sair da parada para terminar de chegar. Se nesse intervalo, ficar vermelho, é como se ele tivesse furado o sinal;, exemplifica.
Sobre as queixas de excesso de velocidade e impaciência do motorista que não espera o passageiro embarcar, João Osório atribuiu parte da responsabilidade ao DFTrans que, segundo ele, estipula um tempo muito curto para cumprimento dos trajetos. Com isso, o motorista é pressionado a correr e não pode dar a atenção necessária ao usuário. ;Muitas vezes, arranca bruscamente, não dá tempo suficiente para a criança, os idosos e a grávida se acomodarem. A empresa não faz adequação do tempo itinerário porque precisa aumentar frota. Aí aumenta custo. Para não ter isso, pressiona o motorista a fazer percurso mais rápido;, afirma.
TRANSPORTES URBANOS DO DF (DFTrans)
O diretor técnico do DFTrans, Cristiano Dalton Mendes Tavares, diz que o aumento dos acidentes fatais e das infrações cometidas revelam que o motorista de ônibus está mais imprudente. ;Avanço de sinal, excesso de velocidade, parar sobre a faixa, não usar cinto de segurança são infrações que dependem exclusivamente da consciência e prudência do condutor;, avalia.
Tavares atribui ao Sindicato dos Rodoviários a responsabilidade pela insatisfação dos usuários com o transporte público. Segundo ele, a entidade de classe ;dá guarita a todo tipo de barbaridade;. Ele citou dois exemplos: o de um motorista flagrado alcoolizado e outro que trafegava a 110km/h. ;Notificamos as empresas e eles foram demitidos. Nos dois casos, o sindicato fechou a garagem e não permitiu que nenhum ônibus saísse até que os dois motoristas fossem readmitidos;, citou.
Segundo Tavares, casos assim já foram denunciados aos ministérios Público e do Trabalho, mas nada foi feito. O governo está investindo em parcerias para promover cursos de reciclagem do condutor. Espera, com isso, que o cidadão seja melhor tratado. Além disso, as câmaras de segurança ; que evitarão assaltos ; servirão também para que o governo monitore as atitudes do motorista. Em 60 dias, o contrato com a empresa que vai fornecer os equipamentos deve ser assinado.
Multas
Somente este ano, 8.320 infrações foram emitidas pelo Departamento de Trânsito (Detran) e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e foram cometidas por motoristas de ônibus
Apressados
Do total, 3.297 multas foram por excesso de velocidade, 3.027, por ultrapassagem de sinal vermelho e 409, porque o condutor do coletivo estava sem o cinto de segurança, o que é proibido por lei
Na faixa
Das infrações, 348 são para motoristas de ônibus que pararam sobre as faixas de segurança destinadas a pedestres, quando da mudança do semáforo, impedindo assim a travessia das pessoas