postado em 20/07/2009 08:50
Apita o árbitro e a bola começa a rolar na área. ;Toca, toca a bola!”, gritava a impaciente torcida ainda nos primeiros minutos de jogo. Não se trata de mais uma partida de futebol, dessas transmitidas pela televisão, em que os atletas jogam em cima de um gramado. Em meio à poeira e em um chão repleto de pequenos buracos na QI 18 do Guará I, ontem, quatro times amadores levaram adiante a tradição, não menos glamourosa, que começou em 1976: competir em um campo de terra, sair sujo da cabeça aos pés e ainda comemorar quando o resultado é a vitória do time adversário.O chamado Torneio do Barrão(1) começou no dia 3 último com a participação de 12 equipes e 240 atletas. Pelo menos 300 pessoas passaram pelo local para assistir a final do campeonato. Nos primeiros dez minutos da disputa pelo terceiro lugar, veio o primeiro gol da equipe Lá Vai Bola, representante da QI 20, em cima do KLP (Kachaça, Limão e Pinga), da Quadra 38 do Guará II. A revanche veio três minutos depois, com um chute do certeiro ao gol do meio de campo de camisa número 11, Willian da Silva e Sá. Enquanto jogava, o rapaz, 23 anos, que já treinou no Corinthians, era cobiçado pelo empresário Bolivar Marca, representante do The Strongers, clube de futebol da Bolívia, país vizinho. ;Venho observando ele há algum tempo e pretendo convidá-lo para jogar fora do Brasil. Acho que é um jogador com futuro promissor;, disse o olheiro boliviano.
A habilidade de Willian com a bola foi confirmada durante os 50 minutos de jogo. Mesmo sendo marcado constantemente, ele emplacou dois dos três gols do KLP, mas não se vangloriou por isso. ;O outro time estava com dois jogadores a menos. Ficamos em vantagem, porque o jogo estava desproporcional;, reconheceu.
Vibração
A cada gol, uma vibração diferente vinha da torcida formada não apenas por adultos, mas também por crianças, moços e moças de cabelos grisalhos. A maioria acompanha o campeonato desde quando ele começou, na década de 70. ;É uma competição muito saudável, sem contar que é uma diversão para toda família e lazer para os moradores do Guará;, avaliou o comerciante Kadal Holanda Oliveira, 43 anos. ;É o contraponto da violência. A gente fica feliz porque as pessoas participam todos os anos com muita alegria;, ressaltou o administrador do Guará, Joel Rodrigues.
Na disputa pelo primeiro lugar, estavam o Bragantino, representando o Setor Lúcio Costa e o time Parte Negra, da QI 22. A tensão entre os atletas e a pressão em cima dos competidores era constante.
Camisa suada
O goleiro Hélio Tássio de Queiroz Monturil, 48 anos, que o diga. No final do segundo tempo Tassinho, como é conhecido, segurou uma bola chutada no canto do gol. Precisou se jogar no terrão para não deixá-la entrar. ;Da próxima você não pega não;, agourava um torcedor.
Depois de muito suar a camisa, o Bragantino levou a melhor com três gols, um a mais que o adversário. E inúmeros são os talentos descobertos no campo de terra. O padeiro e centroavante Eder Ferreira de Souza, 28 anos, está de mudança para a França. ;Ainda não sei em qual time irei jogar, mas a previsão é de ir ainda no próximo mês;, contou o morador do Jardim Ingá, em Luziânia (GO). Ele também marcou dois gols para o Bragantino, vencedor do campeonato que terminou em clima de festa. Quem perdeu, abraçou os vitoriosos sem rancor e ergueram os troféus com sorriso largo no rosto, como manda a tradição.
1 - TORNEIO DO BARRÃO
O primeiro torneio ocorreu em 1976. Começou com uma brincadeira organizada pelos moradores. De 1990 a 2000, o campo ficou abandonado, mas o evento voltou com toda força em 2001, com a participação de diversas quadras da cidade.