postado em 21/07/2009 08:14
Alerta nas áreas verdes do Distrito Federal. Com a época de seca, as ocorrências de queimadas nos locais de preservação ambiental são mais frequentes e se tornam muito mais devastadoras. De abril a julho deste ano, o Corpo de Bombeiros prestou 514 atendimentos relacionados a esse tipo de incêndio. Apesar de o número ser bem inferior em comparação ao mesmo período do ano passado, no qual foram registradas 1,5 mil ocorrências, os brigadistas estão em vigilância e pedem cuidado à população. Maus hábitos, como jogar ponta de cigarro no chão ou utilizar fogo, sem orientação especializada, para limpar terrenos, devem ser abolidos.A redução no número de ocorrências pode ser explicada pela mudança climática que vem ocorrendo nos últimos anos, além do aperfeiçoamento do trabalho preventivo de combate às queimadas. Há 10 anos, a época de seca cessava em meados de setembro. Hoje, a estação termina no início de outubro. A impressão é de que o tempo de seca está maior, mas é o período chuvoso que está se prolongando. Prova disso é que há dez dias ocorreram pancadas de chuva em algumas regiões do DF. O calendário oficial climático não é mais o mesmo, segundo o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Manuel Rangel. ;O inverno começa com a seca, mas o período crítico será a partir de agosto, quando se registram os menores índices de umidade do ano, até outubro. Há um deslocamento do calendário de 20 a 25 dias;, afirma ele.
Neste ano, a estiagem começou em junho. Até agora, a vegetação não está totalmente ressecada e não houve registro de incêndio relevante, mas isso não significa que o brasiliense está livre do risco das queimadas. Inclusive, o principal causador dos incêndios nas áreas de preservação ambiental localizadas próximas às áreas urbanas ; como é o caso do Parque Nacional de Brasília, que é rodeado por ocupações ; é o próprio homem. De acordo com o coronel do 4; Batalhão Florestal do Corpo de Bombeiros, Delfino Guedes, é comum encontrar pedaços de vidro ou pontas de cigarros perto das áreas de preservação.
O hábito de fazer queimadas de plantio ou de lixo sem orientação prévia do Corpo de Bombeiros e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é outro grande provocador dos incêndios, além de ser crime (veja O que diz a lei). ;Todo fogo no meio da mata tem que ser feito com cuidado, observando a direção e a intensidade do vento. Esse tipo de ação tem que ser comunicada aos órgãos responsáveis para evitar que percam o controle;, afirma Guedes.
Além do Parque Nacional de Brasília, as áreas que estão na mira dos brigadistas são a Estação Ecológica de Águas Emendadas, o Jardim Botânico, a reserva do IBGE e a fazenda Água Limpa ; as três ultimas são próximas umas das outras. ;É o foco da nossa preocupação. A área das Águas Emendadas, em Planaltina, não queima há seis anos. A vegetação no local está densa e isso é preocupante porque pode queimar com mais facilidade;, justifica o coronel. Para evitar a tragédia, no mês passado, foi realizado o aceiro negro(1) nas bordas da estação.
1 - PREVENÇÃO
É a queima de uma faixa de 20 metros de largura da vegetação que cerca a área para retirar material combustível do entorno da unidade e evitar que um incêndio se propague.
Fogo provoca morte e destruição em cadeia
Os danos causados ao meio ambiente pelas queimadas podem gerar uma cadeia de perdas irreparáveis. O fogo mata animais e plantas, e algumas espécies não rebrotam, como o ipê-roxo. Ao mesmo tempo, empobrece o solo devido à perda de nutrientes, além de destruir a camada protetora de folhas e galhos secos. Caso chova no local onde não há mais essa camada, o impacto das gotas de água inicia um processo erosivo. O desastre ecológico pode atingir os rios e córregos próximos à área queimada. ;A mata faz sombra e permite que a temperatura da água permaneça fria. Se o fogo queima essa cobertura, a água vai ficar mais quente e pode matar algumas espécies aquáticas;, explica o coordenador de prevenção e controle de riscos ambientais do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), João Santana Mauger.
Existe um mito, no entanto, de que o bioma cerrado é suficientemente forte para suportar queimadas. A vegetação rasteira é mais resistente do que a mata ciliar, mas ainda hoje podem-se encontrar, no Parque Nacional de Brasília, árvores com vestígios do incêndio que ocorreu em 1994, cuja área atingida foi de 21 mil hectares. A ocupação desordenada das terras do DF permitiu que muitos corredores ecológicos fossem exterminados e as áreas de preservação ambiental se tornaram verdadeiras ilhas para a fauna e a flora. ;O animal não tem para onde fugir caso haja uma queimada;, afirma o coordenador nacional do Prev-Fogo do Ibama, Elmo Monteiro.
Na lista dos animais que mais sofrem com incêndios no cerrado está o tamanduá-bandeira, que se locomove lentamente e tem a pelagem vasta. Em relação à flora, há espécies que não suportam fogo, como o jequitibá.
O QUE DIZ A LEI
A queima de restos de podas de árvores ou lixo que resulte em risco de queimada é crime ambiental previsto na Lei Federal n; 9.605/98. A multa é de R$ 1,5 mil por hectare. O crime, inafiançável, prevê pena de dois a quatro anos de prisão (por dolo, quando há intenção) e de seis meses a um ano de detenção (por culpa, sem intenção). A população deve denunciar, de preferência no momento em que a pessoa estiver fazendo o fogo, para haver flagrante. Informações: 3901-2930 e 193.
Brigadistas preparados
A operação Verde Vivo, do Corpo de Bombeiros, é desencadeada na época de seca com o objetivo de minimizar as causas e os efeitos dos incêndios florestais. No entanto, desde o início do ano, os brigadistas estão se preparando para enfrentar a temporada de queimadas com a realização de cursos de capacitação e treinamento. No último mês, o GDF comprou oito mil itens para o combate preventivo de incêndios florestais. Foram adquiridos kits de equipamentos de proteção individual (botas, óculos, máscaras e mochilas de hidratação), 50 aparelhos de GPS para localização e navegação na mata, roçadeiras mecânicas para evitar o uso de enxadas ao fazer os aceiros negros e assopradores, entre outros itens.