Jornal Correio Braziliense

Cidades

Moradores debatem expansão do Sudoeste

Defensores de área verde tentam mobilizar comunidade a participar de audiência que definirá a construção, ou não, de mais duas quadras

Os moradores do Sudoeste terão amanhã a oportunidade de se manifestar em relação aos planos de expansão do setor. A audiência pública convocada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) ocorre às 9h na Igreja Presbiteriana. Durante a reunião, será apresentado e discutido o Relatório de Impacto de Vizinhança das quadras SQSW 500 e 501, que expõem a situação técnica e ambiental do projeto de expansão. Se a apresentação satisfizer os moradores do Sudoeste, o Ibram pode expedir uma licença prévia(1) atestando que o projeto é viável do ponto de vista ambiental.

Contrariado pela forma como o processo foi conduzido, um grupo de moradores se mobilizou para tentar impedir a expansão imobiliária, que, segundo eles, deve piorar a qualidade de vida(2) não apenas dos moradores do Sudoeste, mas de todo o Plano Piloto. A Associação Parque Ecológico das Sucupiras foi criada para defender os interesses da área verde que virou parque de uso múltiplo(3) há quatro anos, mas se engajou na oposição às novas quadras do Sudoeste.

;Essa é a última grande área verde do Plano Piloto. É preciso preservá-la como monumento, principalmente porque o que se faz na capital é modelo para o país;, considera Fernando Lopes, presidente da associação. Segundo ele, é difícil encontrar moradores do Sudoeste que apoiem a expansão, mas eles não se manifestam contra as novas quadras. A principal proposta do grupo é incorporar ao parque a área destinada às novas quadras.

A comunidade teve pouco mais de um mês para se mobilizar desde que o Ibram informou o agendamento da audiência pública para amanhã. Durante esse período, a associação organizou três reuniões, convocadas por meio de e-mails e faixas espalhadas pelo Sudoeste, mas poucas pessoas, além das cinco que se mobilizaram pela causa, compareceram.

;Se tivéssemos conseguido reunir pelo menos 50 pessoas para tirar uma foto em frente ao parque, eu ainda teria esperança, mas a comunidade não se manifesta;, lamenta o professor de educação física Pedro Henrique Vinhal, 23 anos, que mora na Asa Norte e está engajado na defesa do espaço desde que se uniu a um mutirão de limpeza da área reservada ao Parque das Sucupiras. Na ocasião, 50 pessoas assinaram uma lista manifestando-se contrárias à expansão.

Desenvolvimento
Nem todo mundo é contra as novas quadras. ;Pode ser que o trânsito piore, mas o comércio tende a ganhar muito;, defende o presidente da Associação dos Empresários e Empreendedores do Sudoeste, Carlos José de Moura. Para ele, o bairro sai fortalecido com a expansão. ;Temos de pensar grande. O Sudoeste não tem posto de saúde ou zona eleitoral. Crescendo, é mais fácil pleitear melhorias;, considera.

Presidente do Conselho Comunitário do Sudoeste, Elber Barbosa concorda que a expansão vai afetar a qualidade de vida do setor, mas já vê a construção das quadras como um fato consumado. ;Os órgãos competentes já concederam ou estão em vias de conceder as licenças necessárias;, diz, referindo-se aos avais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma).

Para o líder comunitário, resta aos moradores da região exigir uma compensação da empresa responsável pelas obras. ;Além da construção do Parque das Sucupiras, eles também podem investir no Bosque do Sudoeste, que fica atrás da Quadra 302;, sugere Barbosa. É nisso que a Administração do Sudoeste trabalha, segundo o administrador Nilo Cerqueira. ;Vamos exigir a melhor compensação possível, tanto nas áreas verdes quanto nas urbanizadas;, garante o administrador. Segundo Cerqueira, a administração deve pedir ainda a revitalização dos parques e de vários canteiros centrais, inclusive na Octogonal.


1 - LICENCIAMENTO
A audiência de amanhã não tem caráter deliberativo. Os moradores podem apenas pedir explicações e fazer sugestões. Se houver questionamentos, a dúvida terá de ser respondida pelo órgão ambiental dentro de 30 dias. Sem questionamentos, é possível até que a empresa responsável já receba a licença de instalação e comece os trabalhos.

2 - AUMENTO POPULACIONAL
Atualmente, 47 mil pessoas moram no Sudoeste. Com a construção das quadras, está prevista a chegada de mais 3,5 mil moradores (aumento de 7,5%), o que deve representar mais 1.576 automóveis na região, considerando a taxa de motorização do DF, de um carro para cada 2,22 habitantes. A Administração do Sudoeste promete melhorias no trânsito a fim de evitar transtornos.

3 - SEM INVESTIMENTO
O Parque Ecológico das Sucupiras foi criado pelo Decreto n; 25.926, de 14 de junho de 2005, que lhe atribuía área total de 26 hectares. A criação do parque se baseou na conservação de áreas verdes e no estímulo ao desenvolvimento da educação ambiental e das atividades de recreação e lazer em contato com a natureza, mas, desde que foi criado, ele não recebeu qualquer investimento estrutural.

PARA SABER MAIS
Nos moldes do Plano Piloto

Como revelou o Correio, os primeiros desenhos das novas quadras do Sudoeste mostram que elas terão, juntas, 22 prédios residenciais nos moldes do Plano Piloto (com limite de seis andares) e seis blocos comerciais. A expansão ocupa um terreno de 140 mil metros quadrados que pertencia à Marinha, mas foi permutado com a construtora Antares em 2007. A área fica entre o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Parque das Sucupiras, praticamente às margens do Eixo Monumental.

As duas quadras serão interligadas e está reservada uma área institucional entre elas, que deve ser ocupada por uma escola. Todos os prédios terão garagem no subsolo. As saídas das duas quadras darão acesso à pista que passa pelo Sudoeste Econômico. O projeto mostra ainda que os blocos comerciais terão quatro andares e ficarão no fundo das quadras, virados para a rua em frente ao Setor de Oficinas.

O comércio local ocupará uma área de 9 mil metros quadrados e as lojas serão mais espaçosas que as do Plano Piloto. O empreendimento será cercado de verde, com quadras bem arborizadas ; apenas 15% do terreno deve ser ocupado por edificações, de acordo com o projeto.