Cidades

Três mil crianças foram retiradas das ruas este ano

postado em 23/07/2009 12:45

Alguns gestos de caridade como dar esmolas ou comprar produtos de crianças e adolescentes nas ruas pode acabar contribuindo para o crescimento do trabalho infantil. Só este ano, quase três mil menores foram retirados das ruas de todo o Distrito Federal nessas condições, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest). Assim, o ato de querer ajudar acaba, muitas vezes, por manter essas crianças em situações de risco.

Segundo a gerente de Proteção Social Especial de Média Complexidade da Sedest, Valéria de Sousa Lima, atualmente a maior concentração do trabalho infantil é na área central de Brasília. "As comerciais das Asas Norte e Sul têm 24% da totalidade", afirma Lima. Em seguida, com 18%, os Lagos Sul e Norte. A Região Administrativa de Ceilândia aparece em terceiro lugar, com 9%, depois Taguatinga e Estrutural, 6%, Paranoá e Planaltina, 5%, Sobradinho, 4%, Sia, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo e Recanto das Emas, 3%, Cruzeiro, Guará e Santa Maria, 2%, e, por último, São Sebastião e Samambaia com 1%.

"É importante ressaltar que isso não significa que os menores moram nestas cidades. Eles foram encontrados nestes locais", explica Lima. Um outro dado importante é que muitas crianças vêm do Entorno. A maioria da cidade de Planaltina de Goiás. "Muitas vezes estes menores são considerados desaparecidos pelas famílias, seja pelo uso de drogas ou pela exploração sexual", informa a gerente.

Atividade x lucro
De acordo com o levantamento da Secretaria, 28% dos três mil menores retirados das ruas desenvolviam a atividade de ambulante e pedintes em sinais. "Por isso incentivamos as pessoas a não comprar em sinais de trânsito, na porta de igrejas e na Rodoviária do Plano Piloto", diz a gerente. Outros 14% vigiavam carros em shoppings, hospitais e em mercados.

Com as atividades, os menores chegam a faturar de R$ 50 a R$ 70 reais por dia e apenas 10% deles chegam com o dinheiro em casa. "As informações são das próprias crianças. Eles mesmos falam que além do dinheiro, é lanche do Mac Donald e do Giraffas", completa Lima.

Trabalho doméstico
"Tem uma atividade que a gente sabe que acontece, mas de forma velada que é o trabalho doméstico. Só que para chegar até estes precisamos contar com a ajuda da população para denúncias", conta Lima. A dificuldade se dá pelo fato da necessidade de entrar nos lares das pessoas. "A gente sabe que a maioria dos menores que trabalha nas residências é oriunda de outros estados", completa.

Existem duas maneiras de denunciar. Uma delas é pelo SOS Cidadão - 0800 647 1407 - 23% delas chegaram por este número. Uma outra é pelo 156, opção1, que teve 32% de adesão da população. De janeiro a abril deste ano, 111 denúncias foram registradas pelos dois números telefônicos. As outras foram frutos das abordagens sistemáticas do Núcleo de Atendimento a População de Rua.

Erradicação
Não basta retirar das ruas. E para não haver reincidência, a Sedest realiza um trabalho sistemático. Após o núcleo de abordagem de rua localizar os menores, o próximo passo é fazer uma visita familiar. "É importante a aproximação para se criar um vínculo e descobrir a razão daquela situação", explica Lima. Em seguida, a criança e os pais são encaminhados ao Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas) para um acompanhamento sócio familiar. Ao mesmo tempo, a família é incluída em programas sociais de transferência de renda para que a criança não corra o risco de retornar ao trabalho infantil.

A criança e o adolescente também recebem no contra turno escolar um apoio pedagógico. E para manter a bolsa dos programas sociais há uma contrapartida. O menor precisa manter 85% da frequência escolar e dos acompanhamentos pedagógicos, e as idas sistemáticas em uma unidade de saúde.

Confira a concentração de menores em trabalho infantil no DF

Asas Norte e Sul - 24%
Lagos Sul e Norte - 18%
Ceilândia - 9%
Taguatinga e Estrutural - 6%
Paranoá e Planaltina - 5%
Sobradinho - 4%
Sia, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo e Recanto das Emas - 3%
Cruzeiro, Guará e Santa Maria - 2%
São Sebastião e Samambaia com - 1%

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação