Cidades

Primeiros bebês de proveta do DF completam 10 anos

Allyson e Alanny são um casal de gêmeos especial para a medicina brasiliense. Eles foram os primeiros bebês de proveta concebidos com a ajuda do Centro de Reprodução Assistida da Secretaria de Saúde. Em 10 anos, 185 crianças nasceram na rede pública do DF graças ao programa de fertilização. Três mil mulheres estão cadastradas para receber atendimento

postado em 24/07/2009 08:19
Ao entrar na sala de parto, em 1999, a professora Analice Constância de Souza Silva, então com 35 anos, finalmente acreditou que realizaria o maior sonho de sua vida: dar à luz gêmeos. A incerteza existia porque, durante toda a gestação, a mãe teve medo de que a concepção, a primeira feita por meio de fertilização in vitro em um hospital público do DF, não vingasse. Afinal, o marido de Analice, o vigilante Agrício de Souza Silva, 50 anos, havia sido diagnosticado infértil, mas nunca desistiu de engravidar a mulher, mesmo durante dez anos de tentativas frustradas.

Analice e os filhos, Alanny e Allyson, gêmeos multivitelinosA maternidade se realizou para Analice com a ajuda do Centro de Reprodução Assistida da Secretaria de Saúde, em funcionamento no Hospital Regional da Asa Sul (Hras). A professora esperou por dois anos na lista de candidatas. Pela primeira vez, a rede pública possibilitava a concepção de bebês de proveta.O nascimento dos filhos de Analice, os gêmeos multivitelinos Alanny e Allyson, há 10 anos, representou um marco na história da medicina pública da capital federal. Dos embriões formaram-se duas crianças saudáveis: a menina, com 1,450kg, e o menino, com 2,300kg.

[SAIBAMAIS]Analice já tinha quase perdido as esperanças de ser mãe quando o teste de gravidez apontou o resultado positivo. ;Meus filhos salvaram minha vida. Tive depressão por não poder gerar uma criança, fiquei muito mal. Quando olho para eles, só consigo sentir felicidade, muita felicidade. Eles são o meu milagre, minhas obras de arte;, comemora a mãe. ;Eles são o meu tesouro, fazem tudo brilhar. Sempre pensei positivo, comprei remédios vindos da Alemanha, mesmo com o pouco dinheiro que tínhamos. Todo esforço valeu a pena;, lembra Agrício.

Os irmãos sabem como nasceram e acham incrível quando veem os jornais da época em que saíram do hospital, nos braços de Analice e Agrício. ;Meus pais quiseram muito a gente;, diz Alanny. ;Deve ter sido muito difícil para eles;, acrescenta Allyson. Embora sejam gêmeos, os dois compartilham poucos gostos. O garoto é craque no basquete. A menina prefere o balé. Uma das paixões em comum é o amor pela arte. A disciplina é apontada de imediato por Alany e Allyson como a predileta na escola. A vaidade também é uma característica dos dois. ;Eles demoram horas para se arrumar;, comenta o pai. Mas, na hora de disputar a atenção e o amor dos pais, o casal compete e briga. ;Ele me irrita muito. Não me pareço com ele;, brinca Alany. ;Ela é muito ciumenta;, entrega Allyson.

Referência nacional
Em clínicas especializadas particulares, a fertilização in vitro custa entre R$ 18 mil e R$ 20 mil. No Brasil, nove hospitais públicos oferecem o serviço. De acordo com a Secretaria de Saúde, o Hras é referência nacional em qualidade de atendimento. ;O serviço é considerado um dos melhores do país porque queremos que o casal saiba que foi feito o possível. É preciso calor humano e muita atenção para o processo dar certo;, explica a coordenadora de Reprodução Humana da Secretaria de Saúde, Rosaly Rulli Costa. ;Estima-se que 15% de todos os casais sejam estéreis. É um direito deles poder engravidar. Direito assegurado pela Constituição, inclusive;, acrescenta. Há mais de 3 mil mulheres na fila, à espera por esse atendimento.

Segundo Rosaly, a incapacidade de fecundar pode ser desencadeada por vários fatores. Um deles são as causas ambientais: má qualidade da alimentação e convívio com poluição e agrotóxicos, por exemplo. As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) também podem iniciar o problema. ;Qualquer germe pode entrar nas trompas e danificá-las. As pessoas de baixa renda estão mais vulneráveis à infertilidade porque não comem muito bem e por falta de informação sobre DSTs. Daí a importância do programa público de fertilização;, explica.

O drama dos pacientes com esse tipo de problema é acompanhado por Rosaly desde o começo do projeto. ;Quando você conversa com os pacientes, se emociona. Já vi muita gente dizer que preferia ter um câncer a ser infértil. É por meio dos filhos que o ser humano se perpetua. Não poder gerar um filho promove uma sensação de impotência enorme, que abala a vida do casal;, relata.

Mulheres com até 33 anos, de acordo com a médica, têm mais facilidade para conceber filhos. Depois dessa idade, a probabilidade de se reproduzir costuma decrescer. As estatísticas levantadas pela doutora revelam que as pessoas buscam atendimento nesse setor cada vez mais tarde. Em 1988, elas tinham 25 anos quando recorriam a tratamentos de fertilização. Em 1998, a faixa era de 27 anos. Atualmente, a maior parte das mulheres a recorrer ao Centro de Reprodução assistida tem mais de 30 anos. ;Descobrir o problema cedo ajuda a tratá-lo com mais eficácia;, finaliza Rosaly.

A QUEM RECORRER
A mulher com dificuldade para engravidar deve procurar o centro de saúde mais próximo de sua residência e marcar uma consulta com o ginecologista. O médico deve encaminhar a paciente para o serviço de reprodução humana da sua regional de saúde. Informações: 3345-7604.

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