postado em 26/07/2009 08:53
Primeiro foram os operários, atraídos para o centro do país com a construção da nova capital. Depois, os servidores públicos convocados a assumir seus postos, seguidos de milhares de pessoas humildes seduzidas por programas assistencialistas do governo local e, principalmente, por lotes. Agora, um outro fenômeno migratório se consolida em Brasília. A porta de entrada é a oferta de empregos em um setor da economia do DF que vem aquecendo com a chegada de grandes restaurantes. Garçons, cozinheiros, gerentes e auxiliares de cozinha são mão de obra importada de outros estados, principalmente do Nordeste e do Sul.
Eles estão espalhados pelos restaurantes e bares do Distrito Federal. Saem de seus estados com o emprego já acertado e trazem na mala o sonho de vir para a terra das oportunidades. Vêm em busca da prosperidade e carregam o orgulho de dizer que estão indo trabalhar na capital federal. Sentem-se vencedores. Cearenses, pernambucanos, piauienses, potiguaras, mineiros, paranaenses, gaúchos. Todos os meses, centenas de candidatos a ;novos candangos; desembarcam em Brasília já com a carteira assinada para trabalhar em restaurantes. Geralmente, em estabelecimentos que também foram atraídos pela promessa de faturamento.
Exemplo como o Camarões Beira-Mar, aberto há apenas dois meses por empresários do Ceará. A casa se tornou a mais lucrativa do grupo, que tem outros oito estabelecimentos no Nordeste. Como faturam mais aqui, podem pagar salários melhores a seus funcionários. O anúncio de emprego é feito no DF e, simultaneamente, nos jornais de Fortaleza, Natal e Teresina.
Perspectivas
Paulo Benevides, 34 anos, chegou de Fortaleza há apenas um mês. No dia da reportagem, sua mulher, Nara, e o filho de 6 anos passavam o primeiro dia em Brasília conhecendo a cidade onde virão morar, já que Paulo veio na frente para assumir a gerência do Camarões. ;É a primeira vez que estamos aqui e já estou convencida a morar;, disse Nara, animada.
O marido trabalhava no grupo empresarial do qual o restaurante Camarões faz parte. ;Vim pela oferta de melhoria financeira. E me senti valorizado pela empresa ao receber o convite para trabalhar na capital, onde hoje temos a casa de maior sucesso;, conta Paulo. A perspectiva de crescimento profissional e financeiro faz vencer a saudade do clima praiano e, principalmente, da família, que ficou para trás.
A garçonete Leila Carmo, 38 anos, é de Belém do Pará, mas veio de Fortaleza. ;Decidi mudar pela oportunidade de conhecer outra cidade. Nunca tinha saído da minha região. Adorei ver os monumentos da Esplanada. Fiquei deslumbrada;, conta ela, que veio sozinha, há dois meses e meio. O colega Kleber Alves do Nascimento, de Fortaleza, viu em Brasília futuro para toda a família. ;Minha mulher vai fazer concurso. Meus dois filhos pequenos estão estudando em boas escolas. Já estou até vendo um terreno para comprar;, comemora o garçom.
Desejo de ficar
A vida também melhorou para um grupo de 35 empregados do Mangai, vindos de João Pessoa (PB) e de Natal (RN) para imprimir o padrão da rede na abertura da casa há um ano e quatro meses. ;Temos a prática de levar funcionários já treinados para as novas unidades. Trouxemos 50 pessoas para Brasília. A proposta era para eles retornarem. Mas 35 quiseram permanecer;, conta a diretora comercial do Mangai, Lorena Maia Tavares.
João Evangelista, 38 anos, natural de Brejo de Areia (PB), veio trabalhar como garçom na abertura da casa. Cinco meses foram suficientes para fazê-lo colocar o Nordeste apenas em seus roteiros de férias. Trouxe a mulher e os dois filhos. Matriculou os garotos no colégio, a mulher conseguiu o primeiro emprego com carteira assinada, ele foi promovido à ma;tre e comprou o primeiro carro. ;Um sonho de anos que só pude realizar aqui;, comemora. ;Não quero mais voltar e meus meninos, muito menos;, garante ele, que agora planeja estudar gastronomia. A exemplo dele, o irmão, Zé André Pereira dos Santos, 27 anos, chegou há seis meses para trabalhar como garçom. ;Aqui é a terra das oportunidades;;, diz ele.
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--> Do sushi ao churrasco <--
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Rafael Ohana/CB/D.A Press |
Os sulistas, ao contrário dos nordestinos, planejam retornar à terra natal |