Nas filas dos pontos turísticos de Brasília, escuta-se uma enorme variedade de línguas. São os turistas estrangeiros, que incluíram Brasília no roteiro e aproveitaram as férias para conhecer a capital do país. O Correio percorreu os principais pontos de visitação da capital e acompanhou os turistas em city tours para checar as impressões deles sobre a região. A diferença de idiomas e de culturas não compromete a diversão e eles garantem que é possível se virar em um terreno diferente do resto do país. Não faltam atrações para ocupar um ou dois dias de férias, tempo médio de permanência dos viajantes por aqui. O mapa distribuído gratuitamente em pontos turísticos lista 58 museus[SAIBAMAIS]
A cidade atrai diferentes tipos de turistas estrangeiros. Há aqueles que estão percorrendo o Brasil e reservam um tempo para conhecer a capital, antes ou depois de passeios ao Rio de Janeiro, ao Pantanal e ao Nordeste. Arquitetos, urbanistas e estudantes de todo o mundo vêm à cidade para visitas técnicas, nas quais o importante é analisar o desenho dos principais monumentos. ;Temos canadenses, americanos, belgas, austríacos e holandeses que vêm fazer um passeio mais aprofundado pelo acervo de Oscar Niemeyer;, explicou o presidente da Associação Brasiliense das Agências de Turismo Receptivo (Abare), Yoshihiro Karashima. Segundo ele, esses grupos gostam de conhecer o Congresso Nacional, a Catedral e as unidades do Hospital Sarah Kubitschek. ;Eles se surpreendem com o planejamento da cidade, com a beleza do lago. Valorizamos a qualidade de vida que a cidade oferece;, comentou Karashima.
De acordo com o presidente da Abare, Brasília tem alto fluxo de turistas vindos da Espanha, Itália, Alemanha, França, Bélgica e outros países europeus. ;Portugal tem tido um crescimento em decorrência do voo direto de Lisboa para Brasília. Também há visitantes do antigo bloco comunista;, comentou. Karashima ressaltou que a estadia dos turistas estrangeiros, que antes era de um só dia, já chega a duas noites. Cresceu também o número de viajantes independentes, que saem do país de origem sem apoio de agências de turismo ou guias. ;Esses vêm mais preparados, sabem como pedir uma informação, sabem um pouco de português;, disse o presidente da associação. O governo local não tem dados sobre a quantidade de estrangeiros que desembarcam na cidade.
De repente, uma escala
Os belgas Margot Vyverman, Joris Nuuijiens e Karen Hellemans escolheram fazer uma parada de dois dias em Brasília entre as visitas a Campo Grande e Manaus. A cidade entrou no roteiro porque o voo do trio fazia uma escala por aqui e eles não quiseram perder a viagem. Margot conseguiu hospedagem gratuita para ela e os amigos na casa de um brasiliense por meio de um site e a experiência deu certo. Eles fugiram dos passeios tradicionais e conheceram a noite da capital. ;Fomos a um bar perto da universidade (UnB) e depois nos levaram a uma festa. Foi muito divertido, as pessoas são abertas e sociáveis. Muitas pessoas conversaram em inglês com a gente, não teve problema;, lembrou Margot. A atriz ressalta que os europeus estão acostumados a viver em cidades antigas, por isso Brasília é tão diferente para eles. ;Aqui você sente que é tudo novo;, afirmou. O trio só teve problemas no aeroporto, como explicou a pedagoga Karen Hellemans, 28 anos. ;Queríamos informação para alugar um carro e trocar o voo, mas ninguém falava inglês nem espanhol;, reclamou.
Asas do amor
A primeira visita do italiano Francesco Santoro(foto), 40 anos, a Brasília foi motivada por um romance. Ele aprendeu um pouco de português e decidiu se aventurar na capital pela segunda vez. O arquiteto quis conhecer melhor as obras de Oscar Niemeyer e trouxe a amiga belga Sofie Demeestern, 32 anos. ;Para arquitetos, é uma cidade incrível. Mas não sei se é prático, não acho que a vida possa ser tão racionalizada como é aqui;, reparou Francesco. O italiano alugou um carro e, ao contrário do que pensam muitos brasilienses, achou o trânsito tranquilo. Teve facilidade em circular pelas ruas do Plano Piloto e ; que sorte! ; achou vaga perto do Congresso Nacional em plena tarde de quinta-feira. O aeroporto foi um dos destaques apontados por Francesco. ;Gostei muito da transparência. Você vai pegar as malas e consegue ver a pista, depois logo vê a cidade;, comentou.
Amplidão
A professora universitária Carin Holroyd, 47 anos, veio do Canadá para participar de reuniões e aproveitou para visitar os pontos turísticos da cidade. Com a ajuda de um guia, ela conheceu a vida do ex-presidente Juscelino Kubitschek no Memorial JK. Carin entende algumas palavras em português ensinadas pelo filho adotivo, nascido em Curitiba (PR). A primeira impressão da professora sobre Brasília foi de uma cidade ampla e diferente, com espaço para tudo. ;Os prédios são espalhados, deve ser difícil não ter um carro por aqui. É tudo tão planejado e a arquitetura é linda;, disse a canadense, que preferiria caminhar ou pegar um ônibus para se locomover.
;Cidade fria;
A francesa Claire Pâris, 49 anos, imaginava Brasília como uma cidade exótica e bela. A artista plástica dedicou a última quinta-feira para conhecer os prédios da Esplanada dos Ministérios e se espantou com tantas linhas retas e espaços abertos. ;Acho que a cidade é fria, tudo é muito grande e é difícil para caminhar. Eu prefiro o barroco ao moderno, não conseguiria morar aqui;, comentou. O desconforto com a arquitetura não se estendeu a outros aspectos da cidade. Claire não teve problemas em conseguir uma van com city tour e um tradutor para ajudá-la a conversar com os brasileiros. A turista também adorou a comida local e se deliciou com carnes e frutas nos restaurantes que visitou. ;A comida tem um gosto muito bom. As frutas são ótimas! Na França, elas não têm gosto de nada;, completou.
O trabalho da inglesa Julietta Shoenmann, 46 anos, é viajar o mundo para treinar professores de inglês. Ela está sempre em uma cidade diferente e, na última semana, participou do treinamento de professores de Brasília. No tempo livre, Julietta escolheu visitar a Igreja Dom Bosco, na Asa Sul, além de provar a comida local em restaurantes. Ela experimentou caipirinha, comprou pinhas e figos e tomou açaí. ;É muito bom, uma fruta única. Achei exótico, não temos nada parecido;, comentou. Julietta é vegetariana e recorreu a restaurantes naturais para almoçar. ;A comida era saudável e muito criativa;, avaliou. A inglesa fez amigos e pretende voltar à capital quando tiver férias. ;Não entendo como as pessoas são tão felizes e cheias de vida todo o tempo!”, observou, arrematando: ;Os professores que conheci são energizados e alegres;.
Linguagem universal
Pela primeira vez na América do Sul, os amigos alemães Martin Wolff, 49 anos, e Sabine Granzen, 48 anos, pararam em Brasília para visitar amigos. Elas ficaram dois dias na cidade e finalizaram o passeio com uma tarde de compras na Torre de TV. Os dois são urbanistas e estavam curiosos por conhecer a distribuição dos setores da capital. ;Essa é uma das cidades planejadas mais conhecidas do mundo. As áreas são divididas, o que é típico das cidades modernas do século 20;, disse Martin. A maior dificuldade enfrentada pela dupla foi a diferença de idiomas. ;Quase ninguém fala inglês;, comentou Sabine. Eles usaram palavras em espanhol e italiano para se comunicar com os brasileiros, mas a mímica foi essencial no diálogo com taxistas e vendedores.
Visita emocionante
A dona de casa Connie Espinosa, 65 anos, chegou ao Palácio da Alvorada a tempo de assistir à cerimônia de troca da Bandeira. A turista do Equador se deixou fotografar em frente ao prédio pela filha Maria Verônica Pazmiño, 43 anos. Verônica mora em Brasília com o marido e recebeu a visita de Connie pela segunda vez. Nas três semanas que passarão juntas, mãe e filha planejam visitar a Catedral, o Memorial JK e os shoppings. ;Brasília é tranquila e tem boas pessoas. Não vi o presidente, mas o palácio é emocionante;, comentou Connie. Ela usou o espanhol para se comunicar e, na maioria das vezes, deu certo: ;Entendo mais ou menos, mas às vezes as pessoas falam muito rápido;. As equatorianas só andaram de táxi e de carro porque não conseguiram informações sobre horários e linhas de ônibus. ;Falta publicidade, você não sabe aonde tem que ir para pegar o ônibus;, reclamou Verônica.
;Fácil e barato;
Na primeira volta de táxi, o físico Joseph Wheatley, 46 anos, conseguiu ver quase todos os pontos turísticos da área central da cidade. ;Parece difícil caminhar aqui, é uma cidade desenhada para os carros. Mas é fácil e barato andar de táxi;, disse. O casal e as filhas Ailbhe, 12 anos, e Sibeal, 13 anos, acharam Brasília uma cidade fácil de se visitar, com mapas e guias à disposição, além de pessoas receptivas. ;Mesmo não falando inglês, as pessoas são muito simpáticas;, afirmou Mairin. Depois de conhecer a vida selvagem do Pantanal, as praias do Nordeste e a Esplanada dos Ministérios, eles chegaram a uma conclusão sobre o Brasil: ;É difícil acreditar que seja um só país;, completou Joseph. Caminhando em direção ao Museu da República sob o sol quente da última quarta-feira, a família Wheatley, vinda da Irlanda, descobriu que o inverno brasiliense pouco se parece com o europeu. Eles vieram a Brasília depois de uma passagem por cidades do Pantanal e Salvador. O avião faria uma escala na capital e a família, motivada pelo interesse na arquitetura local, decidiu ficar. Eles não gostam de excursões e optaram por andar de táxi. Quando chegaram à Esplanada, viram as distâncias a percorrer. ;No mapa, parece tão pequeno. Quando você está andando, tudo é longe;, reparou a artista Mairin Kelly, 45 anos.