postado em 29/07/2009 07:58
Para a Fundação Athos Bulcão (Fundathos), os três painéis do artista plástico que estavam localizados no 4; andar do Palácio do Planalto são considerados uma obra perdida. Tanto é que, no livro a ser lançado no próximo dia 26 sobre a produção artística de Athos Bulcão, a fundação define as paredes de azulejo como ;obra demolida;. A colocação da Fundathos deve-se à reforma do Palácio do Planalto, iniciada em março deste ano e orçada em R$ 78,8 milhões. Os azulejos que compunham os painéis há 49 anos foram retirados. Para eles, está reservada uma parede no saguão do mesmo pavimento.;Não concordei com a reforma. O professor Athos fez os painéis para aquelas paredes. Tirá-los de lá vai desvirtuar a intervenção da arte na arquitetura que ele propôs;, declara a diretora executiva da Fundathos, Valéria Cabral. De acordo com ela, a localização original dos painéis era definida por Athos ao mesmo tempo em que Oscar Niemeyer projetava o palácio, no fim da década de 1950. ;Ele estava lá, junto, para decidir como seria a obra de arte;, explica.
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A Fundathos considera que as obras no Palácio no Planalto, além de destruírem um patrimônio, abrem precedentes para que outras sejam feitas em prédios tombados. ;Não se deve reformar palácios. Ainda mais numa capital que não tem nem 50 anos;, opina Valéria. Outro argumento dela é o fato de Athos Bulcão estar morto há quase um ano. ;Não temos como saber se ele concordaria com essa mudança. Agora não tem mais jeito. Os painéis foram postos abaixo. A obra não foi respeitada;, lamenta.
Legislação
Além disso, a diretora afirma não ter sido procurada pelo escritório de Oscar Niemeyer, que assina o projeto da reforma do palácio, para avaliar a transferência dos painéis. Valéria se reuniu, no entanto, com representantes da Secretaria de Administração da Casa Civil. ;A Casa Civil me procurou para que eu acompanhasse as reformulações. Mas a liturgia do meu cargo não permite que concorde com a destruição da obra do professor Athos;, conta.
Segundo o representante do escritório de Niemeyer em Brasília, Carlos Magalhães, não há na legislação vigente a obrigação de consultar a fundação. ;Não houve desvirtuamento da obra. O Oscar (Niemeyer) teve o cuidado de remanejar os painéis para um local mais visível, importante e acessível;, diz. O lugar onde os azulejos serão recolocados é uma parede de aproximadamente 20m, localizada no saguão do 4; andar, onde funcionavam a Casa Civil e o Gabinete de Segurança Institucional.
; HOMENAGEM AO ARTISTA
Uma missa em memória de Athos Bulcão será realizada na próxima sexta-feira, às 18h30, na Igrejinha da 307/308 Sul, que abriga a obra do artista. No próximo dia 26, a Fundathos lançará o livro Athos Bulcão. O evento ocorrerá às 20h, em outro lugar que ostenta um painel do artista: o Brasília Palace Hotel. O livro traz uma compilação de quase todas as obras de Athos e define tanto os painéis desmontados do Palácio do Planalto quanto os da sede social do Clube do Congresso como ;obras demolidas;.
; Para saber mais
Projetado por Niemeyer
Inaugurado ao mesmo tempo que a capital do país, em 21 de abril de 1960, o Palácio do Planalto foi projetado por Oscar Niemeyer. Assim como outras 23 obras do arquiteto, o palácio é tombado pelo Iphan. A estrutura de quatro andares e 36 mil metros quadrados deve ser reformada até abril do ano que vem, quando Brasília completará 50 anos. Orçadas inicialmente em R$ 78,8 milhões, as obras de reestruturação e restauração preveem a retirada de divisórias e a construção de um anexo ao palácio, além do remanejamento dos painéis de Athos Bulcão para uma parede no saguão do 4; andar.
Para evitar a quebra dos azulejos, a técnica mais indicada, segundo a diretora executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Cabral, é aplicar gesso em torno dos painéis e serrar a parede. Mesmo assim, não há garantia de que uma ou outra peça seja danificada. O Correio apurou que a retirada dos azulejos foi feita em blocos, na tentativa de preservá-los.
[SAIBAMAIS]De acordo com o superintendente regional do Iphan, Alfredo Gastal, o jardim localizado em frente aos painéis de Athos Bulcão no palácio não é de Burle Marx. ;Não há vestígios do projeto desse jardim no escritório dele no Rio de Janeiro. É só mais uma das fábulas que criam;, afirma.
; Aval do Iphan
A reforma no Palácio do Planalto ; e a consequente mudança de local dos painéis ; tem o aval do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável pela preservação de obras e prédios tombados e pela fiscalização de restaurações. Para o superintendente regional do Iphan, Alfredo Gastal, a reforma tem sido feita de maneira adequada e o local escolhido para acolher os azulejos foi especificamente criado para isso. O órgão acompanha a execução das obras e não verificou irregularidade. ;Analisamos detalhadamente o projeto e estamos acompanhando a restauração. Os azulejos estão armazenados de forma correta. Não houve dano. Se houvesse, a reforma estaria embargada;, explica. O superintendente admite, no entanto, que algumas peças podem ter sido danificadas, mas em pequeno número. ;Não se faz uma gemada sem quebrar os ovos. Se for necessária a substituição, a própria Fundathos refaz os azulejos, da forma que Athos fazia.;
Exigências
Uma das exigências do Iphan era de que a retirada dos azulejos fosse feita por pessoal especializado, justamente para evitar que os painéis fossem danificados. A diretora da Fundathos, Valéria Cabral, no entanto, tem a suspeita de que o serviço tenha sido executado por funcionários despreparados para a tarefa: ;Soube que também havia pedreiros comuns trabalhando na remoção dos azulejos;.
A assessoria de comunicação da Presidência da República confirma que os painéis foram desmontados e estão adequadamente embalados e armazenados para posterior reaproveito. O órgão acrescentou que existe a preocupação, inclusive por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em preservar a obra de Athos. O presidente Lula, na ocasião da morte do artista, em julho do ano passado, divulgou nota na qual lamentava o ocorrido e reconhecia o valor inestimável do artista.
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