postado em 29/07/2009 08:39
O Projeto Candango, entidade cadastrada pelo GDF para participar de projetos habitacionais do estado, é apontado por um ex-associado como mais uma participante do golpe da casa própria (leia Entenda o caso). O morador de Ceilândia mostrou ao Correio um recibo de R$ 150 que ele garante ter pago ; e recebido de volta ; da associação como inscrição no programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Dirigentes do Projeto Candango negam tudo e garantem que o recibo é falsificado.José (nome fictício) tem medo de represálias, mas garante querer contar sua história para evitar que mais pessoas tenham prejuízos financeiros e decepções como os que ele sofreu. Casado há 15 anos, ele mora de aluguel no P Norte e sonha com a casa própria. Teria chegado ao Projeto Candango por meio de um conhecido. ;Ele foi muito convincente e eu, infelizmente, caí nesse golpe. Ele me levou até uma mulher chamada Eliane, do Projeto Candango, que me cobrou R$ 150 pela inscrição no Minha Casa, Minha Vida dizendo que teria moradias em Santa Maria;, conta, mostrando o recibo.
Na cidade, realmente está sendo construído um conjunto de 5,1 mil casas e apartamentos que serão vendidos à Caixa Econômica Federal. O banco financiará as unidades a famílias de baixa renda por meio do Minha Casa, Minha Vida. ;Me disseram que cada entidade ligada à Direcional Construtora, que está fazendo a obra, teria 100 casas ou apartamentos para seus filiados;, informa José. O programa federal que promete financiar 1 milhão de moradias para famílias com renda de até 10 salários mínimos proíbe qualquer tipo de cobrança pela inscrição.
O fato teria acontecido em junho. José resolveu desistir e pedir o dinheiro de volta quando soube que precisaria desembolsar mais R$ 500 para a construtora. ;Mas demorou mais de um mês e teve muita briga para eu e outras três pessoas que eu tinha levado para essa furada tivéssemos nosso dinheiro de volta;, afirma. ;Agora, estão me pedindo o recibo de volta, mas só devolvo na delegacia;, avisa.
No documento, consta um endereço na M Norte, em Taguatinga, como sede da entidade. No local, o que existe é a Associação dos Proprietários de Oficinas e Similares do Setor M Norte (Asprom). Ao ouvir o nome do Projeto Candango, o presidente da Asprom, Raimundo Nonato Carneiro da Silva, disparou: ;Não temos nada a ver com eles. Se estão usando o nosso endereço em qualquer documento, tomaremos providências. No início do ano, uma Eliane, que se disse representante dessa entidade, nos procurou para fazer parcerias. No começo, me interessei, porque trabalhamos com parceiros para dar vantagens aos nossos associados. Mas logo percebi que eles não eram sérios, não tinham documentação nem nada;.
Crivo
O Projeto Candango está inscrito na Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF. Ou seja: passou pelo crivo feito este ano, que reduziu pela metade as entidades credenciadas. ;Temos 19 anos de história. Nosso trabalho é sério;, garante Eliane Pereira, que representa a entidade. ;O que essa pessoa (José) disse não é verdade. Não cobramos R$ 150 de ninguém e esse recibo é falso;, garantiu ela, que afirma ainda não fazer nenhum tipo de propaganda usando o Minha Casa, Minha Vida. ;Estamos participando de outro projeto em Santa Maria, completamente particular, com outra construtora, e vamos ajudar nossos filiados a financiar os apartamentos também pela Caixa. Mas não é nada de Minha Casa, Minha Vida;, promete. A entidade cobra R$ 20 mensais dos associados para manter a estrutura.
Quanto ao endereço, Eliane afirma que já teve parceria com a Asprom. ;Acabou não dando certo, mas trabalhamos lá naquele escritório. Até tem coisas nossas lá. É um absurdo o que o ;seu Raimundinho; está dizendo;, reclama, prometendo: ;Vamos provar nossa inocência nesse caso;.
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Entenda o caso
Entidades falsas
Desde a última quarta-feira, o Correio denuncia entidades de falso cunho social que enganam a população cobrando por inscrições no programa Minha Casa, Minha Vida. Elaborada pelo Ministério das Cidades e financiada pela Caixa, a ação pretende dar moradia a 1 milhão de famílias com renda de até 10 salários mínimos. A inscrição para a renda de até três salários, no DF, só pode ser feita pela lista da Codhab ; que será reaberta no próximo dia 1;. Nas demais faixas de renda, a família pode negociar direto com a construtora para pagar a casa própria com condições vantajosas e alguns subsídios. A Delegacia de Defraudação e Falsificação (DEF) já abriu cinco inquéritos para investigar as denúncias e chegou a prender seis dirigentes da ONG Vida Viva, de Planaltina, denunciada pelo Correio por cobrar R$ 10 de inscrição a pessoas de baixa renda prometendo vantagens que não poderia garantir. Para piorar, quem se inscreve em uma dessas instituições, além de pagar, pode ficar fora do programa se não estiver na lista da Codhab.