Cidades

50 dos 288 túmulos da ala dos pioneiros no cemitério tiveram os crucifixos furtados

postado em 29/07/2009 09:02
A ala dos pioneiros do Cemitério Campo da Esperança tem sido alvo de vândalos. Dos 288 túmulos, o Correio identificou que pelo menos 50 tiveram os crucifixos furtados. Diversos bancos e capelas feitos de granito também foram encontrados quebrados ou simplesmente arrancados pelos criminosos. O desrespeito tem gerado indignação nos familiares, que cobram mais atenção por parte da administração do cemitério. Somente neste ano, a 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) registrou cerca de oito ocorrências referentes a danos na área onde estão enterrados alguns dos principais responsáveis pela construção de Brasília.

No túmulo de Joffre Mozart Parada, engenheiro responsável por demarcar o centro da capital federal a pedido de Juscelino Kubitschek, só ficou a marca dos furos na tampa onde estava pregado o crucifixo. Joffre era o braço direito de Bernardo Sayão, à época diretor da Novacap. ;Ver essa situação de descaso me revolta muito, ainda mais porque eles são parte da história de Brasília. Infelizmente, toda vez que chegamos ao cemitério, temos que pagar alguém para limpar o lugar e ainda nos deparamos com essa situação de vandalismo;, reclamou o neto de Bernardo Sayão, que herdou o mesmo nome do pioneiro.

A família do fundador do Centro Universitário Uniceub, João Herculino Lopes, é outra que está inconformada com a situação de abandono. Segundo o cunhado do pioneiro, o empresário Fernando Ganme, 59 anos, a depredação no túmulo do parente tem sido frequente. De dezembro do ano passado para cá, os bandidos já furtaram do local uma imagem de Santo Antônio com 50cm de comprimento, além de um banco de granito, avaliado em R$ 300. Na última sexta-feira, Fernando foi ao cemitério para colocar flores e levou um susto ao ver que o crucifixo de bronze, avaliado em R$ 850, havia sido roubado. ;A questão não é material, mas sim de sentimento. O mínimo que merecia era respeito, porque o João Herculino foi uma pessoa muito importante em Brasília no papel de educador e ser humano;, disse Fernando Ganme.

No ano passado, diversas pessoas foram presas com sacolas de crucifixos arrancados no cemitério. ;Se contar tudo, tem mais de 2 mil arrancados;, disse um coveiro veterano do Campo da Esperança. Denúncias de depredação, túmulos abertos e ossadas expostas viraram alvos de investigação da CPI dos Cemitérios, no ano passado. Segundo o presidente da Organização Social dos Jardineiros dos Cemitérios do DF, Cícero de Jesus Melo, na época chegou-se a desconfiar dos jardineiros. ;Nós estamos no cemitério é para trabalhar e, quando vemos alguém furtando, somos os primeiros a denunciar. Acho que, se acontece furto, é porque faltam seguranças para combater;, avalia.

Segurança 24 horas
Por e-mail, a assessoria de imprensa da administração do Cemitério Campo da Esperança respondeu que 10 seguranças uniformizados e alguns descaracterizados foram contratados para trabalhar 24 horas no local, a fim de coibir a ação de vândalos e ladrões. Ao todo, 50 deles estão espalhados pelos seis cemitérios do DF. O órgão informou ainda que, em relação aos túmulos depredados, que seriam ;raros casos;, isso é mais comum ;nas áreas antigas dos cemitérios, onde a maioria dos túmulos é de mármore e granito, muitos deles com imagens e ornamentos;, como acontece na ala dos pioneiros.

Atualmente, existem 2 mil pioneiros legítimos vivos em Brasília. O secretário-geral da Associação dos Candangos Pioneiros, Nilton Freitas, lamenta os episódios de vandalismo. ;Isso nos preocupa muito e temos que apelar para que essa situação não se agrave. Deveriam observar aquela área com mais carinho, até porque a gente quer manter a dignidade dessas pessoas que foram tão importantes para Brasília;, destacou.

No texto encaminhado via e-mail, a administradora do Cemitério Campo da Esperança disse ainda que, quando um ato de vandalismo é constatado, a família é contatada e orientada a registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil. ;Esse registro é necessário para fins contábeis e administrativos da concessionária. Cada caso é analisado individualmente e, quando provado o vandalismo ou roubo, o Campo da Esperança ressarce a família;, garantiu a empresa.

De acordo com a delegada-chefe da 1; DP, Martha Vargas, a maioria das pessoas tem registrado ocorrência. ;Quando a pessoa demora para registrar, às vezes fica difícil encontrar o criminoso;, explicou a delegada. Quando há uma situação de furto ou dano ao bem, como a destruição de mármores e objetos , a perícia é feita no local e a punição varia de acordo com o crime cometido.


VISITA-SURPRESA

Os deputados integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérto fizeram uma visita-surpresa nos seis cemitérios do DF. Identificaram irregularidade na exumação dos restos mortais, ossadas expostas, muito mato, sepulturas quebradas e sem identificação.

DANO E FURTO

Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia é crime previsto no artigo 163 do Código Penal. A pena varia de um a seis meses de detenção ou multa. Quem for pego furtando objetos alheiros pode pegar de um a quatro anos de reclusão, além de multa. O crime está previsto no artigo 155 do Código Penal.

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