Enquanto a maioria das pessoas que gostam de bichos de estimação criam gatos ou cachorros no quintal de casa, o economista Érico Albuquerque de Abreu e Lima prefere cuidar de avestruzes, araras e até de um trio de gaviões reais. No lugar onde mora, um terreno de 20 mil metros quadrados, no Lago Sul, Altiplano Leste, o criador mantém 500 unidades de animais selvagens de inúmeras espécies. Érico adquiriu autorização para exercer esse passatempo (leia o que diz a lei) quando o Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais e Renováveis (Ibama) ainda era o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).
Ele nunca frequentou faculdades de biologia ou veterinária. Tudo que sabe aprendeu na vida, motivado pelo amor aos animais silvestres. Apaixonado por aves, Érico começou a criar um canário belga quando tinha 10 anos, no Rio de Janeiro, onde nasceu. Não revela a idade ;nem sob tortura;, mas diz exercer o hobby há mais de 40 anos.[SAIBAMAIS]
A preocupação com a conservação da natureza passou da mãe para o filho. ;Minha mãe já dizia que animais domésticos seriam os únicos a sobrar depois que o homem devastasse todas as matas. Reproduzi-los em cativeiro é uma forma de ajudar a preservá-los para as gerações futuras;, afirma. Por esse motivo, Érico se dedica a multiplicar bichos em risco de extinção, como a arara-azul e a ararajuba, espécie verde-amarela, endêmica do Brasil. ;Na minha opinião, esse pássaro (ararajuba) devia ser o símbolo do Brasil. É a cara do país;, comenta o criador.
Érico foi o primeiro reprodutor de animais do mundo a criar em cativeiro ; nas chocadeiras ; exemplares de gaviões reais. Isso há 20 anos. A primeira ninhada morreu dois meses depois do nascimento. A segunda também não vingou. Érico era quem alimentava os filhotes. Ele ficou doente e teve de viajar para se tratar. Os animais não aceitavam comida dada pelas mãos de outra pessoa e morreram de fome. Somente na terceira tentativa, as crias sobreviveram. O filhote de gavião é um dos xodós do economista e dos cinco funcionários da chácara.
Aves raras
Outra raridade é uma arara híbrida, ainda não batizada, desenvolvida em cativeiro por meio do cruzamento de uma arara-canindé amarela com uma da espécie Chloropetera, conhecida como arara-vermelha. ;Essa não existe em nenhum lugar do mundo, na natureza. É um colorido que só pode ser visto aqui;, orgulha-se. Um tipo de pássaro, popularmente chamado de ;fogo pagou;, aparece em cor de canela, tonalidade exclusiva, somente na propriedade de Érico. ;Essas mutações de cores não sobrevivem na natureza. Se nasce um mico albino, por exemplo, é o primeiro a ser devorado pelo predador. Em cativeiro, eles permanecem;, constata Érico.
Também podem ser observados no local papagaios, periquitos e 10 tipos de pássaros de pequeno porte, além de 21 cachorros, duas avestruzes e quatro cavalos, entre outros animais. Érico recebe ajuda de uma veterinária, conforme exigência do Ibama, para cuidar das crias.
Mas é ele quem percorre os vários recintos, diariamente, para checar a saúde dos bichos. ;A parte mais difícil de criar animais silvestres é que eles não demonstram estar doentes. Essa é uma defesa contra os predadores, algo da natureza desses seres;, explica. ;A minha experiência permite saber de qualquer problema só observando o comportamento deles. Aqui, a gente não corta nem a unha do papagaio, para ele não ficar estressado;, completa.
A quem considera criar animais em cativeiro uma forma de crueldade, Érico rebate: ;Se deixarmos por conta dos exemplares que vivem soltos na natureza, em breve, não teremos mais toda essa riqueza na fauna. Eu tenho aqui um programa voluntário de preservação de animais silvestres;.
O que diz a lei
A Lei n; 9.605, de 1998, determina que é crime matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a autorização obtida. A legislação prevê multa de R$ 500 por unidade de animal retirado da natureza ilegalmente. O valor sobe para até R$ 5 mil se o bicho estiver na lista de extinção do Ibama. Outra penalidade é a detenção de três meses a um ano para quem matar e caçar animais silvestres sem permissão. Também é proibido soltar animais silvestres na natureza, porque eles ficam adaptados ao cativeiro e não conseguem mais sobreviver sozinhos fora dele.
O viveiro
Araras-amarelas e até um avestruz fazem parte desse viveiro particular