Cidades

Casa dos Idosos de Planaltina faz sucesso promovendo animados bailes

No dia mais movimentado da semana, eles funcionam com uma exigência inusitada: só podem entrar no recinto maiores de 40 anos

Naira Trindade
postado em 31/07/2009 07:58
...é uma legião de personagens singulares, todos dispostos a confraternizar a vida treAs panturrilhas torneadas da dona de casa Eliete Moura Francisco, 58, revelam o tempo dedicado à dança. Há pelo menos 10 anos, as quintas-feiras dela são reservadas para um momento especial com os amigos. O endereço do encontro é a Casa dos Idosos de Planaltina. Das 14h às 17h30, os passos são embalados ao som de teclado. Boleros, forrós e músicas sertanejas animam a tarde de mais de 200 velhinhos. No salão, pessoas de diferentes idades encontraram na dança uma força para encarar os problemas de saúde que vieram com a melhor idade. De graça, elas convivem e são felizes dançando.

A moradora de Sobradinho Alcina Gomes Farias, 70 anos, chegou à Casa dos Idosos antes do horário marcado para o início do forró. Animada para rever os amigos, ela pegou o ônibus e percorreu os 18km que dividem as duas cidades. Após a festa, ela novamente toma o rumo da parada e volta para casa. A ocasião vale o esforço. Afinal, foi ao som de uma música sertaneja, lá em Planaltina, que a dona de casa conheceu o namorado, José Felix dos Santos, 61. Um verdadeiro pé de valsa, ela diz.

Ao ritmo de dois pra lá-dois pra cá, ele formalizou o pedido para os dois dividirem o mesmo teto. ;Eu nunca tinha visto essa peça. Aí nos encontramos uma vez, e outra, e ele me pediu em casamento. Eu não quero saber de casamento, não;, brinca Alcina. Antes de conhecer José Felix, ela tinha terminado um casamento. ;Eu perdi muito anos da minha vida casada. Aproveito mais a minha vida agora;, conta. As unhas pintadas e o colar que combina com a cor da blusa demonstram a vaidade da moça. Cuidados esses que deixam o dono do coração dela ; namoram há mais de 10 anos ; cheio de ciúmes.

Frequentadores do forró se divertem, fazem amizades e alguns até constroem novos relacionamentos amorosos. O que não falta nesse baile...O carpinteiro aposentado João Batista Corrêa da Trindade, 76, também se produziu para a festa. A camisa mostarda engomada combinava com o chapéu cinza na cabeça. A barba foi tirada, mas ficou um detalhe: o bigode. Os charmosos pelos sobre os lábios o deixam atraente para as senhoras. Encostado na parede, ele espera o momento ideal para se aproximar das mulheres e tirá-las para dançar. O amigo Cícero Cazuza Bandeira, 68, também aguarda. Jardineiro aposentado, ele não perde uma semana.

O mesmo acontece com Eliete Moura. ;Tem 10 anos que descobri o forró. Antes, não queria vir, mas hoje não quero mais largar;, conta ela. A dona de casa também começou um relacionamento na festa de Planaltina. Há sete meses, o coração solitário acolheu o pintor Leocádio Vicente Serrão, 62. Para não correr o risco de ter a namorada dançando com outros, Leocádio tira folga todas as quintas-feiras e, claro, vai ao baile.

A caráter
O fazendeiro de Arapoanga João Salles, 74, vestiu-se de acordo com o evento. Camisa com franjinhas, calças com a barra dentro da botina e cinto com fivela. Apaixonado por música sertaneja, ele não perde tempo na festa. Dança com uma amiga aqui, embala outra senhora ali, e em pouco tempo já tirou várias colegas para bailar. Já o pedreiro aposentado Agostinho Pereira dos Santos faz diferente. ;Nem todo mundo aguenta acompanhar o meu ritmo; então, não adianta tirar todo mundo para dançar;, diz.

[SAIBAMAIS]O pique de Agostinho é cultivado no cotidiano. ;Diariamente, tiro pelo menos uma hora para praticar em casa. Tenho que fazer isso para fortalecer a musculatura, senão não tenho força para dançar. Além disso, eu não bebo, não fumo, não como carne, não tomo remédios e só me alimento de verdura colhida na horta;, ensina. O dançarino já viajou para mostrar seu talento. ;Dancei em Patos de Minas (Minas Gerais), em Goiânia e até na Bahia;, conta. Ele diz que viajou para se divertir e nunca concorreu a nenhum campeonato de dança. ;Quando chega domingo, eu fico triste porque sei que ainda vou demorar para dançar de novo;, conta o forrozeiro. Agostinho frequenta a casa há oito anos e vai de bicicleta para a festa. Boa disposição física: são 8km de trajeto de ida e volta.

A dança, por enquanto, é a única atividade da Casa dos Idosos. Mas há projetos a serem desenvolvidos, como a implantação de uma oficina de bijuteria e artesanato, a construção de uma biblioteca e o início de um curso de dança de salão. O administrador da casa, Nilson Braz Queiroz, explica que a instituição não conta com ajuda financeira de empresas ou do governo. Por isso, espera as condições melhorarem para implantar os novos projetos.

PROGRAME-SE
O forró ocorre toda quinta-feira, das 14h às 17h30, na Casa dos Idosos, em frente à Praça do Centro Histórico, no Setor Tradicional de Planaltina. É permitida a entrada apenas de maiores de 40 anos. No sábado, o show começa às 19h e segue até às 24h e no domingo, das 15h às 22h. Aos sábados e domingos, são cobradas entradas. O valor não ultrapassa R$ 10. Nesses dias, é permitida a entrada de pessoas de todas as idades.

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