postado em 04/08/2009 08:01
Diabética e com pressão alta, a aposentada Marisa Aparecida da Silva, de 51 anos, precisa recorrer à vizinhança toda vez que pega um remédio novo no posto de saúde da Estrutural. Analfabeta, ela não consegue entender as letrinhas escritas na parte de trás dos medicamentos e nem a extensa lista de recomendações dos médicos e das enfermeiras. ;Não vejo a hora da minha netinha começar a ler para me ajudar;, comenta, referindo-se à Débora, de 6 anos, que entra na escola no ano que vem. Por enquanto, Marisa tem que se contentar com a ajuda da vizinha Aleni Ferreira da Silva, de 33 anos.[SAIBAMAIS]Apesar de ser considerada analfabeta funcional(1), os três anos de estudo de Aleni ;quebram um galhão; na rua. ;A gente se ajuda para pegar ônibus e para ler coisas importantes de aposentadoria, da bolsa que a gente ganha do governo;, afirma Aleni. As duas têm histórias parecidas. Deixaram a infância de lado para ajudar a família a viver. No caso de Marisa, no entanto, a escola nunca foi uma opção. ;Morava na roça perto de Alvorada do Norte (GO) e não tinha colégio perto. Além disso, comecei a capinar com menos de 8 anos;, lembra. Hoje, ela não pensa em conhecer os livros. ;Já estou velha demais.; Aleni também não pensa em voltar. ;Não tenho com quem deixar meus meninos à noite e aqui é perigoso demais.;
As duas vizinhas se juntam a um exército de analfabetos funcionais ou totais que poderiam fazer parte do público da educação de jovens e adultos no Distrito Federal. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada no fim do ano passado, 10,9% da população do DF não têm quatro anos de estudo. A porcentagem representa 203 mil pessoas. A realidade se repete no restante do país.
Balanço
O mais impressionante é que sobram vagas na EJA. As matrículas para as aulas desse semestre estão abertas e, no último levantamento divulgado pela Secretaria de Educação, há duas semanas, havia uma sobra de 9.456 vagas para essa modalidade de ensino. ;O balanço de vagas disponíveis baseia-se em informações fornecidas pelas escolas à secretaria até dia 17, mas, em decorrência de desistências, o número poderá ser ainda maior;, cita o documento divulgado. O mais grave: a sobra equivale a 45% da oferta. A baixa procura acendeu a luz amarela no governo, que já estuda alterações na EJA (veja abaixo Cinco perguntas para o secretário José Luiz Valente).
;As redes federal, estaduais e municipais reclamam da falta de alunos e os estudantes se queixam da falta de vagas;, observa Jorge Teles, diretor da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), do Ministério da Educação. ;Nosso desafio é atrair essas pessoas, tornar o ensino atrativo e convencê-las de que estudar vale a pena;, ressalta.
Nesse sentido, a aposta da ONG Alfabetização Solidária aqui no DF é ir onde a escola não vai. Atualmente, a entidade tem 10 mil alunos em processo de alfabetização na capital do país. Desses, pouco mais de 20% estão em instituições de ensino. ;O Programa ABCdf vai onde está o bolsão de analfabetismo e que, normalmente, não tem estrutura;, afirma Regina Célia Esteves de Siqueira, superintendente executiva da ONG. Não à toa, mais da metade dos alunos (52%) assiste às aulas na casa do alfabetizador, mas também tem reuniões em igrejas, templos e salões comunitários. O programa funciona em parceria com o governo local. Para Regina, o desafio maior está na continuidade dos estudos.
1 - DIFICULDADES
Analfabeto funcional é a pessoa que, mesmo com a capacidade de decodificar letras e algumas frases e os números, não desenvolve a habilidade de interpretação de textos e de fazer as operações matemáticas. Também é definido como analfabeto funcional o indivíduo maior de 15 anos e que possui escolaridade inferior a quatro anos.
; Fique atento
As matrículas da EJA estão sempre abertas. Os interessados em voltar a estudar devem procurar a escola mais próxima de casa ou do trabalho, que oferece essa modalidade de ensino. É necessário levar documento de identificação pessoal (original e cópia), duas fotos 3X4, comprovante de endereço, histórico escolar ou declaração provisória de escolaridade fornecida pela instituição de ensino onde o aluno estudou.
; O que diz a lei
A Constituição Federal de 1988 representou um avanço significativo na educação de jovens e adultos. Foi ela que garantiu o direito irrestrito do ensino. No artigo 208, está a determinação de que a educação deve ser oferecida a todos aqueles que não tiveram acesso à escola regular e básica, independentemente da faixa etária, garantindo assim um atendimento também a jovens e adultos que anteriormente eram excluídos do direito à educação. Confirmando essa conquista, a LDB 9.394/96 estabelece em seu artigo 37 os deveres do Estado de estender o direito à educação a todos, inclusive àqueles que a ela não tiveram acesso na idade própria.
; Oportunidade
O Ministério da Educação está selecionando livros de escritores brasileiros e africanos de língua portuguesa para o ensino de jovens e adultos no Concurso Literatura para Todos. Até o dia 25 deste mês, os autores interessados em inscrever as publicações voltadas para esse público podem entrar no site do MEC (www.mec.gov.br/secad). O concurso vai distribuir R$ 90 mil entre oito escritores brasileiros e um de país africano de língua portuguesa ; Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Cada autor selecionado receberá R$ 10 mil em dinheiro e terá a obra publicada e distribuída pelo MEC. Com um mínimo de 30 e o máximo de 40 páginas, as obras devem ser inéditas e específicas para novos leitores, que ainda estão aprendendo a ler e a escrever.
; Perfil
Quem são os alunos da EJA, de acordo com um estudo do IBGE divulgado no início deste ano:
- A maioria são mulheres (54%), de baixa renda, na faixa etária entre os 18 e 39 anos de idade; 70% responderam que procuraram a EJA para voltar a estudar ou para adiantar os estudos;
- Apenas 19% dos entrevistados responderam que a motivação para estudar era para conseguir melhores oportunidades de trabalho
; Iniciativa que deu certo
A turma é pequena. São apenas 25 alunos. No entanto, a equipe do Centro de Ensino Médio 3 de Ceilândia comemora diariamente o processo de ensino de jovens e adultos. E não é à toa. Dos 25 alunos, nenhum abandonou a sala de aula no primeiro ano de projeto. O motivo de tanta aplicação dos estudantes, de acordo com o professor da Faculdade de Educação e coordenador do projeto na UnB, Remi Castioni, é o diferencial oferecido no ensino. ;Apenas 800 metros separam a escola do Centro de Ensino Profissionalizante (CEP). Mesclamos as duas formações e tornamos a educação mais atraente para os jovens e adultos;, observa.
O projeto, inédito no país, começou no ano passado e, até o momento, foi considerado um sucesso. Tanto que a equipe já pensa em levá-lo a um quarto da população do DF. São quase 700 mil pessoas com mais de 15 anos que abandonaram a escola e precisam trabalhar para garantir a sobrevivência. Iniciativa inédita vai garantir que esse contingente volte a estudar e, ao mesmo tempo, seja inserido no mercado de trabalho.
O projeto é uma parceria entre a UnB, a Secretaria de Educação, a Secretaria de Ciência e Tecnologia e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília. ;Vamos institucionalizar a política de integração entre a EJA e o ensino profissionalizante;, planeja o professor. Por enquanto, os alunos de Ceilândia têm oficinas de informática e desenho gráfico. Castioni pensa em expandir para outras áreas profissionalizantes. (EK)
Demanda da EJA no país
Alfabetização
Oferta atual - 1,3 milhão
Demanda - 14,3 milhões
Atendimento - 9%
Primeiro segmento
Oferta atual - 1,4 milhão
Demanda - 15 milhões
Atendimento - 9,2%
Segundo segmento
Oferta atual - 2,2 milhões
Demanda - 33,8 milhões
Atendimento - 6,7%
Terceiro segmento
Oferta atual - 1,6 milhão
Demanda - 21,9 milhões
Atendimento - 7,4%
; Veja a lista das escolas com EJA no DF
DRE: BRAZLÂNDIA
CED 02 DE BRAZLÂNDIA
CEF 02 DE BRAZLÂNDIA
DRE: CEILÂNDIA
CED 06 DE CEILÂNDIA
CED 07 DE CEILÂNDIA
CED 11 DE CEILÂNDIA
CEF 02 DE CEILÂNDIA
CEF04 DE CEILÂNDIA
CEF 13 DE CEILÂNDIA
CEF 15 DE CEILÂNDIA
CEF 18 DE CEILÂNDIA
CEF 20 DE CEILÂNDIA
CEF 24 DE CEILÂNDIA
CEF 25 DE CEILÂNDIA
CEM 03 DE CEILÂNDIA
CEM 04 DE CEILÂNDIA
CEM 09 DE CEILÂNDIA
EC 53 DE CEILÂNDIA
DRE: GAMA
CED 07 DE GAMA
CEF 03 DO GAMA
CEF 05 DO GAMA
CEF 10 DE GAMA
CEF 11 DO GAMA
CEM 03 DO GAMA
DRE: GUARÁ
CED 01 DO GUARÁ
CED 03 DO GUARA
CED 04 DO GUARA
CEF 01 DA ESTRUTURAL
CEF 04 DO GUARÁ
CEF 08 DO GUARÁ
DRE: NÚCLEO BANDEIRANTE
CEF 01 DO RIACHO FUNDO II
CEF 02 DO RIACHO FUNDO
CEF 03 DO RIACHO FUNDO
CEF METROPOLITANA
CEF VARGEM BONITA
CEM 01 DO N.BANDEIRANTE
CEM 01 JÚLIA KUBITSCHEK
DRE: PARANOÁ
CED DO PAD/DF
CEF 01 DO PARANOÁ
CEF 02 DO PARANOÁ
CEF 03 DO PARANOÁ
DRE: PLANALTINA
CED 01 DE PLANALTINA
CEF 03 DE PLANALTINA
CEF 04 DE PLANALTINA
CEF ARAPOANGA
CEF COND. ESTÂNCIA III
CEF NOSSA SR; DE FÁTIMA
CEF POMPÍLIO M. DE SOUZA
CEF VALE DO AMANHECER
CEM STELLA DOS C.G.TROIS
DRE: PLANO PILOTO/CRUZEIRO
CESAS
CED 02 DO CRUZEIRO
CED GISNO
CEF 01 DO LAGO NORTE
CEF 06 DE BRASÍLIA
CEF 07 DE BRASÍLIA
CEM PAULO FREIRE
CEM SETOR OESTE
DRE: RECANTO DAS EMAS
CEF 106 DO REC. DAS EMAS
CEF 113 DO REC. DAS EMAS
CEF 206 DO REC. DAS EMAS
CEF 301 DO REC. DAS EMAS
CEF 308 DO REC. DAS EMAS
CEF 405 DO REC. DAS EMAS
CEF 802 DO REC. DAS EMAS
DRE: SAMAMBAIA
CEF 120 DE SAMAMBAIA
CEF 312 DE SAMAMBAIA
CEF 404 DE SAMAMBAIA
CEF 411 DE SAMAMBAIA
CEF 427 DE SAMAMBAIA
CEF 504 DE SAMAMBAIA
CEF 507 DE SAMAMBAIA
CEF 519 DE SAMAMBAIA
CEF 619 DE SAMAMBAIA
CEF MYRIAN ERVILHA
DRE: SANTA MARIA
CEF 201 DE SANTA MARIA
CEF 209 DE SANTA MARIA
CEF 213 DE SANTA MARIA
CEF 308 DE SANTA MARIA
CEF 316 DE SANTA MARIA
DRE: SÃO SEBASTIÃO
CAIC UNESCO
CEF SÃO BARTOLOMEU
CEF SÃO JOSÉ
CEM 01 DE SÃO SEBASTIÃO
EC AGROVILA SÃO SEBASTIÃO
DRE: SOBRADINHO
CED 02 DE SOBRADINHO
CED 03 DE SOBRADINHO
CED 04 DE SOBRADINHO
CEF 03 DE SOBRADINHO
CEF 04 DE SOBRADINHO
CEF 05 DE SOBRADINHO
CEF 07 DE SOBRADINHO
CEF 08 DE SOBRADINHO
CEF FERCAL
CEF PROF. CARLOS R. MOTA
DRE: TAGUATINGA
CED 02 DE TAGUATINGA
CED 04 DE TAGUATINGA
CED 06 DE TAGUATINGA
CEF 09 DE TAGUATINGA
CEF 11 DE TAGUATINGA
CEF 15 DE TAGUATINGA
CEF 16 DE TAGUATINGA
CEF 17 DE TAGUATINGA
CEM TAGUATINNGA NORTE