postado em 09/08/2009 10:03
Já dizia aquele antigo comercial: não basta ser pai, tem que participar. A frase é levada a sério por homens divorciados, viúvos e solteiros que cuidam sozinhos dos filhos. Nesse Dia dos Pais, o almoço será especial para aqueles que assumem todas as tarefas de casa e se desdobram na difícil função de criar um filho.
Há dois anos, todo dia é dia dos pais na casa do servidor público Sérgio Cruz, 41 anos. Ele se separou em 2004 e os filhos ficaram com a mãe. No fim de 2007, o casal concordou que Amanda, 10 anos, e Gabriel, 14, se mudariam para a casa do pai. Desde então, Sérgio retomou a rotina de levar as crianças ao médico, buscar na escola, deixar nas festinhas e cuidar para que a casa esteja sempre em ordem. O dia a dia é puxado, mas ter os filhos por perto é o maior prazer do servidor. "Quando eles não moravam comigo, eu ia na casa deles praticamente todos os dias, nem que fosse só para dar um beijo. A saudade era grande", lembrou.
A tradição da família Cruz no segundo domingo do mês de agosto é almoçar na casa dos pais de Sérgio, com todos os tios e primos reunidos. A data ganhou importância para o servidor depois da mudança das crianças. "Morando com eles, eu senti a responsabilidade de ser pai e passei a valorizar mais a data. É o nosso dia", comentou. Durante a semana, Amanda preparou uma surpresa para o pai: vai dar uma mochila para ele ir à academia, um beijo e um recado especial. "Vou dizer que eu amo muito ele. Ele é divertido, brinca com a gente e me leva ao cinema", disse a menina.
Sérgio tem dois amigos em situação parecida e acredita que está cada vez mais comum ver pais criando os filhos sozinhos. "Sabendo se adaptar e entendendo que as dificuldades vão aparecer, você consegue levar com tranquilidade", avaliou. O servidor aprendeu a não se estressar com os obstáculos do cotidiano. Na primeira vez em que Amanda pediu ajuda ao pai para passar chapinha nos cabelos, ele não sabia nem por onde começar. A saída foi chamar a avó das crianças. Acompanhar a menina na escolha de uma roupa nova também não é fácil. "Aí eu peço apoio para as moças da loja", brincou.
A psicóloga especializada em saúde materno-infantil Clarissa Kahn lembra que, em muitos casos, a criança que vai morar com o pai tem fortes vínculos com ele. Ela diz que, quando a mudança é resultado de um divórcio, os pais devem conversar com a criança desde o início. A opinião dos filhos é levada em conta na hora de definir a moradia. "Uma criança de 9 ou 10 anos pode saber com quem quer ficar. Mesmo assim, ela precisa passar por avaliação, porque às vezes optou por ficar com o pai ou a mãe por pena", completou.
Companheiros inseparáveis
Os integrantes da família Madureira são inseparáveis. O pai, o policial civil Cláudio Madureira, 36 anos, leva os três filhos para toda parte. Eles são companheiros de pescaria, acampamento, jogo de futebol, viagens e tardes soltando pipa na rua. Matheus, 13 anos, Vítor, 7, e Henrique, 4, moram com o pai há três anos. Cláudio se separou da mulher e os dois concordaram que os meninos ficariam na casa do pai. A rotina da família se manteve, mas o policial acumulou tarefas domésticas e se desdobrou para lavar, cozinhar e cuidar dos filhos. "Todo mundo achou que eu era louco, que não ia dar conta. Ficou mais puxado, mas eles me ajudam", considerou.
As duas avós cuidam dos meninos enquanto Cláudio trabalha, mas o grude é mesmo com o pai. As crianças não saem de perto e penduram-se no pescoço do pai, aconchegam-se no colo dele ou fazem um carinho. "Eu não saio sem eles, fazemos tudo juntos", acrescentou. O máximo de tempo que Cláudio passou sem os filhos foi quando os dois mais velhos viajaram para Londrina (PR) por 10 dias. Ele ligava duas vezes por dia para saber se os garotos estavam bem.
Cláudio voltou a ser criança com a convivência. Retomou os treinos de futebol, aderiu ao xadrez e ao videogame. "A gente sai para andar de bicicleta junto e jogar bola, é legal", disse Vítor. E como é morar em uma casa cheia de homens? "É uma bagunça, quase sempre dá confusão porque um entra no quarto do outro. Mas a gente se dá bem e eu posso conversar de tudo com ele", revelou Matheus. Os meninos planejam um domingo animado, com almoço na casa da avó paterna e brincadeiras durante a tarde. O presente do pai está escolhido: uma blusa de frio. Cláudio gosta de comemorar a data, mas acredita que todo dia é dia de se divertir com os filhos. "Tudo que eu fizer, sempre vai ser para eles e junto com eles. Eles são tudo para mim", declarou.
Confraternização
O almoço deste domingo, Dia dos Pais, na casa do advogado Sebastião Pereira Gomes, 52, seguirá a tradição dos anos anteriores. Os filhos estarão reunidos para entregar presentes e saborear a refeição preparada por um dos integrantes da família. Assim tem sido há 20 anos, quando quatro filhos do advogado passaram a viver somente com ele. Magali, 28 anos, Maria Luisa, 22, Carlos Augusto, 21, e Amanda, 15, moram com o pai desde crianças. No início, os amigos estranharam ver um pai lutar para ficar com os filhos. "Mas eu queria que eles ficassem comigo. Eu voltava do trabalho mais cedo para ficar com eles, botava para dormir, via se tinham escovado os dentes, conferia o dever de casa", lembrou.
Lidar sozinho com o crescimento das filhas não foi problema para o advogado. Quando elas entraram na adolescência, ele conversava sobre o assunto e dizia que queria ser avisado sobre a primeira menstruação para comemorar com a nova "mocinha" da casa. As três filhas sempre procuraram o pai para desabafar. Sebastião não tem pressa para voltar a viver sozinho."%u201CNão tem limite, enquanto eles quiserem, podem morar comigo. Dói no coração só de pensar neles saindo de casa", comentou o advogado.
Origem
Reza a lenda que um jovem chamado Elmesu, na antiga Babilônia, esculpiu em argila um cartão desejando sorte, saúde e longa vida ao pai. Nos EUA, Sonora Luise criou um dia para homenagear o pai em 1909 e a data se difundiu até ser oficializada no país, em 1972.