Cidades

Paraibano radicado em Planaltina ganha a vida produzindo miniaturas

Os temas variam entre personagens locais e religião

postado em 12/08/2009 08:15
O fundador de Planaltina, Mestre D?Armas, recebeu homenagemA arte de Adeilton Oliveira, 36 anos, faz com que parte dos 150 anos de história de Planaltina caiba em uma caixa de sapatos. As mãos delicadas do artesão esculpem em palitos de dente e de fósforo os 15 atos da via-sacra - celebração mais tradicional da cidade, no Morro da Capelinha - , 20 espécies de animais da Estação Ecológica de Águas Emendadas (1)e personagens da vida cultural local. Adeilton vai levar as 80 peças, cada uma de no máximo 3cm de altura, para exposição no Espaço Cultural Uberdan Cardoso, no centro histórico de Planaltina. A mostra começa no sábado e vai até o dia 31. A entrada é franca. O público poderá ver também os textos do poeta Marcos Alagoas e fotos de Celio Rodrigues.

A exposição faz parte das comemorações dos 150 anos da região administrativa, comemorados em 19 de agosto. Tudo começou com os bandeirantes. Os primeiros desbravadores de Goiás estavam em busca de ouro. Logo em seguida, surgiu a figura do português Mestre D;Armas. Nas miniaturas, os detalhes do fundador da cidade prevalecem. O bigode, feito em tinta branca e com o auxílio de um pincel mínimo, não poderia faltar. ;Afinal, português sem bigode não é português;, brincou Adeilton.

Também estão representadas nas obras as casas coloniais, manifestações religiosas, como a Festa do Divino, a capoeira e figuras folclóricas. As peças são feitas com esmero. É preciso concentração para transformar um palito de dente em um beija-flor, pintado de verde em tinta acrílica. Para fazer o bico da ave, o artista usou um pedaço do caule da sempre-viva, uma flor do cerrado. Cada escultura, para ficar em pé, se fixa em uma base de madeira macia. ;Dos 90 casarões que existiam aqui, nem a metade ficou erguida. Derrubaram tudo para fazer casas modernas. Esculpi olhando para as fotos antigas, para guardar um pedaço da história de Planaltina;, contou Adeilton.

A vontade de registrar a história da localidade, onde vive há 31 anos, fez com que o artista paraibano investisse quatro meses para fazer a via-sacra em miniatura. Cada cena, construída dentro de uma caixa de fósforos, mostra do primeiro ato até a ressurreição de Jesus Cristo. Entre os personagens esculpidos por Adeilton, também está um dos atores mais populares de Planaltina: o Preto Rezende. O zagueiro Lúcio, da Seleção Brasileira de futebol, além de divindades como Santa Rita de Cássia e Nossa Senhora de Aparecida, completam o trabalho do artista.

Sem preço
As únicas peças que ele não vende são as da via-sacra do Morro da Capelinha. ;Me ofereceram dinheiro várias vezes por elas, mas eu não vendo de jeito nenhum. Doei para a Administração Regional de Planaltina colocar em uma igreja, mas ninguém veio buscar;, lamentou o artista. ;Agora, vou dar todas elas para o Espaço Cultural Uberdan Cardoso, que leva o nome de um dos fundadores do espetáculo religioso. Fiz também uma miniatura em homenagem a ele, para a exposição de aniversário.;

Adeilton Oliveira comemora o sucesso, após mais de nove anos de dedicação e trabalho: Adeilton começou a fazer esculturas em 2000. Durante dois anos, ele se dedicou a pesquisar materiais para auxiliá-lo na execução das obras. ;Os pincéis convencionais, mesmo os mais finos, ainda são grandes demais para pintar um palito de dente. Depois de muito pensar, encontrei lixas de unha e alicates de precisão, que me ajudaram a conseguir o resultado desejado;, ensinou. ;Comecei a esculpir nesse material porque queria fazer algo autêntico, inusitado. Cada trabalho leva de uma a cinco horas para terminar. É a arte da precisão;, acrescentou. Cada peça custa, em média, R$ 20. Adeilton também faz bonecos por encomenda, o que garante a renda para sobreviver.

1 - RIQUEZA NATURAL
A área de Águas Emendadas fica a 50km do Plano Piloto e faz limite com Planaltina de Goiás, ao norte. A reserva natural tem mais de 10.547 hectares. Dentro desta unidade de conservação, nascem duas das principais bacias hidrográficas brasileiras: a do Tocantins e a do Paraná-Prata.

; Para saber mais
História dividida

A região onde hoje fica Planaltina passou a ser frequentada como ponto de passagem da Estrada Real, usada para transporte de ouro na primeira metade do século 18. O primeiro nome do povoado foi Mestre D/;Armas, em homenagem ao ferreiro português, perito em armas, instalado na região. Em l9 de agosto de 1859, pela Lei n; 3, da Assembleia Provincial de Goiás, criou-se o Distrito de Mestre D/;Armas. Em 1892, a Comissão Exploradora do Planalto Central realizou os primeiros estudos para a implantação da futura Capital Federal do Planalto Central, chegando a Planaltina. A comissão teve como resultado do trabalho a demarcação da área onde se construiria a nova capital. Em 1955, outra comissão delimitou definitivamente a região e o sítio do Distrito Federal. O quadrilátero ficou sobreposto a três municípios goianos, entre os quais Planaltina, que teve território dividido em duas partes. A área de fora do DF passou a se chamar Planaltina de Goiás, conhecida como Brasilinha.

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