Jornal Correio Braziliense

Cidades

Cobrança de taxa extra torna-se uma constante em condomínios

Além do reajuste de 9%, em média, este ano, moradores pagam adicionais por conta de reformas o tempo todo

A cada dia fica mais caro morar em prédio. As taxas de condomínio aumentaram, em média, 9% desde o início do ano, segundo o Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (Sindicondomínio). O percentual é o dobro da inflação registrada nos últimos 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). Não bastasse isso, as taxas extras por conta de reformas são tão constantes que, em muitos casos, viraram parcelas fixas. Resultado: uma inadimplência de até 20%, ainda de acordo com o sindicato.

O prédio da 309 Sul onde o professor universitário Sérgio Araújo Figueiredo, 43 anos, vive com a família está em reforma. O proprietário de cada um dos 48 apartamentos vai desembolsar R$ 600 durante cinco meses para manter a obra no pilotis. Sérgio se livrou da taxa extra porque é inquilino. Mesmo assim, gasta R$ 2 mil de aluguel, mais R$ 420 de condomínio para morar perto do local de trabalho. ;Não tem salão de festa, parquinho, sauna, piscina, cobertura, nada. O que justifica uma taxa de condomínio dessas?;, questiona.

Há casos em que a taxa de condomínio é mais cara que o próprio aluguel. Na avaliação do presidente do Sindicondomínio, José Geraldo Dias Pimentel, o aumento observado este ano nada mais é do que um ajuste nas contas. ;Aumenta água, energia elétrica, aumenta tudo. Claro que precisa haver um alinhamento de preço;, justifica. ;É apenas um reflexo. Não é que está ficando mais caro, é que alguns custos precisam ser administrados;, completa Pimentel.

Os prédios das asas Sul e Norte têm, geralmente, 48 apartamentos. A taxa de condomínio é um rateio das despesas comuns. Gasta-se com funcionários, manutenção, conservação, luz. Porém, a conta mais cara costuma ser a de água. A síndica do Bloco K da 311 Sul, Edivânia Alves, 50, paga todo mês pelo menos R$ 5 mil à Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), o equivalente a um quarto do total das despesas do condomínio.

Edivânia é síndica há quatro anos. Quando assumiu o cargo, o prédio tinha 35 anos de existência e nunca havia passado por uma grande obra. Não teve jeito, segundo ela. Somadas à taxa de condomínio ; de R$ 450 ou R$ 400, para quem paga até o dia 10 ;, surgiram as taxas extras. Atualmente são três, que podem chegar a R$ 600. ;Quem reclama fica satisfeito depois, quando vê o resultado;, comenta ela, ao mostrar a reforma do pilotis, da fachada, das janelas e a construção do jardim.

O presidente do Sindicondomínio acredita que o custo de vida nos condomínios está mais alto também pela exigência dos moradores. ;Todo mundo quer melhores condições e qualidade de vida. Então, se o morador exige benefícios, mais serviços e opções, é óbvio que isso vai influenciar na taxa;, argumenta. No entanto, Pimentel critica as taxas extras. As reformas são necessárias, mas, para ele, podem ser feitas sem cobrar além da taxa normal. ;Falta planejamento;, opina. Para auxiliar os síndicos na tarefa de administrar um condomínio, o sindicato lançou o primeiro curso superior (1)em gestão na área, que será ministrado por professores do Centro Universitário do DF (UDF).

[SAIBAMAIS]O aposentado Antônio Alves, 64, não reclama da taxa extra de R$ 160 exigida para o início da obra que vai trocar as esquadrias da fachada do prédio. ;Se não tem reforma a coisa não melhora, né?;, afirma. O prédio em que vive, na Quadra 1307 do Cruzeiro Novo, tem 24 apartamentos distribuídos por quatro andares. Não há elevadores. ;Pago R$ 430 de condomínio mais taxa extra, mas pelo menos estou morando em uma área boa;, avalia.

No Sudoeste, o bancário Marcelo Siconi, 29, desembolsa quase R$ 500 de condomínio. O prédio tem menos de dois anos. São quatro andares, com 30 apartamentos do tipo loft em cada um. Recentemente, os moradores decidiram romper o contrato com uma empresa de professores de educação física, que atuava na academia do prédio. A medida diminuiu um pouco a taxa mensal. ;Foi uma questão de bom senso. Poucas pessoas estavam usando o serviço;, explica o bancário.

A decisão serve de exemplo, na opinião do presidente do Sindicondomínio. Pimentel defende que os moradores precisam assumir o compromisso de reduzir custos para, então, poder exigir taxas menores. ;As pessoas precisam ser mais participativas, colaborar mais com o síndico com ideias e soluções;, comenta. Por sua vez, lembra, o síndico não deve deixar que o contador seja o responsável pelo controle das despesas. ;Essa responsabilidade é do síndico;, sustenta.

1 - Gestão
As provas do vestibular para o curso superior em gestão de condomínio serão aplicadas amanhã. Os aprovados terão aulas em áreas como planejamento, desenvolvimento sustentável, gestão de pessoas e direito. O curso, com duração entre 2 e 3 anos, será ministrado por professores do Centro Universitário do DF (UDF).


; HIDROMETRAÇÃO FACULTATIVA

A instalação de hidrômetros individuais nos prédios residenciais do Distrito Federal não é mais obrigatória desde o início deste mês, quando foi publicada no Diário Oficial do DF uma lei que torna facultativo o uso do sistema de medição do consumo de água por apartamento. Cada condomínio, no entanto, terá de decidir, em assembleia, se irá ou não adotar a hidrometração individual. Caso a maioria vote por não instalar o sistema, o condomínio será responsável por comunicar a decisão à Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal (Adasa) até janeiro de 2015. A hidrometração individual faz com que os condomínios gastem menos com água. Uma lei de 2005 tornou obrigatória a instalação do sistema até 2010. Mas a legislação criou polêmica e muitos síndicos reclamaram da obrigatoriedade, sob a alegação de que não tinha viabilidade técnica e/ou financeira.