postado em 17/08/2009 08:19
O enterro do adolescente P.H.C.S, 16 anos, morto no sábado por enforcamento, no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), deve ocorrer ainda hoje. O local e horário não foram divulgados pela família. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Distribuição de Renda (Sedest) deve providenciar o sepultamento, devido à condição financeira dos parentes. Não deve haver velório, por causa do alto custo da cerimônia.Dois colegas de quarto da vítima, ambos de 17 anos, assumiram a autoria do crime, em depoimento à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) na tarde de sábado. A dupla foi apresentada ao juiz da Vara da Infância e Juventude na manhã de ontem. Os prováveis assassinos não estão mais no módulo 37, onde o crime ocorreu. Eles receberam transferência para uma área de isolamento, dentro do Caje, onde ficam os menores psicopatas.
Durante a semana, a Sejus vai pedir autorização ao juiz para levar um dos meninos para a unidade de internação do Recanto das Emas e o outro para Planaltina. A DCA ainda apura o envolvimento de um terceiro menor no assassinato. ;É comum que um inocente assuma a culpa no lugar do amigo. Há muita coação entre esses jovens. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) deve sair em 10 dias. Só então os policiais terão certeza de quem o matou;, afirmou o subsecretário da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, João Marcelo Feitosa. Segundo ele, não houve negligência na segurança dos internos, pois havia 38 monitores de plantão no momento do crime. ;Foi um ato isolado, um problema pessoal entre os adolescentes, que nós não tínhamos como prever.;
Preocupação
A mãe do jovem esteve ontem no IML, para liberar o corpo. Ela recebeu a notícia por volta das 17h de sábado, quando chegava em casa, após cumprir expediente como empregada doméstica. Segundo a assistente social que deu a notícia do óbito, a mãe chorou e disse que os colegas de quarto do filho pareciam bons meninos e que a atitude era inesperada. A mãe os conhecia das visitas de domingo, onde todos conversavam e almoçavam juntos. A mulher era a única familiar a frequentar o Caje para ver o rapaz.
A noite e o dia seguintes à tragédia seguiram com tranquilidade no Caje. Não houve manifestações de revolta por conta do ocorrido, segundo a Sejus. As visitas de domingo ocorreram normalmente, das 11h às 17h, inclusive na ala onde o menino estava internado. Mas, de acordo com familiares que saiam da instituição na manhã e na tarde de ontem, o clima dentro da instituição era de total insegurança.
Parentes dos internos mostraram-se preocupados. ;Não consegui dormir na noite de sábado para domingo. Uma angústia tomou conta de mim. E se fosse o meu menino? A gente não consegue saber se eles correm perigo no Caje, porque os garotos têm medo de contar;, disse Marilene Machado, 42 anos, manicure, moradora de Águas Lindas, que chegou cedo para visitar o filho.
Outra visitante aflita, que não quis se identificar por medo de represária ao filho, afirmou ter ligado diversas vezes para a diretoria do centro de reabilitação de menores na noite de sábado, sem conseguir informações sobre o ocorrido. ;Vi reportagens sobre a morte do menino, mas nenhum funcionário do Caje quis me dizer se ocorreu rebelião ou se mais alguém tinha morrido. A vida é muito dura para a mãe de um menor infrator;, lamentou.
EU ACHO...
;Não entendo como pode haver tanta desordem no Caje, mesmo com a existência de um Estatuto da Criança e do Adolescente. Os meninos são infratores, cometeram erros gravíssimos. Mas são tudo na vida da família, não deixam de ser gente. A meu ver, não deveriam deixar mais de dois meninos juntos em um quarto. Essa medida aumentaria a segurança;,
Valquíria Neves,
38 anos, autônoma, moradora de Ceilândia, mãe de um interno.