Cidades

Brasiliense perde o respeito à faixa

Percentual de pedestres mortos em local sinalizado aumenta a cada ano

Adriana Bernardes
postado em 19/08/2009 08:21
O respeito à faixa de pedestre em Brasília cai aos poucos no esquecimento. Após 12 anos de implantação no Distrito Federal, o percentual de pessoas mortas durante a travessia bate recorde. Dos 59 atropelamentos fatais ocorridos no primeiro semestre de 2009, seis ocorreram sobre o local sinalizado. Isso representa 10,2% do total de vítimas. Até então, o maior percentual registrado na capital do país era de 6,8%, calculado em 2006 pelo Departamento de Trânsito do DF (Detran). Houve 132 mortes há três anos, nove delas sobre as listras pintadas de branco.

Flagrante de imprudência na área central do Plano PilotoA análise dos anos anteriores mostra uma tendência de aumento no número de casos. Ao longo do ano passado, por exemplo, 157 pessoas perderam a vida por causa de atropelamentos, seis delas sobre a faixa ; todos os acidentes fatais nas faixas no período ocorreram depois que pelo menos um veículo havia parado antes da sinalização. O percentual sobre o total ficou em 3,8%. E se mostrava três vezes maior do que o registrado em 2007.

O diretor-geral do Detran-DF, Cezar Caldas, reconheceu a gravidade da situação. Até o fim de agosto, técnicos do órgão terão concluído o mapeamento das faixas existentes no Distrito Federal. O estudo vai detalhar a quantidade delas por cidade e endereço. ;Depois disso, uma equipe técnica composta por uma pessoa do setor de educação, outra da engenharia e um especialista em acidente de trânsito visitará cada uma delas para avaliar se estão bem localizadas e sinalizadas;, adiantou Caldas.

É provável que ocorram mudanças em Ceilândia, cidade com o maior número de atropelamentos. Segundo Caldas, a Avenida Hélio Prates, por ter fluxo intenso de veículos, três faixas de rolamento e um número grande de pedestres, exige travessia com semáforo. Nos demais locais, o órgão de trânsito estuda colocar sonorizadores ou taxões antes das faixas para chamar a atenção dos motoristas.

Em 1997, o DF se tornou referência nacional ao assegurar para o pedestre o direito e a preferência para atravessar onde houver faixa. O governo adotou fiscalização intensa para garantir a travessia segura. Na época, o Correio aderiu à divulgação da campanha. Pelo menos 150 policiais militares ficaram encarregados de garantir o respeito à faixa no Plano Piloto. E 650 multas acabaram emitidas em 24 horas. O sucesso da iniciativa ficou evidente em 1998, quando o número de faixas praticamente dobrou. Uma pessoa morreu atropelada na tentativa de chegar ao outro lado da rua pelo caminho correto.

Flagrantes nas ruas
As vias do DF têm 4.880 faixas pintadas, segundo levantamento do Detran-DF. A quantidade se limitava a 600 há 12 anos ; o aumento é de 713,3%. Para o diretor-geral do órgão, Cezar Caldas, a diferença deve ser levada em consideração no momento em que se fala em aumento de mortes sobre as travessias sinalizadas. ;Precisamos reconhecer que há um número muito maior de pedestres usando esses locais. Portanto, as chances de acontecer alguma coisa são maiores;, avaliou.

Nas ruas, não precisa esperar muito nem ser especialista em trânsito para ver as imprudências cometidas por motoristas e pedestres. A reportagem flagrou ontem à tarde um homem atravessando a via na diagonal, em meio aos carros, contrariando todas as recomendações de segurança. Em frente ao Pátio Brasil, na W3 Sul, apesar de a travessia ser com semáforo, as pessoas atravessavam com o sinal aberto para os carros. O contrário também ocorre.

O diretor do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito (IST) e professor da Universidade de Brasília (UnB), David Duarte Lima, acredita que as mortes sobre as faixas serão menores a partir do momento em que os órgãos responsáveis ; Detran-DF e Batalhão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) ; retomarem a fiscalização. Lima imagina que, no DF, 95% das pessoas habilitadas sabem que devem dar preferência ao pedestre. ;É uma questão de fiscalizar mesmo. Hoje, o motorista sabe que, se não parar para o pedestre, não acontece nada porque a fiscalização é falha;, disse.

Para Lima, as estatísticas dos atropelamentos fatais se limitam a parte do problema. Segundo ele, para cada morte sobre a faixa, pelo menos 20 pessoas ficaram feridas e acabaram hospitalizadas. ;Um número 100 vezes maior foi ameaçada por um veículo. Teve que correr ou dar um pulo para trás para não ser atropelada. O trânsito tem diversos níveis de violência que nem sempre aparecem nos números.; Caldas assegurou que a fiscalização será reforçada após a posse de 123 concursados.

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