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Planaltina completa 150 anos de história

Cidade faz um século e meio com agenda lotada. Shows, apresentações e exposições estão previstos até setembro. Problemas de infraestrutura, porém, ainda incomodam a população

postado em 19/08/2009 08:35
Tempo de ir à igreja, de conversar na porta de casa, de soltar as crianças e deixar elas brincarem na rua e em meio à natureza. Há mais de um século, os primeiros moradores de Planaltina não tinham muito com o que se preocupar. A mais antiga cidade do Distrito Federal nasceu tão pacata quanto muitas localidades do interior goiano. Mas a construção da nova capital do Brasil a fez crescer e se desenvolver. Ganhou corpo e, 150 anos depois da fundação (leia Linha do tempo), celebra mais um aniversário. A festa começa hoje. O momento mais aguardado ocorre a partir das 12h30. Um bolo de 150m e 9 toneladas, o maior feito no DF, será distribuído à população.

Terezinha Queiroz chegou à região em 1972. Sente falta da tranquilidade do passadoA programação começa hoje e segue até 11 de setembro. Estão previstas no período inaugurações, competições, exposições e melhorias na infraestrutura loca. A data de início das festividades reserva logo muita diversão e cultura. Os planaltinenses poderão, a partir das 18h, se divertir com a apresentação de bandas de estilos dos mais diversos. O padre Fábio de Melo, sensação do momento, sobe ao palco às 23h. A expectativa é de que os shows atraiam pelo menos 120 mil pessoas.

Planaltina também alcança 150 anos com problemas típicos de uma cidade grande. Quando foi criada, não tinha asfalto, esgoto e água tratada. Nos últimos 20 anos, testemunhou um inchaço populacional. Havia 90 mil habitantes em 1991. Hoje, há 230 mil. A explosão demográfica fez a área crescer sem planejamento. Os assentamentos começaram a surgir em ritmo acelerado e várias invasões mudaram a cara da região administrativa. Resultado: o jeitão de interior dos bairros mais antigos quase se perdeu.

É essa época vivida décadas atrás que deixa saudades para os primeiros moradores. Terezinha Pinto de Queiroz, 69 anos, guarda na memória lembranças agradáveis de tempos mais remotos. Ela chegou ao Setor Tradicional em 1972, com o marido e os cinco filhos. A casa dela fica em local privilegiado. Construída em frente à Igreja São Sebastião, erguida em 1811 pelas famílias Gomes Rabello e Carlos Alarcão ; o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou a construção em 1982. Terezinha lembra bem de quando as crianças jogavam bola na praça e brincavam sem medo até o anoitecer. ;Era tudo muito tranquilo. Não tinha tanta gente como tem hoje e não existia essa bandidagem. Sinto saudade do sossego daquele tempo;, contou.

Além de ruas de paralelepípedo, o Setor Tradicional ainda abriga alguns casarões centenários. Na Avenida Salviano Guimarães, resiste até hoje o hotel O Casarão. Construída em 1978, a estrutura abriga 23 quartos. Estão todos ocupados em razão do aniversário de Planaltina. ;As pessoas gostam de ficar aqui por causa da calmaria;, destacou a gerente Silzene Almeida Rodrigues, 44, que trabalha há 15 no local.

Desemprego e violência
Escolas públicas e particulares aproveitaram as comemorações para colocar a história da cidade no currículo da garotada. Ontem pela manhã, 169 estudantes do Centro de Ensino Fundamental 2, a Escola Paroquial, visitaram o museu histórico local. Natália Teixeira, 14 anos, Amanda Silva Soares, 12 e Karla Raiane Rosa de Andrade, 11, estavam curiosas para saber a origem de várias peças históricas. Anotaram tudo, pois será cobrado em trabalho escolar. Os estudantes, porém, não tiveram acesso a um piano, uma namoradeira e uma chapeleira. Os objetos passam por restauração há cerca de um mês. ;A previsão era de tê-los de volta para o aniversário, mas acho que não vai dar tempo;, lamentou a expositora Raimunda Eliezita Monteiro.

Para o administrador da cidade, Aylton Gomes, Planaltina também enfrenta dificuldades como pouca oferta de emprego e disputas entre jovens de gangues. Alguns grupos brigam por território no Jardim Roriz , antigo Agreste, e Vila Buritis II, o Pombal. Para conter a violência, o Gomes acredita que é preciso fazer um trabalho dentro da escola e com a família. ;Vamos passar a promover a integração entre os meninos das escolas dos dois bairros. Dessa forma, quando eles crescerem e forem para o bairro do outro, não haverá rivalidade;, afirmou.

Programe-se

A festa de aniversário segue até 11 de setembro. Confira as principais atrações de hoje:

9h
Inauguração do Centro Educacional Dona América Guimarães
Aulão de ginástica, festival de esportes, soltura de pipas, brinquedos e campeonato de jiu-jitsu na Praça do Estudante

10h às 14h
Futebol de Sabão na Praça do Estudante

12h30
Corte do bolo de 150m no estacionamento da administração da cidade

12h30
Exposição do Arquivo Público no estacionamento da administração da cidade

18h às 23h
Várias apresentações musicais. Entre elas, Trio Siridó, Cuscuz com Leite e padre Fábio de Melo

PERSONAGENS DA NOTÍCIA
Orgulho de onde tudo começou

Fim de festa. Hora da despedida. Para solteiros, é o momento de fazer a última investida. A piauiense Sued Barbosa da Cruz, 19 anos, não perdeu tempo. O comerciante Maurício Nunes se despedia dos amigos para ir embora. Ambos estavam na Feira Alternativa de Planaltina, realizada todos os anos na Praça São Sebastião, no Setor Tradicional. Na hora de ir embora, os olhares se encontraram e o coração bateu mais forte. Aconteceu, então, o primeiro beijo, que marcou o começo do namoro e o casal. A praça da cidade virou lugar especial. Sued e Maurício continuam firme e fortes. E todos os dias tiram um tempinho para namorar no local onde tudo começou. Um deita no colo do outro e faz cafunés. Tudo sem exagero e com romantismo. ;Ele chegou em minha vida no momento certo e foi uma mudança de vida para mim. Ele me pediu em noivado há dois meses e estamos planejando nos casar;, contou Sued, com brilho nos olhos de felicidade.

LINHA DO TEMPO

1790
Os documentos existentes não indicam a data da fundação de Planaltina, mas acredita-se que ela tenha ocorrido no fim do século 18. A localidade, até então, funciona como ponto de passagem da Estrada Real, usada para transporte de ouro na primeira metade do mesmo século. O primeiro nome do povoado é Mestre D/;Armas, em homenagem ao ferreiro português, perito em armas, instalado na região.

19 de agosto de 1859
A Lei n; 03, da Assembleia Provincial de Goiás, cria o distrito de Mestre D/;Armas, pertencente à época ao município de Formosa (GO). A data passa a ser a oficial da fundação de Planaltina, futuro nome da localidade.

1892
A Comissão Exploradora do Planalto Central realiza os primeiros estudos para a implantação da futura Capital Federal do Planalto Central, chegando a Planaltina. A comissão tem como resultado do trabalho a demarcação da área onde se construiria a nova capital.

14 de julho de 1917
A cidade recebe o nome de Planaltina, diminutivo feminino da palavra Planalto.

7 de setembro de 1922
A pedra fundamental é assentada no Morro do Centenário, na Serra da Independência, localizada a 9km da cidade. É onde se encontra o centro geodésico do Brasil.

1955
Em 1955, outra comissão delimita definitivamente a região e o sítio do Distrito Federal. O quadrilátero fica sobreposto a três municípios goianos, entre os quais Planaltina, que teve território dividido em duas partes. A área de fora do DF passou a se chamar Planaltina de Goiás, conhecida como Brasilinha.

1966
Planaltina começa a sofrer com o surgimento de invasões. Muitas pessoas de baixa renda oriundas de vários cantos do país passam a morar na cidade. Nascia, então, a Vila Vicentina, Setor Residencial Leste (Vila Buritis I, II, e III), Setor Residencial Norte A (Jardim Roriz). O Setor Tradicional, também conhecido como Planaltina Velha, aumenta ainda mais.

22 de abril de 1974

O museu histórico é inaugurado. A restauração ocorre em 2007, sendo reaberto em 15 de janeiro de 2008.

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