Cidades

Quatro anos após a morte da filha, família Del'Isola segue firme na realização de ações solidárias

postado em 27/08/2009 08:00
Cristina Del%u2019Isola (D) e integrantes do movimento com crianças de instituto no Lago Sul: busca por voluntáriosTransformar a dor em solidariedade não é tarefa das mais fáceis. Mas a família de Maria Cláudia Del;Isola (ver Memória) encontrou na caridade um caminho para superar a tragédia e a revolta. A menina, à época com 19 anos, foi assassinada e violentada, em 2004, pelo caseiro e pela empregada da casa onde vivia, no Lago Sul. No ano seguinte, os parentes formaram o Movimento Maria Cláudia Pela Paz. A intenção é incentivar jovens carentes a valorizar a própria vida e a dos outros.

O projeto mais recente do grupo consiste em auxiliar o Instituto Nossa Senhora da Piedade, na QI 5, Chácara 7, Lago Sul. Neste domingo, a partir das 17h, o grupo realiza um desfile beneficente no local para angariar o dinheiro da reforma da casa. O telhado do espaço onde funciona o Instituto Nossa Senhora da Piedade está caindo aos pedaços. O refeitório não comporta todos os moradores. A instituição existe desde 1961. Um grupo de freiras ganhou o terreno do governo, à época da fundação de Brasília, e o casarão ergueu-se por meio de doações.

Com o passar do tempo, ficou difícil manter o lar que cuidava de meninos e meninas menores de 18 anos em tempo integral, em regime de internato. ;As irmãs não têm ajuda do governo e vivem de doações, que não são muitas, mesmo com a vizinhança tão privilegiada;, relata a mãe de Maria Cláudia, Cristina Del;Isola.

Atualmente, 120 crianças, de quatro a 14 anos, moradoras de cidades como Itapoã e São Sebastião, frequentam o espaço em turnos contrários ao da escola. A limpeza, a cozinha, cuidados com os garotos na hora do banho, tudo fica a cargo de três religiosas e duas voluntárias. ;O mundo tem muitas tristezas, mas também possibilidade de mudança. Queremos mostrar a esses seres humanos que eles podem ser pessoas melhores, mesmo tendo uma vida complicada;, explica Cristina.

O evento de domingo deve servir para recrutar colaboradores para as ações sociais do movimento. A maior parte dos 300 convites já foi vendida. O ingresso custa R$ 20, incluindo lanche. Um bingo deve animar a tarde. As modelos que vão desfilar são manequins e mulheres comuns, todas voluntárias. ;Recebemos colares e roupas de estilistas conhecidos em Brasília. Vamos vender tudo para pagar as obras do instituto;, diz Cristina.

O local fica a uma quadra de onde a psicopedagoga Cristina Maria e o educador Marco Antônio, pais de Maria Cláudia, e Maria Fernanda Del;Isola, a irmã mais velha, vivem até hoje. A casa da família foi o cenário para o crime bárbaro. Mas eles optaram por não se mudar e construíram um oratório no espaço perto de onde o corpo da menina foi encontrado, em 9 de dezembro de 2004. ;Todo dia 9, nos reunimos na minha casa para rezar. Não é uma forma de lamúria, mas sim de fortalecimento. Ajudar ao próximo me fortalece para enfrentar o dia a dia;, explica Cristina.

Além do auxílio financeiro, o Movimento Maria Cláudia Pela Paz precisa de mão de obra voluntária. Atualmente, duas professoras dão aula de informática e artes para os jovens. Porém, é necessário mais gente para cuidar dos hóspedes e ajudar na manutenção das tarefas da casa.

Paz
Amigos dos Del;Isola e membros da comunidade se reuniram para formar o Movimento Maria Cláudia Pela Paz, em 8 de março de 2005. Na oportunidade, os integrantes entregaram aos presidentes do Senado e da Câmara um documento exigindo medidas para acabar com a violência. ;Aprendi que as pessoas não precisam viver uma tragédia para enxergar quem está bem perto. Muitas vezes, deixa-se de lado a essência humana. É isso que queremos evitar;, esclarece Cristina. Hoje, o grupo tem 500 membros e pretende se tornar uma associação.

COMO AJUDAR
Para comprar o convite do desfile, contribuir ou participar do Movimento Maria Cláudia Pela Paz, ligue: 9966-3483 (falar com Marta).

; Memória
Violência gratuita

Em 9 de dezembro de 2004, Maria Cláudia Siqueira Del;Isola, 19 anos, estudante de psicologia e pedagogia, teve a vida interrompida de forma violenta pelo caseiro Bernadino do Espírito Santo, 35 anos, e pela mulher dele, a cozinheira Adriana de Jesus Santos, 26 anos. Os dois empregados trabalhavam e moravam na casa da família, no Lago Sul, havia dois anos. Durante três dias, a família de Maria Cláudia acreditava que a menina estivesse desaparecida. Somente em 12 de dezembro eles descobriram que a filha mais nova estava morta e enterrada dentro da própria casa, perto do jardim.

O crime teria sido planejado por Bernadino, de acordo com os depoimentos de Adriana à polícia. Ela relatou, em depoimento, que decidiu apoia-lo porque tinha inveja e ciúmes da estudante por ela ser ;rica e bonita;, enquanto Adriana era ;pobre e feia;.

Os assassinos recebiam ajuda dos patrões para criar o filho único do casal. Mas a generosidade não foi suficiente para evitar o barbárie. Os dois mataram Maria Cláudia a facadas, após a violentarem e a estrangularem. Em 2007, Bernadino foi condenado a 65 anos de prisão e Adriana, a 58.

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