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Alunos de escolas públicas do DF se envolvem na divertida aventura de compor músicas

postado em 27/08/2009 07:50

Jailton Pereira Lima, de 9 anos, troca ideias com o produtor Beto Batata: A mistura de rap com estudo tem dado certo em escolas públicas do DF. Desde o início do mês, artistas da cidade levam o estilo musical para colégios participantes do projeto Rap com ciência. Os estudantes criaram músicas inspirados no projeto Ciência em foco, presente em todas as escolas de ensino fundamental do DF. Na manhã de ontem, eles conheceram as canções escritas por alunos da Escola Classe 303 de São Sebastião. Hoje é o último dia da seleção ; o próximo passo é o aperfeiçoamento das letras e produção do CD. As crianças escolhidas entrarão no estúdio para gravar um disco com 15 faixas. Os rappers visitaram 15 escolas públicas de ensino fundamental em busca de talentos. Eles apresentam um rápido show para inspirar as crianças e voltam dias depois para a audição. A ideia inicial era selecionar um representante de cada escola, mas os rappers não resistiram à simpatia da garotada e chamaram cerca de 80 crianças. Elas participarão dos ensaios e da elaboração das músicas. O CD ficará pronto até 20 de outubro. O primeiro candidato da audição foi o estudante da 3; série Jailton Pereira Lima, 9 anos. O garoto se dedica a três paixões: música, dança e futebol. Sonha em ser jogador do Flamengo depois de adulto, mas, por enquanto, aproveita a infância para aprender break e rap. ;Minha mãe diz que, quando a gente é criança, pode dançar e cantar. Vi o break na TV e achei legal, aí minha prima me ensinou;, disse. Jailton teve o talento reconhecido em rede nacional no ano passado. Ele dançou no palco do programa Domingão do Faustão, na TV Globo, e faturou o primeiro lugar no quadro Se vira nos trinta. ;Deu um nervoso na hora, mas consegui;, comemorou. Jailton escreveu versos sobre as experiências feitas no Ciência em foco e a rotina da escola: ;A gente vê uns assuntos legais. Eu já aprendi sobre as rochas e as minhocas;. O menino não se intimidou ao cantar a música para os jurados e não vê a hora de entrar no estúdio. ;Quando eles falaram que iam gravar o CD, fiquei ansioso e escrevi a música. É o primeiro rap que eu escrevi na vida;, disse. O Rap com ciência é uma parceria entre a Secretaria de Educação, a Sangari Brasil e um grupo de artistas da cidade. O rapper Marcos Vinícios Morais, 38 anos, mais conhecido como Japão, teve a ideia de unir a ciência com a música e fazer disso um incentivo para as crianças. ;O rap está inserido nas comunidades, as crianças escutam nas rádios comunitárias e nos CDs. Vamos mostrar a importância de o aluno estar na escola e transformar isso em música;, comentou Japão. O rapper começou a carreira aos 18 anos em Ceilândia e hoje se apresenta com a banda Viela 17. Ele se surpreendeu com o talento de crianças envolvidas com arte desde cedo. ;Tem menino que já canta bem, é impossível deixar fora do CD. Encontramos uma menina que aprendeu a dançar balé vendo TV. Descobrimos muita coisa que foge dos olhos da sociedade;, disse. Participação infantil Um jovem de 13 anos entrou tímido na sala da audição com uma folha de papel escrita da primeira linha à última. Era João Vítor Cavalcante, aluno da 3; série do colégio, que fez um rap sobre a vida em São Sebastião e o dia a dia na escola. ;É um pouco difícil fazer as rimas, levei dois dias para terminar. Quero ser cantor de rap, mas também gosto de funk e hip-hop;, revelou. Ele falou dos experimentos científicos que mais gostou de fazer, como a medição da chuva com o pluviômetro. O nervosismo desapareceu logo que ele terminou de cantar e passou para a etapa de refinamento da letra. O produtor musical Roberto Monsueth, 28 anos, conhecido como Beto Batata, sentou-se na carteira ao lado de Vítor para ajudá-lo a melhorar o trabalho. As meninas marcaram presença nas audições nas escolas e mostraram que entendem de rap tanto quanto os meninos. Um grupo de garotas da 3; série do colégio de São Sebastião se dedicou a construir rimas sobre o Ciência em foco. ;Escrevi que ciência não é brincadeira, é para aprender;, ressaltou Leidiane Nascimento, 11 anos. Ela conheceu o estilo musical por meio do tio, que sempre escuta rap em casa ;no último volume;, como descreveu a menina. Quando crescerem, Leidiane e as amigas querem ser cantoras, atrizes e, acima de tudo, celebridades. ;Quero aparecer na TV e ser famosa;, afirmou Aline dos Santos Bispo, 9 anos. Aline aprendeu passos de break com a mãe e se inspira nas amigas para dançar forró e funk, seus ritmos preferidos. Ciência na prática No ano passado, as escolas públicas de ensino fundamental receberam um armário com livros e ferramentas para o estudo da ciência em sala de aula. Com ele, os alunos fazem experiências como o plantio de mudas, a análise de rochas e o estudo do tempo. Rima e ritmo O rap começou nos anos 70 com as festas de rua, em que era comum ter um mestre de cerimônias (chamado MC) para animar a plateia. O estilo musical tem raízes no funk e no jazz e as letras geralmente abordam problemas sociais e de violência. O rap faz parte do movimento hip-hop.

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