Rodolfo Borges
postado em 27/08/2009 08:15
O torcedor do São Paulo Nilton César de Jesus poderia estar vivo se, no dia do último jogo do Campeonato Brasileiro de Futebol do ano passado, o sargento José Luiz Carvalho Barreto carregasse um spray de pimenta em vez de uma pistola. Em dezembro, ao tentar controlar o tumulto em torno do estádio Bezerrão, no Gama, o policial deu uma coronhada na nuca de Nilton e a arma disparou involuntariamente, acertando a cabeça do rapaz. Oito meses depois, a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) se prepara para expandir o uso de armas não letais(1) na capital do país.O órgão fechou há quatro meses a compra de R$ 6,7 milhões nesse tipo de armamento, que deve começar a ser usado nos próximos meses por policiais militares e civis e por agentes do sistema penitenciário do DF. O investimento faz parte das preparações para sediar a Copa de 2014 e deve render a cada posto comunitário de segurança pelo menos um spray de pimenta, segundo adiantou o secretário de Segurança Pública, Valmir Lemos.
A ideia é tornar Brasília referência em segurança pública antes mesmo da Copa. ;O ideal é que cada policial conheça essa tecnologia e a tenha à disposição sempre que precisar;, disse Lemos, depois de acompanhar uma demonstração realizada pela Condor Tecnologias Não Letais, na Academia Nacional de Polícia, em Brasília. ;É um investimento que tem de ser feito, mas vai ocorrer dentro de um planejamento e respeitando limitações de orçamento;, afirmou.
Metade do valor gasto em abril pela SSP-DF com armas não letais foi reservado para a compra de 25.093 sprays de espuma com pimenta, que atingem o alvo com mais precisão e sem incomodar as pessoas em volta. A lista de compras também envolve balas de borracha de diferentes calibres e granadas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, que ainda serão entregues ao Governo do Distrito Federal (GDF).
Dosagem de força
Apenas o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do DF usa hoje armas não letais. Segundo o comandante do policiamento da Polícia Militar do DF, coronel Luiz Fonseca, o equipamento, que chegou por meio do Programa de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça, começou a ser usado neste ano.
Para Antônio Carlos Magalhães, diretor de relações institucionais da Condor, a opção por esse tipo de arma tem ganhado força no Brasil, apesar de a tecnologia ainda enfrentar resistência. ;Nas academias, o policial ainda aprende a usar armas de fogo;, explicou Magalhães. Segundo ele, São Paulo adota as armas não letais de forma ampla e com sucesso. ;Lá, todo policial vai para o serviço com um spray de pimenta;, contou, acrescentando que, ao portar uma arma não letal, o policial ou vigilante se sente mais seguro porque ganha a possibilidade de dosar a força.
Durante a apresentação que a empresa realizou na manhã de ontem, foram exibidos o novo spray de pimenta Viper, criado para ser usado por civis, e a granada Bailarina, que se movimenta enquanto solta gás lacrimogêneo. O evento fez parte da 9; Feira Internacional de Tecnologia, Serviços e Produtos para Segurança Pública (Interseg), que termina hoje no ExpoBrasília, no Parque da Cidade.
1- Menos mortes
Criado na década de 1990, o conceito de não letal é descrito pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos como ;armas especificamente projetadas e empregadas para incapacitar pessoal ou material;, minimizando mortes, ferimentos permanentes e danos indesejáveis a propriedades e respeitando o meio ambiente.