A liderança da Viação Planalto Ltda., ou Viplan, no ranking das mais autuadas por pirataria não surpreende quem depende da empresa diariamente. Dona da maior frota de transporte urbano do Distrito Federal, a empresa também vence suas concorrentes no número de veículos com mais de sete anos de uso ; o máximo permitido pela legislação local ; e nas reclamações judiciais.
Moradora do Gama, a secretária Solange Bizinuto, 36 anos, circula entre sua cidade e o Plano Piloto há sete anos em veículos da Viplan. Pega ônibus nos horários de pico. E sofre. ;Os ônibus são velhos, sujos e barulhentos. Quando vai lotado, não há nenhuma segurança para os passageiros. Há dois anos, eu ia para o trabalho, em pé, quando o motorista teve que frear de uma vez. Quase todo mundo caiu e eu rasguei minha mão em uma ferragem;, narra, mostrando uma grande cicatriz na palma da mão esquerda. ;Foi feio, infeccionou e eu fiquei quase um mês sem trabalhar. Só continuei usando essas latas velhas porque não tenho outra opção;, afirma ela, que evita como pode pegar ônibus pirata.
;Não pego porque acho que eles estão embolsando o dinheiro do trabalhador sem registrar no sistema do governo. Me recuso a compactuar com isso;, garante a mulher, que também ensina seus filhos. ;Lá em casa, todo mundo conhece as linhas que precisa pegar. Eu digo aos meninos (ela é mãe de dois garotos gêmeos de 15 anos) que evitem pegar outras, porque a gente não sabe, né;, acrescenta, antes de cobrar mudanças. ;Não consigo entender como uma empresa continua tendo a bênção do governo se oferece um serviço ruim, com atrasos, ônibus velhos e ainda lesa o sistema e as concorrentes colocando ônibus piratas nas ruas;, reclama ela, que trabalha no Setor de Indústrias Gráficas.[SAIBAMAIS]
Idade mínima
Na reportagem publicada há quase um ano, o secretário de Transportes, Alberto Fraga, declarou que a Viplan era ;a frota mais velha e problemática entre as 11 empresas que exploram o serviço;. Na época, 475 ônibus, ou 75% da frota de 639 veículos da empresa, tinham mais de sete anos de uso. Idade-limite para a circulação de acordo com a Lei Distrital 4.111/2007. As ;latas velhas; só continuam em circulação porque o governo evita penalizar a população tirando das ruas uma parcela considerável dos veículos. Desde 2007, existe uma política de renovação da frota e mais de mil novos ônibus já circulam pelas ruas do DF. Para forçar as empresas a cumprirem o plano de revitalização, a secretaria toma linhas de quem não substitui os ônibus. Em 2008, a Viplan perdeu 160 linhas.
As reclamações da população encontraram eco no Ministério Público do DF e Territórios. Em 2006, a Comissão de Transportes do órgão exigiu a imediata renovação da frota e recomendou que os coletivos da Viplan fossem proibidos de circular. Como não foi atendido, o MPDFT ingressou na Justiça contra o DFTrans e a Viplan. O processo (1)tramita no Tribunal de Justiça do DF e Territórios e ainda não há nenhuma decisão. A empresa comandada por Wagner Canhedo Filho enfrenta ainda quase 400 ações movidas por passageiros, empresas e ex-funcionários. Os processos contra a Viação Planeta, vice-líder nesse quesito, não chegam a 200.
A Viplan foi procurada para falar sobre a pirataria das linhas e o mau estado de conservação dos ônibus. A assessoria de comunicação da empresa informou, porém, que Wagner Canhedo Filho, que também responde pelo Sindicato das Empresas de Transporte Público do DF, está viajando e não foi localizado pelo celular. O Correio procurou representantes das outras empresas citadas, mas eles não foram encontrados no fim da tarde de ontem.
1 - Em tramitação
O processo corre no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) com o número 2008.01.1.170219-0. Para saber o seu andamento, basta digitar esta sequência no site do órgão (www.tjdft.jus.br). Qualquer cidadão que tenha acesso à internet é livre para fazer a consulta.
O número
11
Número de empresas que são autorizadas pelo governo a fazer o transporte urbano no DF
Memória
Ações na Justiça
O empresário Wagner Canhedo Azevedo Filho, 50 anos, dono do grupo que engloba as viações Viplan, Lotaxi e Condor, ficou nove horas detido em maio do ano passado por determinação do Tribunal Regional do Trabalho do Distrito Federal. A família do empresário possui uma dívida trabalhista da empresa aérea Vasp no valor de R$ 398 mil. A Justiça paulista determinou a penhora de 30% do faturamento bruto do Hotel Nacional, também de propriedade da família Canhedo. O empresário foi designado como fiel depositário, ou seja, ficou responsável pelo pagamento. Em dezembro de 2005, foi condenado a um mês e cinco dias de prisão por crime de desobediência. A condenação se deu porque a Viplan descumpriu duas decisões judiciais referentes à venda de passes estudantis, em 2004 e 2005. O empresário conseguiu uma pena alternativa.