postado em 28/08/2009 08:34
Usuários do transporte público de Planaltina de Goiás estão com medo de andar de ônibus. O problema vai além da frota sucateada e do alto preço das passagens, cujo valor chega a 4,25 (ler Memória). Dois episódios que ocorreram nos últimos dias deixaram a população receosa. Por volta das 18h30 de quarta-feira, um coletivo se dirigia para o terminal na divisa entre Distrito Federal e Planaltina de Goiás, na DF-128, quando um GM Marajó, placa JEQ 4951 ; Águas Lindas (GO), começou a seguir o veículo, que estava vazio, e bateu na traseira. O outro caso envolveu uma colisão entre uma van pirata e um coletivo da Rápido Planaltina. Há suspeitas de que os incidentes sejam motivados pela disputa por passageiros.O motorista da Marajó, Carlos Roberto Rodrigues de Souza, 32 anos, bateu duas vezes no parachoque traseiro do ônibus, segundo testemunhas. Em seguida, o homem teria ateado fogo no interior do veículo. Quem passava pelo local contou à polícia que, aparentemente, Carlos tentava encaixar o carro embaixo do coletivo para que o fogo se espalhasse.
O carro não tinha os bancos traseiros nem vidros. Carlos carregava duas garrafas pet cheias de gasolina no porta-malas. Mais de 200 pessoas estavam no local. Um grupo de passageiros revoltados tentou linchá-lo, mas ele foi salvo pela Polícia Militar. Carlos se defende. ;A gasolina era para abastecer. Bati no ônibus quando olhei para trás para ver o que estava acontecendo;, alega o homem, que é motorista de ônibus da Viação Santo Antônio e mora em Águas Lindas (GO). O veículo está em nome de Joveci Dias Pereira. Mas Carlos diz não saber onde encontrá-lo e nem forneceu o telefone do proprietário. Ninguém se feriu no incidente.
Investigação
O Centro Integrado de Operações de Segurança de Planaltina de Goiás (Ciops) investiga se houve acidente ou crime. Quatro munições calibre .380 foram encontradas com Carlos. Ele deve ficar preso até o fim da investigação. O suspeito trabalha na empresa do Grupo Amaral, desde 2003.
O prefeito de Planaltina, José Olinto Neto, suspeita que o acidente com o carro em chamas tenha sido uma represália do Grupo Amaral ao novo transporte. ;O que ocorreu pode ser chamado de atentado terrorista. A Rápido Planaltina resolveu partir para a violência;, acusa. A empresa, que antes tinha o monopólio da atividade, tem oito ações na Justiça contra a prefeitura. O prejuízo é de 3,2 mil passageiros a menos transportados todos os dias pelo grupo. São R$ 13.600 perdidos todos os dias na Rápido Planaltina.
Às 5h de ontem, outro incidente iniciou uma confusão entre motoristas da Rápido Planaltina e de vans piratas. O condutor de um ônibus tentou ;tirar um fino; do outro carro. Mas não calculou a distância e quebrou o farol do veículo. Indignado, o coordenador do transporte alternativo em Planaltina, Carlos Lafaiete, e outras pessoas que estavam na van pararam o ônibus e discutiram com o motorista. ;Ficou óbvio que ele bateu de propósito. Foi provocação;, disse Lafaiete.
O gerente operacional do Grupo Amaral, Sebastião Rodrigues, nega a responsabilidade da empresa sobre os dois episódios. ;Não temos nada a ver com isso. Daqui a pouco, vão atribuir responsabilidade ao grupo por todos os acidentes que ocorrerem em Planaltina;, ressaltou. O Sindicato dos Rodoviários do Entorno, por sua vez, confirmou que os ânimos (1) andam exaltados entre motoristas do transporte legal e os do irregular. Muitos estão sob ameaça de demissão, segundo Rodrigues, que pode ocorrer por conta da pirataria.
1 - Raiz do problema
O clima em Planaltina (GO) está tenso desde o último dia 3, quando passou a circular uma linha da São José, que faz o trajeto entre Goiás e DF por R$ 3, menos do que o valor cobrado por outras empresas. Depois da fronteira, veículos cedidos por empresários e moradores atendem à demanda.
PARA SABER MAIS
Protestos e greve
O aumento no preço da passagem de ônibus no Entorno motivou manifestações de revolta na população local. O bilhete custava R$ 3,95 e subiu para R$ 4,25, em algumas regiões. Em Águas Lindas, o povo foi às ruas e incendiou cinco ônibus da empresa Taguatur. Os cobradores e motoristas do Entorno também cruzaram os braços.
Em Planaltina (GO), o prefeito, José Olinto Neto, fez greve de fome durante dias. Com o ato, ele conseguiu sensibilizar o GDF, que autorizou uma linha do Plano Piloto a levar os passageiros até a fronteira de Goiás por R$ 3. Os veículos que fazem o transporte do Entorno para o DF são semiurbanos, ou seja, ultrapassam a fronteira de dois estados. Por isso, são regulados pela Agência Nacional de Transportes Terrestre.