Cidades

Boicote de pediatras atinge 25 convênios a partir de hoje

Pais terão de desembolsar R$ 90 por consulta

Pablo Rebello
postado em 29/08/2009 08:00
Pais com planos de saúde que precisarem levar seus filhos à emergência pediátrica nos hospitais particulares do Distrito Federal podem ter que desembolsar R$ 90 a partir de hoje. Vinte e cinco convênios(1) não devem mais ser mais aceitos pelos pediatras e os contratos com outras 57 operadoras de saúde também perderão a validade até o fim de outubro. Apesar da iniciativa dos médicos de romperem com as seguradoras, nem todos os hospitais concordaram em acatar a decisão da categoria.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP-DF), ao menos dois centros hospitalares criaram resistência. No entanto, um deles, o Anchieta (em Taguatinga), se mostrou disposto a negociar com os pediatras. ;Mas o hospital Santa Luzia avisou que quem deixar de atender pacientes com convênio será processado;, revelou o pediatra José Marco Andrade, do departamento de defesa profissional da SBP-DF. O Santa Luzia, por meio da assessoria de comunicação, alegou que não recebeu nenhum comunicado sobre o descredenciamento das operadoras de saúde e garantiu que tanto as consultas de emergência quanto as com hora marcada no ambulatório continuarão a ocorrer com o uso dos convênios.

Já no Hospital Santa Lúcia, um cartaz foi afixado na parede da recepção para avisar os clientes a respeito do encerramento da parceria entre pediatras e planos. Outras instituições não souberam informar quando os convênios deixarão de ser aceitos.

O Sindicato dos Hospitais Particulares afirma ainda não ter recebido notificação alguma sobre o descredenciamento dos pediatras com as operadoras de saúde. Mas, de acordo com a gerente do sindicato, Daniele Feitosa, o rompimento não deveria ocorrer nas emergências. ;Os médicos são profissionais liberais e fica a critério deles se aceitam ou não um plano de saúde. Só que isso não se estende ao pronto-socorro, que deverá continuar a fazer atendimentos normalmente. Se mudarem isso, podemos ter problemas;, destacou.

A ruptura com as operadoras de saúde se concretiza após uma mobilização de mais de seis meses dos pediatras pleiteando melhor reunmeração (leia Entenda o caso). O movimento se concentra nos prontos-socorros dos hospitais privados, mas alguns pediatras que atendem em consultórios próprios também passaram a rejeitar os seguros.

De acordo com associações que representam os planos de saúde, cabe a cada empresa negociar os valores repassados por consulta diretamente com os médicos ou clínicas contratados.

A Agência Nacional de Saúde (ANS) lembra que as operadoras têm de oferecer alternativas de atendimento aos conveniados. Ou seja, as pessoas devem entrar em contato com os planos para saber em quais hospitais ou consultórios particulares o plano continuará a ser aceito.

Queixas
Quem sofre com os efeitos da briga é a população. A vendedora Geane Barros, 28 anos, por exemplo, está preocupada. Ela usa os serviços da Unimed Confederações para cuidar do filho, Eduardo, 3, e renovou o contrato recentemente. Ontem, descobriu que a operadora era uma das que não deve ser aceita em breve. Antes de ir ao hospital, ela ligou para o centro de saúde e soube que o plano ainda estava válido, mas por pouco tempo. ;A atendente da pediatria disse que todos os médicos do Hospital Santa Marta (em Taguatinga Sul) estudam a possibilidade de cancelar o atendimento por plano de saúde;, afirmou. ; Se os pediatras cancelarem o convênio, não sei o que vou fazer: hospital público não é uma opção nem pagar R$ 90 por consulta;, lamentou a moradora de Águas Claras.

Maria do Céu Evaristo, 48 anos, mãe de João Guilherme, 2, usa o plano da Amil, que possivelmente não será mais atendido a partir de 9 de setembro. Ela reclama do impacto que a suspensão do plano de saúde pode trazer à vida da família. ;Ninguém avisa quando ficará doente. Você dorme bem e acorda mal. Se isso ocorrer, de onde vou tirar dinheiro para pagar a consulta, assim, de uma hora para outra? Vai faltar para outras coisas dentro de casa;, queixou-se Maria do Céu.

1- Lista
Segundo informações da SBP-DF, a partir de hoje, os seguintes convênios não valerão em alguns hospitais da cidade: AGF/Allianz, Assedf, Casf, Fascal, INB, Ministério da Cultura, Caeso, Notre Dame, Proasa, Ansef, CEF, Interlife, Regius, Porto Seguro, Blue Life, Fusex, Medial, Previminas, Smile, Conab, Faceb, Gama, Mediservice, Pró-Saúde Card, Unimed Confederações. Antes de ir à instituição de saúde, o usuário deve telefonar para verificar se o plano está válido.


; A quem recorrer

Para denunciar problemas com os planos de saúde, o cliente deve ligar para a Agência Nacional de Saúde (0800-701-9656) ou procurar a diretoria regional da entidade reguladora ; SAS, Quadra 1, Bloco N, 1; andar ou 3213-3040. As pessoas também podem acionar o Ministério Público, por meio da Procuradoria de Defesa do Consumidor. O telefone é: 3343-9851.

; Entenda o caso
Baixo rendimento

Há seis meses, os pediatras que trabalham na rede privada de saúde ameaçam cruzar os braços e não atender mais consultas por convênio. Os convênios pagam hoje de R$ 24 a R$ 40 por uma consulta. Desse valor, ainda são descontadas as taxas de administração do convênio e os impostos. O que chega ao médico não alcança R$ 30. Os pediatras querem que as empresas paguem R$ 90 pelas consultas nas emergências dos hospitais e R$ 120 pelos atendimentos em consultórios.

A pediatria é considerada uma especialidade de baixo rendimento financeiro porque não possui procedimentos agregados, como exames, que podem aumentar o valor da consulta.

Os pediatras chegaram a suspender as consultas aos conveniados durante um dia, em 13 de julho. Depois disso, a categoria começou a pedir o descredenciamento dos planos de saúde. O prazo de aviso prévio determinado pelo contrato entre os profissionais e as empresas varia entre 30 e 90 dias, motivo pelo qual somente hoje começaram a deixar de ter validade alguns seguros.

; Confira a lista fornecida pela SBP-DF com as datas em que os convênios deixarão de ser aceitos

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP-DF), os seguintes convênios não serão aceitos nos prontos-socorros dos hospitais Santa Luzia e Santa Lúcia a partir deste sábado

AGF/Allianz, Assedf, Casf, Fascal, INB, Ministério da Cultura, Caeso, Notre Dame, Proasa, Ansef, CEF, Interlife, Regius, Porto Seguro, Blue Life, Fusex, Medial, Previminas, Smile, Conab, Faceb, Gama, Mediservice, Pró-Saúde Card, Unimed Confederações.

Veja o último dia em que os demais convênios serão aceitos nas emergências pediátricas do Santa Luzia e do Santa Lúcia, segundo a SBP-DF. Nos caso dos hospitais Santa Helena, Renascer, São Francisco e Santa Marta, as datas são muito próximas às divulgadas abaixo. As outras instituições da rede privada ou não têm emergência pediátrica ou estão fora da rescisão

30 de agosto
AFEB/Brasal, BRB Saúde, Embrapa (Casembrapa), Embratel (Pame), Fioprev, IRB, Plan Assiste (MPDFT), Proasa, TJDFT, Unafisco (Sindifisco), Affego, Caeme-GO, CNTI, Faceb, Furnas, Life Empresarial Saúde, Plan Assiste (MPF), Saúde Caixa, TRE, Unibanco, Asete (Aste), Caesan, Conab, Fapes (BNDES), Mediservice, Plan Assiste (MPM), Sesef (Plansfer), TRF, Unimed Centro-Oeste e Tocantins, Asfub, Camed, ECT, Fascal, Gravia, Omint, Plan Assiste (MPT), STJ, TRT, Valec, Bacen, Casec (Codevasf), Eletronorte, Fassincra, Infraero, Petrobras, Prevquali, STM, TST Saúde

31 de agosto
Assefaz

9 de setembro
Amil

11 de setembro
Bradesco

5 de outubro
Medial

7 de outubro
Golden Cross
Sul América

21 de outubro
Slam

30 de outubro
Cassi

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