Cidades

MP apura morte de segunda paciente do médico Lucas Seixas

Advogada morreu em 2006 após se submeter a cirurgia de redução de estômago. UnB afirma que profissional foi reprovado no mestrado por uso indevido de dados

Rodolfo Borges
postado em 29/08/2009 08:40
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu inquérito para investigar a morte de mais uma paciente do médico cirurgião Lucas Seixas Doca Júnior, que já havia sido denunciado à Justiça pelo óbito da psicóloga Maria Cristina Alves da Silva, em 2008. Dessa vez, a Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida) apura a morte da professora e advogada Fernanda Wendling, que teria perdido a vida em condições parecidas com às de Maria Cristina, segundo o promotor Diaulas Ribeiro.

Promotor Diaulas Ribeiro, da Pró-Vida: %u201CO que mais chamou atenção foi a semelhança da história (de Fernanda Wendling) com a da Maria Cristina%u201DA investigação sobre a morte de Fernanda Wendling está em curso há cerca de três semanas. A mulher se submeteu a um cirurgia bariátrica (redução de estômago) em março de 2006 e morreu dias depois. ;O que mais chamou atenção foi a semelhança da história com a da Maria Cristina;, explicou Diaulas. A família de Fernanda não foi encontrada para comentar o caso.

Maria Cristina Alves da Silva veio a óbito dias depois da cirurgia de redução de estômago e tanto o MP quanto os parentes da psicóloga acusam Seixas de ter sido negligente no pós-operatório. Por isso, na denúncia à Justiça, o promotor pediu que o médico fosse processado por dolo eventual ; quando a pessoa assume o risco de matar. Questionado ontem sobre a nova investigação, Lucas Seixas disse não ter nada a declarar.

Sem autorização
Advogada morreu em 2006 após se submeter a cirurgia de redução de estômago. UnB afirma que profissional foi reprovado no mestrado por uso indevido de dadosAlém disso, a Universidade de Brasília (UnB) encaminhou no início do mês ao MPDFT um documento que confirma que Seixas não foi aprovado em mestrado defendido em 2003 na pós-graduação de ciências da saúde. Segundo o processo aberto pela Pró-Vida, o cirurgião inseriu, sem autorização, dados do médico Orlando Pereira Faria em sua dissertação, o que o MP considerada um ;antecedente gravíssimo de falsidade ideológica;. ;Eu era um residente recém-formado, não sabia como fazer os trabalhos. Como não tinha formalizado (o pedido dos dados), a pessoa (Orlando Pereira) negou os dados depois;, defendeu-se Seixas, que afirma ser vítima de perseguição. ;Isso tudo faz parte de um processo para denegrir a minha imagem.;

Kleber Nogueira de Campos, que orientou a dissertação de Seixas, lembra que o cirurgião incluiu em seu trabalho um agradecimento a Orlando e sua equipe, ;que gentilmente cederam seus dados para que pudéssemos estudá-los;, segundo consta na dissertação. ;Exigi que ele deixasse explícito que utilizava os dados do Orlando e ainda pedi que agradecesse na defesa oral e perante a banca ao grupo do consultório, o que Lucas fez;, contou Nogueira. Depois de fazer uma acareação entre Orlando Faria e Lucas Seixas, o então orientador encaminhou um pedido para que o aluno fosse reprovado dias depois de a banca aprovar sua dissertação.

CRM ouvirá as duas partes
O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) abriu em junho uma sindicância(1) para investigar a morte da psicóloga Maria Cristina Alves da Silva. Ela tinha 37 anos quando morreu depois de passar por uma cirurgia de redução de estômago em 2008. Segundo a denúncia do MPDFT, a técnica de cirurgia bariátrica usada por Lucas Seixas não se aplicava ao caso da paciente, que não apresentava quadro de obesidade mórbida.

O relatório do MPDFT diz que na primeira consulta de Maria Cristina, em 7 de janeiro de 2008, o médico teria calculado Índice de Massa Corpórea (IMC) de 31, quando o mínimo exigido para esse tipo de procedimento é 35, desde que associado a comorbidades que ameacem a vida. Em 15 de fevereiro, um dia após a segunda cirurgia, ;o denunciado anotou na ficha de evolução médica da vítima, IMC= 36, alterando a verdade dos fatos;, indicou o texto do MP.

Segundo com o vice-presidente do CRM-DF, Iran Augusto Gonçalves Cardoso, foram enviadas no início desta semana comunicações para a família de Maria Cristina e para o médico solicitando que as duas partes se pronunciem sobre o caso. A convocação estabelece um prazo de 10 dias para familiares e médicos contarem suas versões sobre o que aconteceu.

Dependendo do conteúdo dos relatos, o conselho pode abrir um processo ou simplesmente arquiva-lo. Para Gonçalves Cardoso, a denúncia de falsidade ideológica não interfere na sindicância do CRM-DF. ;Vamos investigar se houve erro no ato cirúrgico. Se ele tivesse fraudado um documento de curso de medicina, levaríamos em conta, mas era apenas um curso para melhorar seu currículo, e na área de ciências da saúde, não de medicina;, explicou.

1- Apuração
A sindicância é aberta pelo CRM-DF para apurar se houve falha na atuação do profissional. O processo corre de forma sigilosa até que seja transitado em julgado. Depois disso, elabora-se um relatório da denúncia que será submetido ao restante do conselho. Havendo indícios de falha na ação do médico, ocorre o julgamento. Todo o processo pode levar até cinco anos. Se uma das partes não concordar com o resultado, pode recorrer ao Conselho Federal de Medicina.

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