postado em 29/08/2009 08:55
Are baba! O mercado de produtos indianos em Brasília agradece aos deuses o empurrão dado pela novela Caminho das Índias(1), que termina no início de setembro, após quase oito meses no ar. Segundo a Câmara de Comércio Brasil Índia, desde que a moda daquele país invadiu o horário nobre da TV, as vendas de artigos como saris (panos de até 7m usados como vestidos), batas, bijuterias e pêndulos cresceram 20% em todo o país. Na capital federal, lojistas falam em aumento de 30%. Empolgados com a popularização da cultura oriental, a expectativa é que as lamparinas não se apaguem mesmo depois do fim da novela.O modismo impulsionado pela televisão costuma ser passageiro, mas sempre enche de esperança quem aposta nele. Comerciantes acreditam que o mercado continuará aquecido quando a novela sair de cena. Na avaliação deles, a cultura da Índia conquistou o imaginário popular. ;Alguns dizem até que dobraram o faturamento desde o início do ano, mas não podemos generalizar. O fato é que existe uma demanda em ascensão, claramente por conta da novela;, comenta o presidente da Câmara de Comércio Brasil Índia, Roberto Paranhos.
Pelas ruas de Brasília, é fácil encontrar o colorido das roupas e o brilho das joias usadas pelas personagens de Glória Perez. Na loja Maravilhas da Índia, no mezanino da Rodoviária do Plano Piloto, clientes chegam querendo o brinco de Maya (Juliana Paes) e o colar de Kiara (Vera Fischer). ;As coisas que elas usam são demais. Eu quero estar na moda;, disse a estudante Amanda Cristina Farias, 15 anos, enquanto experimentava um vestido. ;Entramos aqui porque ela viu o nome da loja e lembrou logo da novela;, contou a amiga Paloma Evillen Santos, 14.
As adolescentes ficaram hipnotizadas com as vestimentas e os artigos de decoração expostos na loja. Até dançaram a trilha de abertura da novela. ;A curiosidade e o interesse das pessoas pela Índia aumentaram. Você tem que ver quando aparecem as crianças querendo se enfeitar igualzinho ao que estão vendo na televisão;, comentou José Araújo Wagner, 60 anos, o proprietário da loja, que tem mais de 10 anos no mercado. A esposa dele, Hilda Cipriano, 46, ponderou: ;O resultado poderia ter sido melhor. Muita gente aproveitou para pegar carona no modismo e vender produtos que não são indianos;.
Hilda se referiu ao mercado informal que surgiu com a novela. Lojas de departamento, por exemplo, não perderam a chance de colocar nas vitrines roupas com toques da Índia, mesmo não sendo legítimas. Na Feira dos Importados, várias bancas investiram em roupas que lembram as usadas na novela. Há cinco anos, quando Socorro Nascimento, 44, abriu uma loja indiana na feira, havia apenas duas concorrentes. Hoje, são pelo menos seis. ;Muitos clientes achavam a loja esquisita, com um estilo de roupa muito diferente. Agora está todo mundo correndo atrás da moda;, comparou.
No início do ano, o estoque precisou ser reforçado na loja de Socorro. A novela atraiu gente como a pintora Neli Indig, 74 anos. ;Você vê mil pessoas caminhando com essas roupas belíssimas e a gente vai ficando com inveja;, confessou ela, depois de comprar um vestido à la Caminho das Índias. Em uma loja do Gilberto Salomão, a maior procura é pelos colares usados pela personagem de Vera Fischer. ;Tudo o que ela usa nas novelas sai muito bem, muita gente já vem com a intenção de ficar parecida com ela;, explicou uma das vendedoras.
A influência da novela vai além do incentivo à moda indiana. Os proprietários de uma casa de eventos no Lago Sul decidiram mudar o nome do empreendimento quando perceberam o sucesso de Caminho das Índias. O Brasília City Hall virou Taj Mahal Brasil. A logomarca do lugar agora é uma referência à cúpula do mausoléu. ;Tem dado certo. As pessoas ligam e querem saber se o lugar lembra mesmo o Taj Mahal(2);, contou a sócia Leninha Camargo. Dos cerca de 40 eventos agendados até 2011 no local, pelo menos 12 terão a temática oriental.
Desde janeiro, quando Caminho das Índias estreou, o movimento no Naan Restaurante (412 Sul), especializado em comida indiana, teve um salto de 30%, segundo o proprietário, Paulo Seidl. O restaurante abriu as portas há quase dois anos e, de acordo com Seidl, foi perceptível a relação entre o aumento das vendas e o auge da novela. ;Houve um certo aprendizado da culinária indiana. Os clientes sentam e fazem pedidos que nunca fizeram antes. Querem samosa (pastel), chai (chá) e chapati (pão);, contou Seidl.
1 - Últimas semanas
Atual novela das nove exibida pela Rede Globo, estreou em 19 de janeiro e o último capítulo está previsto para ir ao ar no próximo dia 11, com reprise no dia 12. A trama se passa entre a Índia e o Brasil.
2 - Maravilha
O Taj Mahal é um mausoléu situado em Agra, na Índia. É considerado Patrimônio da Humanidade e uma das sete maravilhas do mundo moderno. A obra foi construída entre 1630 e 1652 por cerca de 22 mil homens, que trabalharam a mando do imperador Shah Jahan. O monumento era uma homenagem à esposa favorita dele.
QUINTO NO RANKING DA IMPORTAÇÃO
A Índia é o quinto país do qual Brasília mais importa ; quase sempre produtos farmacêuticos e de tecnologia da informação. De acordo com dados da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), no primeiro semestre deste ano a capital importou cerca de US$ 29,6 milhões em produtos indianos, montante inferior apenas ao que veio de Suíça, França, Alemanha e Estados Unidos. No ano passado, os números da balança comercial mostram que foram enviados da Índia para o DF US$ 83,7 milhões. Porém, as indústrias locais não venderam nada para os indianos. Em 2007 e em 2008, uma delegação de empresários de Brasília esteve na Índia para alinhar propostas comerciais entre os dois países.