postado em 29/08/2009 09:03
Três dias após a briga que levou uma adolescente de 15 anos ao hospital com hemorragia interna, o medo domina os 1,2 mil alunos do Centro de Ensino Fundamental 11 do Gama. A agressão virou motivo de revolta entre pais, professores e alunos. A cicatriz(1) deixada pelo corte de mais de 15 centímetros no corpo da adolescente ; do peito à barriga ; e os chutes recebidos até no rosto por duas colegas de sala de aula, de 15 e 16 anos, não sairão mais da lembrança da menina. A sessão de espancamento, ocorrida em um gramado a 200 metros da escola, mobilizou o secretário de Educação do DF, José Luiz Valente, que visitou a garota, na tarde de ontem, no Hospital Regional do Gama (HRG).A adolescente agredida, segundo laudo médico do HRG, emitido ontem, não perdeu o rim, ao contrário do que afirmara o tio dela, o operador de áudio Araílson Santos, 47, ao Correio, na noite de quinta-feira. Mas teve o fígado e a vesícula deslocados devido às fortes pancadas recebidas no abdômen. A garota não corre risco de morte. A agressão trouxe pânico aos parentes da vítima, que pretendem transferir a menina e a irmã de 12 anos de escola.
José Luiz Valente tentou, durante a visita, tranquilizar a família e pediu que a Assessoria de Política de Promoção da Cidadania, da Secretaria de Educação, apure as responsabilidades e adote penalidades cabíveis para o caso. Uma psicóloga vai acompanhar a família da garota agredida e, posteriormente, dará atenção aos alunos. ;A situação é traumática e vai ficar gravada por todos. Não podemos desprezar esse fato. Devemos usá-lo como lição para prevenir outras escolas;, ressaltou o secretário.
Transferência
As duas jovens acusadas de agredir a adolescente devem ser transferidas do colégio, garantiu o secretário. ;Elas não têm a menor condição de permanecer no mesmo ambiente;, alegou ele, lembrando que esse foi o primeiro caso de violência em escolas do DF registrado em 2009. A secretaria ainda não divulgou para onde as meninas serão transferidas.
[SAIBAMAIS]A confusão entre as adolescentes, segundo Araílson Santos, teria sido motivada por uma intriga que começou em sala de aula, em 28 de abril deste ano. ;Naquela primeira confusão, minha sobrinha entrou para apartar a briga entre as duas agressoras com uma outra aluna. Na época, ela deslocou o braço e teve de usar gesso. Depois disso, as meninas ameaçaram pegá-la;, ressaltou.
Mas a mãe da menina de 16 anos, acusada das agressões, uma cozinheira de 35 anos, disse que a filha jamais ameaçaria alguém. ;Ela é uma menina tranquila, trabalhadora, é meu braço direito,; contou. ;Ela me disse que as três meninas a chamaram para brigar, mas eu não consigo entender por que ela não saiu de perto delas. É muito triste para uma mãe estar nessas condições, estou muito decepcionada por ela ter reagido dessa forma;, desabafou, aos prantos, a mulher, que tem quatro filhos.
Em 2008, uma pesquisa da Secretaria de Educação mostrou que 15,5% dos alunos da rede já foram agredidos. Para o professor de psicologia da Universidade Católica Vicente Faleiros, a violência é a forma como os adolescentes encontram para resolver os problemas. ;A relação entre a juventude está dominada pelo modelo de crime organizado, extermínio e ameaça. A turma incorpora a agressão como forma de resolver conflito;, analisou.
1- A marca
A garota passou por uma laparoscopia exploratória, que é um exame endoscópico da cavidade abdominal. Os médicos precisaram fazer um corte do peito à barriga para examinar o estado dos órgãos e drenar o sangue da hemorragia interna.
Violência e indisciplina
No Centro de Ensino Fundamental 11, do Gama, não se fala em outra coisa senão a agressão sofrida pela aluna de 15 anos, que mora no Gama e cursa a 8; série. Pelo menos duas outras adolescentes, que estudam no mesmo colégio, viram a sessão de espancamento. ;Parecia briga de homem. A outra (a vítima) não conseguia fazer nada. Ela ficou caída;, disse uma menina de 13 anos.
Um menino de 12, que também estuda no CEF 11, resume o medo que paira na escola. ;Elas (as agressoras) são muito respeitadas aqui, as pessoas têm medo delas;, ressalta o garoto. A chefe da Delegacia da Criança e do Adolescente, Eliana Clemente, nega que as acusadas façam parte de gangues. Segundo ela, as garotas já foram ouvidas e liberadas e que agora a 1; Vara da Infância e Juventude é que vai avaliar o caso.
De acordo com os familiares da vítima, ela teria sido atraída pelas outras garotas, que moram em Céu Azul (GO), para o local onde foi brutalmente espancada. Os parentes das acusadas negam. A agressão ocorreu na manhã de terça-feira e foi interrompida pela Polícia Militar.
Na ficha individual das alunas, documento que não sai da escola, as agressoras mostram um histórico de indisciplina e violência. Em 28 de abril, as três envolvidas no caso tiveram registro sobre a discussão dentro da sala de aula. ;As duas (que espancaram a adolescente) ficaram suspensas por dois dias e ainda foram levadas à DCA;, explicou o diretor do CEF 11, Luiz Antônio Firmiano. Em 20 de maio, a menina de 16 teve marcada a saída de aula sem permissão do professor. ;São crianças com históricos agressivos. A escola tenta, mas a família nem sempre ajuda;, ponderou Firmiano.
Enquanto as jovens apontaram itens considerados pelo diretor Luiz Firmiano como desrespeitosos, a vítima das agressões tem, em sua ficha, o primeiro registro da briga em que tentou apartar e um atraso para entrada da aula.
OPINIÃO DO INTERNAUTA
Leitores comentaram a reportagem publicada no site do Correio Braziliense:
É lamentável esse ocorrido. As agressoras já sabem o desfecho disso tudo: nada vai acontecer com as mesmas. Onde vamos parar com tanta violência?
# Rafaela Santos
;Estudantes; com essa ficha de problemas precisam de punições exemplares. Os pais devem educar, direito, os filhos, só assim os jovens poderão viver em sociedade.
# Guilherme Castro
Medidas educativas são tomadas pela escola, sim, mas educação e respeito devem vir de casa pra escola. Os professores fazem o papel que deveria ser feito pelos pais.
# Andreia Garcia
Isso é uma vergonha! Até quando perdurará este tipo de selvageria? Alguém precisa fazer alguma coisa e com urgência!
# Leonis Queiroz
A maior base de uma sociedade está na família. Educação escolar é conhecimento, mas caráter, dignidade, honra, honestidade começam e são solidificados no seio do convívio da família.
# Hildo Evaristo