Rodolfo Borges
postado em 31/08/2009 08:34
Os pacientes que procuraram ontem hospitais particulares no Distrito Federal receberam uma notícia nada agradável: mais 48 convênios de pediatria perderam a validade ontem. Planos como Gama Saúde e Mediservice se unem aos 25 cujos contratos não foram renovados na última sexta-feira, em consequência de desentendimento entre os médicos da cidade e empresas que administram planos de saúde. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria do Distrito Federal (SBP-DF), mesmo sabendo há seis meses da insatisfação dos médicos com os valores repassados pelos convênios, nenhuma das empresas administradoras de planos de saúde se movimentou para fazer acordo.Até o final de novembro, serão 82 os contratos interrompidos. Hoje, o convênio da Assefaz deixa de valer para a pediatria de consultórios e hospitais como o Santa Lúcia, referência no atendimento de pediatria na cidade. Os próximos a perder a validade são Amil, que vai até 9 de setembro, e Bradesco, que não passa do dia 11. Em outubro, as pediatrias deixam de aceitar Golden Cross, Sul América, Slam e Cassi, que já não vale em alguns lugares, como o Hospital Santa Helena. [SAIBAMAIS]
A funcionária pública Eunice Freire, 37 anos, ainda conseguiu atendimento para a filha Letícia, 7, ontem à tarde, mas já está preocupada com a possibilidade de ter de pagar pela consulta. ;Vai ser muito ruim. Pago um plano caro, de R$ 530 mensais, para mim e minhas duas filhas e pediatria é o serviço que nós mais usamos;, comenta Eunice, que saiu de Santa Maria para a Asa Sul por causa de uma infecção urinária da filha.
O presidente da SBP-DF, Dennis Alexander, espera que a população entenda a iniciativa dos pediatras. ;Nós dedicamos uma vida inteira de bons serviços prestados. Foram seis meses de avisos, inclusive com uma paralisação (1), mas as empresas nada fizeram e ainda nos trataram com escárnio;, reclama.
Segundo Alexander, algumas operadoras de plano de saúde chegaram a dizer que um médico do Plano Piloto poderia receber R$ 90 por consulta ; como os pediatras exigem ;, mas o mesmo não poderia ser pago para os profissionais que trabalham na ;periferia;, que seriam menos capacitados. ;Nossa relação com os convênios nunca foi boa. Os valores não são revistos há sete anos;, lamenta o pediatra.
Para que os convênios voltem a valer, pediatras e planos de saúde terão de firmar novos contratos, pois os médicos já pediram o descredenciamento do serviço. Contudo, ainda há possibilidade de entendimento com os planos. ;O estado de espírito da categoria é de não mais negociar nada com as empresas de saúde e sermos autônomos e liberais, mas ainda existe a possibilidade de negociação;, avisa Alexander.
Pneumomia
A analista jurídica Hermínia Pfeilsticker, 42, acredita os planos de saúde vão ter de tomar uma atitude. ;Deixar a situação chegar a esse ponto indica falta de consciência. Não falo por mim, que posso pagar por uma consulta, mas pelas pessoas que têm dificuldade para pagar plano de saúde e vão precisar gastar mais dinheiro;, protesta.
Ontem à tarde, Hermínia levou ao hospital a filha Giselle, 14, para investigar uma suspeita de pneumonia e se recusou a pagar pela consulta do pediatra. ;Como ela já tem 14 anos, pudemos optar pelo atendimento de um clínico geral, que diagnosticou apenas uma sinusite;, comenta Hermínia.
De acordo com Dennis Alexander, presidente da SBP-DF, no que depender dos médicos está afastada a possibilidade de abertura de uma ação civil pública pela Defensoria Pública do DF contra hospitais e pediatras. O defensor público André de Moura Soares disse que se ficar comprovado que um paciente sofreu agravamento ou morreu em decorrência da falta de atendimento, o médico pode responder criminalmente por omissão de socorro. ;Em caso da urgência médica, o paciente é atendido pelo pediatra ou em qualquer unidade de saúde;, garante Alexander.
1 - Protesto
Os pediatras chegaram a suspender as consultas aos conveniados em 13 de julho. Depois disso, a categoria começou a pedir o descredenciamento dos planos de saúde. O prazo de aviso prévio determinado pelo contrato entre os profissionais e as empresas varia entre 30 e 90 dias. Por isso, só neste mês começaram a deixar de ter validade alguns seguros.