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Escritor de 85 anos é o autor da música-tema de Planaltina

Em homenagem aos 150 anos da cidade, agora ele resolveu preparar um novo canto solene

postado em 31/08/2009 08:44
A inspiração é o ar que o professor aposentado Delfino Domingos Spezia, 85 anos, respira todas as manhãs. Com caneta e papel na mão, ele senta à mesa da cozinha e, antes mesmo de tomar café, faz desabrochar as mais belas poesias e composições musicais. Tanta inspiração fez ele escrever, em 1963, de forma despretensiosa, um hino sobre Planaltina, mais tarde reconhecido como o primeiro da capital federal. Passados 46 anos, o escritor agora de cabelos brancos resolveu compor um novo hino em homenagem aos 150 anos da cidade dos casarões antigos, da Igreja São Sebastião, das praças e do Museu Histórico. ;Salve, Salve, Planaltina! Hoje estás muito bonita;, diz o primeiro trecho do hino.Em homenagem aos 150 anos da cidade, agora ele resolveu preparar um novo canto solene

Natural de Santa Catarina, Delfino veio para Brasília em 1961. Morou no Setor Tradicional de Planaltina e deu aula de língua portuguesa, francês e latim para meia dúzia de alunos que estudavam no então Centro Educacional 1, o Centrão. Dois anos depois, a escola cresceu e o professor teve a ideia de compor o chamado Hino do Colégio de Planaltina, que mais tarde se tornou a música oficial da cidade. O problema é que são poucos os que conhecem a letra ou sequer sabem que Planaltina tem um hino, fato que incomoda e entristece Delfino. ;Se um dia Planaltina vier a cantar esse hino, eu não vou negar que ficaria muito envaidecido;, falou, entre risos.

Quase 50 anos se passaram e a comunidade se organizou para que a composição ressurgisse. A Associação Amigos do Centro Histórico de Planaltina tem preparado um documentário sobre a cidade, o qual o hino do poeta foi escolhido como fundo musical. Delfino soube da novidade na última terça-feira. Na praça em frente ao Museu Histórico, ele encontrou com Simone dos Santos Macedo, representante da associação. ;É de que mesmo essa reportagem?;, perguntou ela, sem rodeios. Simone não sabia quem era aquele homem vestido de jaqueta, blusa vermelha, tênis e bengala, mas sabia de cor e salteado os versos do primeiro hino da cidade, para surpresa do escritor que encheu os olhos de lágrima ao ouvi-la cantar. ;Achei que todo mundo tivesse esquecido esse hino;, confessou. ;Você me enche de orgulho. É a primeira vez que sorrio com vontade;, disse Delfino a Simone. Para ela, é preciso levar os hinos do escritor para dentro das escolas e pela cidade. ;Não se preserva o patrimônio se não tiver história. O trabalho dele é muito importante porque é um pedaço de Planaltina;, avalia Simone. Em homenagem aos 150 anos da cidade, agora ele resolveu preparar um novo canto solene

Para compor o hino dos 150 anos, o poeta se inspirou no dia em que a Pedra Fundamental (1)foi assentada, em 7 de setembro de 1922, um marco na história da capital. Relembrou o tempo em que Planaltina começou a ganhar corpo, logo após a construção de Brasília. Nos versos, um mesclado de romantismo e entusiasmo com a evolução da cidade mais antiga do DF. Uma verdadeira obra de arte.

Delfino atualmente mora na 710 Sul, mas, na década de 1960, viveu por três anos no Setor Tradicional. Ele lembra que naquele tempo não existia violência e as pessoas podiam dormir com as janelas de casa abertas. Planaltina também era uma cidade pequena e muito ;fuxiqueira;, nas palavras do próprio escritor. Tanto que ela era conhecida como perguntina. ;Os moradores sempre perguntavam muito: quantas fazendas o senhor tem? Quantos filhos? Onde o senhor mora?;, contou Delfino. ;Era um tempo muito bonito porque todo mundo se conhecia;, destacou.

Paixão pela escrita

A relação do escritor com as letras começou quando ainda era garoto. Aos 8 anos, ganhou de presente da tia o primeiro livro: o almanaque Fontoura Xavier. Logo aprendeu a arte de juntar as palavras e não parou mais. A primeira redação ele lembra bem. Fez um texto sobre um touro desembestado que investiu contra a turma de estudantes que passeava à beira do Rio Paraíba do Sul, em São Paulo. ;Foi um susto muito grande. Todo mundo se jogou na água e eu fui o único que subi na árvore;, relembrou.

De lá para cá, o gosto pela escrita ficou ainda mais forte e Delfino se viu apaixonado pela literatura. Passou a devorar livros. Afinal, ele defende que para se escrever bem é preciso ler muito e ler livros de qualidade. E ler com vontade, para também redigir textos com entusiasmo. Porém, tudo é muito bem pensado. ;Quando tenho uma ideia, eu faço um pré-cozimento. Escrever é como comer. Integra-se de tal maneira que não tem como deixar de fazer;, explicou. A inspiração sempre chega ao escurecer, quando Delfino está embrulhado em um cobertor e com a cabeça no travesseiro.


1 - Obelisco
A Pedra Fundamental de Brasília está localizada no Morro do Centenário, a 1.033m de altitude. Foi assentada em 7 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da Independência. Baseada no sonho de Dom Bosco, a pedra fudamental caracteriza o ponto central do Brasil, ;entre os paralelos 15 e 20 graus;. O obelisco tem forma piramidal de base quadrada com 3,75m de altura. As suas faces estão orientadas pelos pontos cardeais.

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