postado em 01/09/2009 08:26
É sagrado. Três vezes por semana, a aluna do 7; ano Graziela Pereira, de 12 anos, acorda cedo, veste o uniforme amarelo, calça as chuteiras e segue para o ginásio de esportes da Área Especial da Quadra 9, no Paranoá,sup>(1). A garota joga futebol desde os 9 anos de idade. ;Meus pais sempre apoiaram a atividade;, conta. A Pequena, como é chamada pelas colegas do esporte, faz parte da Escolinha Paranoá Categoria de Base Feminino. As aulas são gratuitas. Somente meninas, crianças ou adolescentes podem participar.O grupo existe há 11 anos. Renato de Oliveira, 25 anos, é um dos idealizadores do time de jogadoras mirins. Começou a treiná-las quando ainda era menor de idade. ;Eram apenas quatro meninas, todas irmãs. Depois, o grupo foi crescendo;, explica. Atualmente, 70 moradoras do Paranoá praticam futebol de salão e de campo com Renato, mais conhecido como Carioca, no Paranoá. ;Muitas delas nascem com o dom de jogar bola, mas acabam reprimidas pelo preconceito que existe na sociedade;, justifica.
Grande parte do que o Categoria de Base representa hoje para a cidade se deve também ao trabalho voluntário de Venilson de Farias, 34 anos. Em 2002, ele montou um time com meninas de baixa renda da Quadra 20, local onde mora. Jogavam num campo de barro, contra moradores das ruas e de conjuntos vizinhos. ;Fazíamos campeonatos informais, sem uniforme mesmo. Significava muito, era um ponto de encontro e troca de experiências;, relembra.
Dois anos depois, os apaixonados pelo futebol Venilson e Renato se juntaram. ;Decidimos unir forças;, arrematam os dois, em coro. Todo ano, por volta do mês de setembro, eles vão a colégios públicos do Paranoá. A visita periódica tem como objetivo recrutar garotas ; com boas notas ; que têm futuro no esporte. ;Cobramos participação escolar satisfatória das meninas;, acrescenta Renato. ;Costumamos ajudá-las quando os estudos não vão bem. Já chegamos até a pagar professor particular para uma delas.;
Estrelas
Rayane Rodrigues, 14 anos, joga tão bem que ganhou o apelido de Robinha. Treina há 5 anos com Renato e Venilson. Os professores apostaram tudo na garota. ;Vi ela jogando com meninos grandes da cidade e percebi que ela tinha futuro;, conta Renato. O Carioca estava certo. A moradora da Quadra 15 é uma das alunas que vai representar Brasília na Copa do Brasil, organizada pela Confederação Brasileira de Futebol Feminino.
Na Quadra 18, vive outra craque da bola, a aluna da Escola Classe 5 do Paranoá Ketlyne Horrana Rodrigues, 11 anos. A garota ingressou no Categoria de Base há pouco mais de um ano. Tempo suficiente para provar que joga bem na posição de pivô. ;O futebol faz bem. Adoro jogar e minha família gosta que eu pratique algum esporte;, comenta a estudante do 5; ano.
Renato atingiu o objetivo inicial, que vislumbrava desde aquele ano de 1998, quando começou a treinar as quatro irmãs. ;Queria tirar as meninas das ruas;, sentencia. A decisão de trabalhar para ajudar quem precisa surgiu quando ele ainda morava no Rio de Janeiro. ;Perdi um irmão para a violência da cidade. Percebi que precisava fazer algo;, conta.
A maioria das atividades é custeada por Renato e Venilson. Sem apoio de peso, as aulas ocorriam em quadras públicas do Paranoá. Somente este ano, o grupo conseguiu uma concessão de uso do ginásio de esportes da Quadra 9. Entre um chute e outro, o Categoria de Base promove também passeios para lugares como o Parque da Cidade e pontos turísticos da capital federal.
1 - Origens
O nome Paranoá vem da palavra paranaguá, que significa bacia de um rio abundante ou do mar. No Distrito Federal, a variante linguística significa baía fluvial.
JUNTE-SE À TURMA
As garotas interessadas devem ter cinco anos ou mais, além de estudar em escola pública. As aulas ocorrem às segundas, quartas e sextas-feiras, das 9h às 11h e das 15h às 17h. Basta ir ao ginásio da Quadra 9, ao lado da Administração Regional do Paranoá, ou ligar para: 3369-3251 e 9273-7915.
Os números
63 mil - Número aproximado de habitantes.
15 % - Percentual da população do DF que vive no Paranoá.
853km2 - Área total da cidade.
51 anos - Idade do Paranoá, que começou a ser habitado em outubro de 1957.