Comprar bijuterias, ir ao teatro, revelar uma foto ou jantar fora está consumindo uma parcela maior do orçamento dos brasilienses. A inflação dos produtos e serviços que não integram o grupo de primeira necessidade subiu mais que a de outros itens, como alimentação, ou os gastos com educação, por exemplo. Um levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a pedido do Correio, mostra que uma cesta composta por 16 itens supérfluos (1)aumentou mais do que a média da inflação dos últimos 12 meses. Todos os preços cobrados na cidade aumentaram, em média, 4,51% no período, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (2)(IPC-S). Mas o valor dos não essenciais subiu mais. De acordo com os dados da FGV, eles ficaram 7,32% mais caros.
O aumento da renda dos trabalhadores brasilienses ; que já é a maior do país ;, nos últimos 12 meses, dá espaço para os reajustes, segundo especialistas. O volume de dinheiro em circulação que é originado do trabalho sofreu um incremento de 10,6%, apontam dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (3)(PED). ;O que moveu esta elevação de preços foi o aumento da massa de salários, mesmo com a crise. Quando a renda cresce, abre espaço para o consumo de outros bens e serviços que não são os essenciais, e o aumento da demanda permite aos empresários elevar os preços;, explica o economista da FGV, André Braz.
Com mais dinheiro no bolso, as mulheres brasilienses não se importaram em pagar 14,07% mais do que há um ano para comprar um brinco ou um colar, ou 8,37% mais pelo sapato ou a bolsa novos. As peças de vestuário, em geral, aumentaram 7,63%, mais que o dobro dos gastos com alimentação, 3,84%. A dona de casa Maria Lúcia Pimenta Alves, 52 anos, é uma dessas consumidoras. ;Sempre dou prioridade àquilo que de fato é prioridade, mas a mulher gosta de se enfeitar;, comenta, de olho na vitrine de uma loja especializada em bijuterias do Sudoeste. ;Mas não sou daquelas que acha bonito e compra logo. Nada de exagero. Levo só se achar que pode ser útil;, justifica, depois de saber quanto os preços ficaram mais caros, segundo a FGV.
Academias
Os vaidosos também estão desembolsando um volume maior para arcar com a malhação. As 600 academias da cidade estão cobrando, em média, 5,10% mais do que há um ano. O volume elevado de investimentos feitos pelo setor justifica os reajustes nas mensalidades, segundo o presidente do Sindicato das Academias e demais Empresas Desportivas do DF, Nonato Lopes. ;Cada empresário define seus reajustes de acordo com seus gastos;, explica. Além disso, a demanda em alta permite os aumentos, conta. Segundo ele, 5% da população do DF, ou seja, mais de 130 mil pessoas, estão matriculados em uma academia. A estimativa é de que em todo o país o número de adeptos seja de, no máximo, 3% da população total. E, com a procura elevada, os preços são salgados. Podem passar de R$ 400 por mês.
Decidida a voltar a malhar, a publicitária Daniela Pereira Brandão, 22 anos, pesquisou preços de academias próximas à sua casa, na Asa Norte. Ficou impressionada com os valores. Acabou optando por uma que considera ser de melhor qualidade e onde poderia incluir no pacote a natação da filha, de apenas um ano. Sua malhação, três vezes por semana, e a aula de natação da filha apenas aos sábados estão custando R$ 270 por mês. ;Acho muito caro, ainda mais pagar R$ 90 só pela natação da minha filha, mas sei que a média de preços na Asa Norte é essa.;
Dos itens pesquisados, o que mais aumentou de valor foi a revelação de fotos, apesar da redução na procura pelo serviço. Os preços estão 22,65% mais caros e a estimativa é que metade das lojas que prestavam o serviço no início da década tenham fechado as portas ou mudado o foco da atividade comercial, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material Óptico e Fotógrafico do DF, Hamilton Guimarães. ;A demanda caiu, mas os custos fixos das lojas continuaram subindo, então algumas empresas tiveram que aumentar preços para arcar com seus custos. Mas a revelação hoje pesa muito pouco no bolso do consumidor. Pouca gente revela fotos e, quem revela, revela em quantidade pequena.;
1 - Não essencial
Supérfluo, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa ;que ou o que ultrapassa a necessidade; que é mais do que se necessita;.
2 - Inflação das capitais
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) mede a variação de preços em Brasília e em seis outras regiões metropolitanas. São pesquisados semanalmente os valores de 450 produtos e serviços, agrupados em sete classes de despesas. Os pesos atribuídos a esses itens espelham as despesas das famílias com renda mensal de até 33 salários mínimos.
3 - Emprego e renda
A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mede o índice de desemprego no Distrito Federal e a renda dos trabalhadores. A massa de rendimentos da população representa toda a renda em circulação que é oriunda do trabalho.
Eu acho...;Fumo desde os 22 anos e sei que cigarro é supérfluo, mas fazer o quê? Nunca parei para calcular quanto gasto por mês com ele. Fumo menos de uma carteira por dia. Só quando tem festa que fumo mais. Acho muito caro, mas virou algo tão rotineiro comprar cigarro que nem sinto tanto no bolso. Mas estou largando esse vício.;