Mariana Flores
postado em 04/09/2009 08:59
Com mais de 1,1 milhão de veículos em circulação, o Distrito Federal se tornou um prato cheio para as empresas que administram estacionamentos privados. Alguns deles chegam a abrigar mais de 3 mil veículos por dia, apesar dos preços elevados. A frota volumosa e a dificuldade em encontrar vagas públicas faz com que os brasilienses se disponham a pagar valores bem altos. Algumas tabelas ficaram 42% mais caras neste ano. E deixar o carro apenas 20 minutos em um estacionamento da cidade pode custar (1)até R$ 6. Quem demorar quatro horas pode ter que desembolsar R$ 12. O volume é bem inferior ao verificado em São Paulo, por exemplo, onde as mesmas quatro horas em um shopping da capital paulista podem sair por R$ 38. Mas o aumento foi bem superior à inflação acumulada no Distrito Federal nos últimos 12 meses, de 4,82%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (2)(IPC-S). Os consumidores estão insatisfeitos, mas são obrigados a pagar, se não estiverem dispostos a procurar por uma vaga pública. Como o mercado é livre, nem o Governo do Distrito Federal nem os órgãos de defesa do consumidor podem controlar ou intervir nos preços.[SAIBAMAIS]O governo pode fiscalizar apenas se as empresas têm alvará de funcionamento, afirma o diretor-geral da Agência de Fiscalização do DF (Agefis), Georgeano Trigueiro. O Procon também fica de mãos atadas. ;É uma relação de consumo como outra qualquer. O empresário pode cobrar o preço que quiser e o consumidor decide se quer pagar;, diz o diretor-presidente do Procon-DF, Ricardo Pires. Livres para definirem seus preços, as empresas em geral promovem reajustes anuais com o argumento de que os custos também aumentaram. ;Cada empresário tem liberdade para exercer seus preços, de acordo com seus custos e sua margem de lucro;, explica Antônio Augusto de Moraes, presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), que representa as empresas do segmento.
Aos consumidores, resta se conformar com o preço salgado ou disputar uma vaga nos estacionamentos públicos. O pedagogo Manoj Geeverghese, 22 anos, opta por deixar seu carro ao ar livre. Duas vezes por semana, ele faz sessões de pilates em uma clínica instalada em um shopping da Asa Norte. Leva um tempo considerável até encontrar local para estacionar, mas ele prefere assim. ;Pago R$ 30 pela sessão. Se fosse pagar o estacionamento, iria gastar mais R$ 6. É 20% do valor do pilates apenas para deixar o carro, não vale a pena. Prefiro ficar rodando e procurando vaga.;
Reajuste
Em Brasília, boa parte dos estacionamentos são de propriedade dos shoppings ou de empresas do mesmo grupo. A definição do reajuste aplicado não é uma tarefa fácil, segundo os empresários que atuam na área. É preciso ter bastante cautela na hora de dosar os ganhos necessários para cobrir custos (3)e gerar lucros para os estacionamentos, e, por outro lado, possíveis perdas de clientes em função de elevações exageradas. Mas, em Brasília, a renda elevada da população e o excesso de veículos em circulação têm dado liberdade ao setor. De acordo com administradores de shoppings, o número de veículos nas garagens cai nos primeiros dias após o reajuste, mas volta a subir em pouco tempo. ;O brasileiro já está acostumado a ter reajustes anuais em todas as relações comerciais. Ele já tem essa expectativa, então mantém a relação de consumo;, afirma Hélio Ribeiro, coordenador regional da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce).
Na conta para definir o percentual de reajuste a ser aplicado, entram os investimentos feitos em tecnologia e automação, a manutenção dos equipamentos, os custos com tributos e impostos, além dos gastos com a folha salarial, explica Ezequiel Sathler, gerente regional da Multipark, empresa pioneira em gestão de estacionamentos privados na cidade. Segundo ele, a companhia sente bastante a diferença na mudança de comportamento dos consumidores brasilienses. ;Em 1992, não existia uma cultura de estacionamentos privados na cidade. Agora, já existe. O número de clientes nos estacionamentos não cai quando reajustamos;, garante o executivo da empresa, que chega a cobrar R$ 6 pelas primeiras duas horas de uso de uma vaga.
1 - Inflação
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) é calculado pela Fundação Getulio Vargas e mede a variação de preços em Brasília e em seis regiões metropolitanas. São pesquisados semanalmente os valores de 450 produtos e serviços, agrupados em sete classes de despesas. Os pesos atribuídos a esses itens espelham as despesas das famílias com renda mensal de até 33 salários mínimos.
2 - Pagamento fracionado
A Lei Distrital n; 4.067, aprovada em janeiro de 2008, assegurou aos clientes de estacionamentos a cobrança proporcional ao tempo do serviço efetivamente prestado para a guarda do veículo, ou seja, o consumidor deveria pagar por fração de hora utilizada. As novas regras duraram poucos dias. Os empresários conseguiram na Justiça uma liminar suspendendo os efeitos da lei com o argumento de que a mudança só poderia ser feita por meio de legislação federal.
3 - Acordo
Após firmarem um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), as empresas passaram a se responsabilizar por danos ocorridos aos veículos dentro dos estacionamentos, até mesmo por objetos guardados no interior dos carros. O cliente, no entanto, tem que conseguir provar que o objeto foi roubado dentro do estacionamento.
FUNCIONÁRIOS NEGOCIAM AUMENTO
Apesar de usarem o reajuste salarial de seus funcionários como argumento para elevar os preços cobrados dos consumidores, as empresas ainda não definiram o aumento salarial dos trabalhadores neste ano. As negociações começaram há cerca de 20 dias e não estão avançando, segundo o presidente do Sindicato dos Empregados em Estacionamentos e Garagens Pública e Privadas, Raimundo Domingos. A categoria pede 12% de reajuste na remuneração e um aumento do piso salarial de R$ 522 para R$ 650. A proposta dos patrões é de 3% de aumento para os 2 mil trabalhadores do setor. Os funcionários querem continuar negociando, mas o Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) não apresentou uma contraproposta ou marcou data para uma nova conversa.
Participe da enquete no site do Correio: ;Você acha que o governo deveria intervir para controlar os preços dos estacionamentos privados?;
Preços
R$ 1 a R$ 6 - Variação do preço de uma única hora em estacionamentos privados do Distrito Federal.
R$ 3 a R$ 10 - Valores mínimo e máximo que pode pagar um cliente que deixar seu carro por três horas em algum estacionamento da cidade.
Eu acho...
;Estacionamento de shopping é muito caro, sempre deixo o carro do lado de fora. Já pago muito caro pelo seguro do meu carro para ter mais esse gasto. É muito difícil para a gente. Se deixa o carro na rua, corre o risco de ser assaltado ou de ter o carro riscado ou roubado. Mas os preços dos estacionamentos são muito caros.;
Marcos Antônio Vieira Honorato, 28 anos, médico