Mariana Flores
postado em 10/09/2009 08:36
Após cinco anos contribuindo com parcelas pequenas ou nulas na criação de empregos no Distrito Federal, a administração pública voltou a contratar. No último ano, 30 mil pessoas conseguiram um emprego na capital do país. Dois a cada três profissionais estão na administração pública direta ou indireta dos governos federal e do DF. Ao todo, 20 mil trabalhadores foram convocados por concursos públicos ou empregados como terceirizados ou comissionados, entre julho de 2008 e julho deste ano, de acordo com a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que serviu de base para o levantamento feito pelo Correio.
Foi no embalo das últimas convocações que a servidora Marianna Nunes Rufino foi chamada. Em julho último, ela tomou posse no cargo de agente administrativa do Ministério da Saúde, concurso para o qual se preparou por um ano. Já empregada, ela continua estudando. Quer passar em outro concurso, agora de nível superior. ;Quero passar para analista do Ministério Público ou algum específico para psicólogo;, diz. Enquanto se preparava, Marianna contou com a ajuda dos pais, que a bancaram suas despesas para que pudesse se dedicar exclusivamente aos livros. ;Acho que foi mais fácil passar em um concurso porque pude ficar só estudando. Nesse período, contei com o apoio financeiro e psicológico dos meus pais;, afirma.
Composição
A administração direta é composta pelos órgãos que estão ligados diretamente ao poder central: ministérios e secretarias. A indireta é composta por entidades que têm personalidade jurídica, como as autarquias, fundações, empresas e sociedades de economia mista.
Levantamento
A Pesquisa de Emprego e Desemprego é realizada todos os meses em 19 regiões administrativas do Distrito Federal. O levantamento é feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em cerca de 2,9 mil domicílios e coleta informações sobre todos os moradores com 10 anos ou mais de idade.
Sinais de dependência
Na opinião de economistas especializados em mercado de trabalho, o elevado número de contratações demonstra que a economia brasiliense ainda continua dependente do setor público. A administração pública é responsável por 55% do Produto Interno Bruto (PIB) do DF. Mas essa dependência é arriscada. ;O setor público é o elemento indutor da economia de Brasília, mas não é suficiente. Por isso, o desemprego em Brasília é tão elevado;, afirma o economista Júlio Miragaya, integrante do Conselho Federal de Economia.
O grande interesse dos profissionais de Brasília em passar em um concurso é um dos responsáveis pelo fraco desempenho da economia privada, na avaliação do professor da Universidade Católica de Brasília Adolfo Sachsid. ;Se os governos parassem de contratar, estas pessoas que estão estudando poderiam gastar seu tempo e dinheiro abrindo um negócio. A mão de obra qualificada de Brasília se prepara para passar em um concurso, e não para gerar riqueza para a sociedade. E com a perspectiva de muito concurso daqui para frente essa tendência só tende a aumentar.;
A oferta de emprego público deve continuar. Pelo menos em âmbito nacional. A proposta de Orçamento da União para 2010 prevê a contratação de 56.861 trabalhadores para cargos efetivos, por meio de concurso, comissionados e funções de confiança. Mas nem todos vão trabalhar no DF. As vagas são para todo o país. No GDF, as admissões deverão ser mais tímidas. Segundo o secretário de Planejamento, Ricardo Penna, na próxima semana, o governo apresentará a proposta de orçamento à Câmara Legislativa, e será mais contido na previsão de gastos com contratações. Os repasses federais para o DF diminuíram neste ano e houve uma queda nas receitas orçamentárias, com a redução da arrecadação local, o que deve levar a um enxugamento, como vem anunciando o governo.
