postado em 14/09/2009 08:42
Vinte e três telas com toque dourado e cheias de significado enfeitaram as paredes do Mosteiro de São Bento nesse fim de semana, numa exposição em homenagem ao dia da exaltação à Santa Cruz, celebrado hoje pelos cristãos. Conhecidas como ícones bizantinos, as obras foram criadas pelos iconógrafos Walter Welington, 34 anos, e Tânia Hutchison, 60.O nome bizantino vem de Bizâncio, antiga capital do império romano, localizada na Grécia e depois renomeada como Constantinopla. O estilo artístico foi criado no início do cristianismo e muito utilizado pelos gregos e russos para contar passagens bíblicas por meio de imagens.
Na mostra, as telas foram dispostas em uma sequência para mostrar a história da luz divina. A primeira imagem, Transfiguração, simboliza a luz que parte de Cristo para os apóstolos. Em seguida, várias desenhos mostram cenas de Jesus. A sequência continua com o encontro de Cristo e Nossa Senhora. Depois, imagens apenas de Maria, seguidas dos arcanjos.
Cenas bíblicas retratam a fuga de São Pedro e a fuga para o Egito, além das figuras de São Jorge, Santo Onofre e São João. A parte final é um quadro de Jesus Cristo, preso à parede, sobre uma mesa com a Bíblia, vela e flores.
Segundo Walter, há regras para se escrever um ícone e cada símbolo tem um significado. O olho grande, diz o iconógrafo, sugere mais contemplação do que fala. Já a boca pequena representa o silêncio. As estrelas são a virgindade.
As cores também não são escolhidas em aleatoriamente, destaca. O dourado se remete à eternidade. ;Como não dá para pintar algo eterno, utilizamos a profundidade proporcionada pelo ouro;, explica. O vermelho púrpura signifca divindade e o azul, humanidade. ;Se as vestes de Maria são azuis, cobertas de vermelho, quer dizer que ela é humana revestida de divindade;, observa. ;No Cristo, é o contrário. Ele veste o púrpura e é revestido de azul.;
As explicações fizeram parte de várias conferências sobre a simbologia dos ícones, ministradas por um padre, um monge, um jornalista e um iconógrafo, durante a mostra. No entanto, apenas cerca de 40 pessoas prestigiaram as explanações.
Raridade em Brasília
Conhecida como têmpera, a tradicional técnica de pintura para ícones bizantinos utiliza gema de ovo e pigmentos feitos com terra colorida. A arte é praticamente monástica e depende da formação religiosa.
Walter Wellington e Tânia Hutchison são alguns dos raros casos de iconógrafos em Brasília. Estima-se que a cidade conte com cerca de 10 artistas que dominam a prática. Tânia afirma que seu interesse surgiu há três décadas, mas ela só teve acesso ao aprendizado quando uma amiga voltou de um curso na Argentina. O trabalho foi aprofundado mais tarde, com um monge em Mogi das Cruzes (SP).
Seis anos da vida de Walter foram dedicadas ao monastério. Aos 19 anos, ele ingressou no Mosteiro de São Bento em Brasília, depois foi para Olinda (PE) e São Luís (MA), onde aprendeu a técnica. O aperfeiçoamento veio em um curso com outro monge camaldulense, de São Paulo.
Tãnia pinta para igreja ortodoxa grega, em Brasília, e tem obras na Itália. Está em fase de finalização para enviar novas telas para a Grécia. As obras de Walter são encontradas em várias igrejas do DF. São elas: Paróquia N. Sra do Monte Calvário (Samambaia), Igreja N. Sra de Fátima (Samambaia Norte), Igreja N.Sra das Graças (expansão de Samambaia), Paróquia Sagrado Coração de Jesus e São José (Ceilândia Norte) e Capela no Centro Educacional Católica de Brasília (Taguatinga).
Não perca
Você pode conferir uma mostra com 10 ícones bizantinos de Walter Wellington durante o evento de música católica Hallel Brasília. Em 19 de setembro, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. As obras ficarão expostas no estande do Congresso Eucarístico.
Dedicação a Cristo
Construído em 1987, o Mosteiro de São Bento em Brasília fica na
QI 29 do Lago Sul, ao lado da Ermida Dom Bosco. Lá vivem 14 pessoas, entre monges, noviços e candidatos, que optaram por renunciar aos bens materiais mundanos para se dedicar a Cristo. O chefe da comunidade é chamado de prior. Quem ocupa o cargo é dom André Rocha Neves. De segunda a sexta, o mosteiro celebra uma missa às 6h15. Aos sábados, às 7h15, e, aos domingos, às 10h. Informações: 3367-2949 ou 3367-7370.
Exaltação à Santa Cruz
Os cristãos têm a cruz como um símbolo máximo de força, pois foi onde Cristo morreu e ressuscitou. A festa da exaltação à Santa Cruz foi celebrada pela primeira vez no ano 335. O dia 14 de setembro foi escolhido em 628, por ter sido a data em que o imperador de Constantinopla, Heráclito, recuperou a cruz roubada pelos persas 13 anos antes. A relíquia foi reconduzida a Jerusalém.