postado em 15/09/2009 08:00
Apesar de o exame nos corpos de José Guilherme Villela, 73 anos, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e de Francisca Nascimento da Silva, 58, não ter identificado qualquer tipo de substância toxicológica nas vítimas, a polícia não descarta que os três tenham sido dopados antes de morrer. Ontem, nova perícia foi realizada no local do crime para tirar a dúvida. Nos laudos cadavéricos do Instituto de Medicina Legal (IML) a que o Correio teve acesso com exclusividade na semana passada, não se detectou qualquer sinal de que os moradores do apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul tenham reagido aos golpes de faca ; as 73 perfurações foram somente em partes vitais, como peito e costas.No fim da tarde de ontem, a delegada-chefe da 1; Delegacia de Polícia, Martha Vargas, esteve com peritos, pela 12; vez, no apartamento dos Villela em busca de pedaços de pano que poderiam ter sido usados para sedar o casal e a empregada. Segundo investigadores que trabalham no caso, há fortes indícios de que pelo menos Francisca tenha sido entorpecida pelo criminoso (ou criminosos), com substância que causa sonolência momentânea. O produto seria volátil, o que explicaria por que não foram encontrados vestígios no estômago ou no sangue das três vítimas. Martha Vargas não comentou o assunto.
O jornal ouviu alguns peritos a respeito dessa hipótese. Eles concordam com a possibilidade de que as vítimas tenham sido dopadas. A falta de reação ; especialmente por não haver marcas indicando que as três pessoas foram amordaçadas ou amarradas ; e a pouca quantidade de sangue no imóvel onde ocorreram os esfaqueamentos fatais ajudam a reforçar a teoria. Segundo os especialistas, existem elementos tóxicos com efeitos anestésicos muito poderosos que podem provocar a perda de sentidos quando usados em doses altas. ;Nada impede que o criminoso tenha molhado um pedaço de pano e surpreendido as vítimas;, observou um médico legista do IML que pediu o anonimato. De acordo com ele, éter e clorofórmio (1)estão entre as substâncias que causam efeito anestésico em seres humanos.
Evaporação
Conforme os especialistas, não há anormalidade nos exames não apontarem a existência de produtos químicos no casal e na empregada. Eles alertaram que algumas drogas evaporam rapidamente ; em cerca de duas horas ;, mas análises complementares podem confirmar se as vítimas foram dopadas. Investigadores que atuam no caso não informaram, porém, que tipo de exames deveriam ser feitos para apurar se houver mesmo o uso de sedativos.
[SAIBAMAIS]Os peritos também recolheram do apartamento material que possa conter DNA dos criminosos em fragmentos de unhas e de pele. O material coletado será cruzado com outros exames periciais em fase de conclusão no Instituto de Criminalística (IC). Martha Vargas espera receber parte dos laudos a partir de hoje, quando vai confrontá-los com os depoimentos de testemunhas e suspeitos, tomados desde o início da apuração do crime, em 31 de agosto, data em que os corpos foram encontrados. Os assassinatos, porém, ocorreram na sexta-feira anterior, dia 28, entre as 19h30 e as 20h.
Sacola cheia
Ontem, a movimentação na 1; DP foi tranquila. A delegada chegou ao local às 13h55, a bordo do próprio carro. Misteriosa, limitou-se a dizer que havia feito algumas diligências na parte da manhã. ;E os laudos eu não tenho, não vi ainda;, garantiu. No fim da tarde, ela se dirigiu ao Bloco C da 113 Sul, batizado de Edifício Leme, e voltou ao distrito policial por volta das 19h30, carregando uma sacola com roupas e uma pasta plástica azul. O material fora coletado no cenário da tragédia.
Na noite de domingo, a delegada responsável pelo inquérito também se dirigiu ao apartamento da 113 Sul em busca de objetos que poderiam ter sido levado pelo criminoso (ou criminosos). Antes, ela esteve com familiares do casal Villela, que teriam informado sobre o que havia na residência. Martha Vargas voltou a pedir que a população colabore, denunciando possíveis suspeitos. O telefone é 197.
Apesar de ter anunciado que concentraria as investigações nos casos defendidos por José Guilherme Villela, a polícia não esteve ontem no Edifício Denasa, onde fica o escritório Villela Advogados Associados, aberto pela família do ex-ministro do TSE José Guilherme Villela. Um funcionário da firma assegurou, por interfone, que o expediente foi normal.
1 - Efeitos
O éter é um anestésico forte que age diminuindo a temperatura corporal de quem o aspira e provocando a paralisação momentânea dos nervos que levam informações ao cérebro. Já o clorofórmio causa distúrbios coronários e seu uso medicinal foi abolido. A inalação do líquido pode causar problemas renais, irritação na pele, nos olhos e no fígado e até a morte do usuário.