Cidades

Crime na 113 Sul: criminalistas ouvidos pelo Correio falam em vingança

Adriana Bernardes
postado em 15/09/2009 08:01
A investigação do triplo assassinato da 113 Sul entra, hoje, no 16; dia sem que a polícia tenha apresentado um suspeito. A falta de testemunhas, de marcas de arrombamento nas portas, o laudo dos corpos indicando que as vítimas não reagiram à brutalidade dos golpes, o roubo apenas das joias ; apesar de haver dinheiro e cheques no apartamento ; são ingredientes que intrigam os investigadores e dificultam a elucidação do crime. Especialistas ouvidos pelo Correio têm convicção de que polícia chegará aos culpados, mas ressaltam que esse tipo de apuração leva tempo. Eles corroboram a tese policial de que o responsável é alguém próximo da família.

Para Eduardo César Leite, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil regional São Paulo (OAB-SP), as características do crime podem revelar um sentimento de vingança. ;Apesar de terem sumido objetos de valor, não parece um latrocínio (roubo com morte) comum. É um homicídio e, pela quantidade de golpes, a primeira impressão é de que foi por vingança.; Além disso, a arma utilizada ; uma faca ; mostra que o autor dos golpes não queria fazer barulho. ;Me dá a impressão de que o criminoso era uma pessoa próxima à família, não necessariamente um parente, mas alguém que conhecia o local dos fatos e tinha facilidade de acesso ao apartamento (o 601/602 do Bloco C);, acrescenta Eduardo Leite, ressaltando que sua análise se baseia nas características iniciais do crime divulgadas pela imprensa.

Na opinião de Eduardo Leite, o fato de os indícios apontarem para alguém próximo do convívio familiar pode ajudar na elucidação do crime. Um dos caminhos indicados nesse tipo de caso é fazer uma varredura em torno das pessoas que efetivamente tinham acesso ao apartamento do casal. ;E como em todo e qualquer processo de investigação de homicídio, depende da comparação e exclusão. Levanta-se informação acerca do ciclo familiar, de amigos e empregados e afasta-se quem está mais distante do perfil do crime;, diz.

É preciso também levar em conta o perfil das vítimas. ;Há que se levantar os fatos que antecederam o assassinato. Quais problemas a vítima tinha? Um crime se desenha dessa forma;, completa o conselheiro da OAB-SP.

Álibi
O presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo (Acrimesp), Ademar Gomes, é enfático: ;Não existe crime perfeito mas, sim, crime mal investigado;. Gomes diz ter certeza de que a polícia chegará ao autor ou aos autores do triplo assassinato, mas para isso precisará de tempo. ;A pessoa pode ter agido sozinha.

Se agiu em dupla, isso facilita a investigação porque algum dos envolvidos sempre acaba contando para uma terceira pessoa, que ajudará os policiais;, avalia o advogado.

Em crimes como esse, no qual não há testemunha, Gomes lembra que não se podem descartar suspeitos, ainda que tenham apresentado álibi. ;É preciso investigar a fundo esse álibi. Num primeiro momento, ele pode inocentar o alvo da investigação, mas uma avaliação mais rigorosa pode detectar fragilidades.;

[SAIBAMAIS]Pelas características do triplo homicídio, o advogado criminal Jair Jaloreto diz que tudo leva a crer que o autor teve motivações pessoais para matar o casal e a empregada da família. ;Ao que parece, a pessoa foi convidada a entrar na residência e era alguém da confiança das vítimas. Pela quantidade de facadas, houve muito ódio por parte do assassino. Ninguém precisa de tantas facadas para morrer;, acredita.

O advogado não descarta que o autor dos golpes estivesse sob efeito de álcool ou drogas. Se entrou apenas para roubar, a quantidade de golpes pode ter sido uma tentativa de confundir a polícia. Ou o contrário. ;Levou as joias para tentar despistar suas verdadeiras intenções;, opina. Por enquanto, nenhuma hipótese pode ser desconsiderada.

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