Juliana Boechat
postado em 19/09/2009 07:50
Parte da história da construção de Brasília ainda está viva nas ruas de Metropolitana, que completou 53 anos. Antigo bairro do Núcleo Bandeirante, o local ganhou forma antes mesmo da construção da capital federal. Ainda é possível encontrar alguns pioneiros andando pela cidade e se deparar, entre as casas de alvenaria, com os antigos barracos de madeira habitados pelos engenheiros e peões de obra na década de 1960. Parece cidade de interior: uma igrejinha azul, localizada bem no centro da cidade, é cercada pelas casas e o comércio. Crianças correm e os adultos conversam calmamente, sentados nos banquinhos. Para celebrar e preservar tanta história, a Associação de Moradores, com o apoio da Administração do Núcleo Bandeirante, realizará uma grande festa que começa na tarde de hoje e só termina amanhã, às 18h.O pioneiro José Brás, 68 anos, marcará presença na festa. Ele é um dos moradores mais antigos da Metropolitana. Mora em uma casa simples com a irmã, Geralda, e o máximo que arrisca é um passeio no parque pela manhã. O pai de José era vaqueiro na Fazenda Tamanduá, existente antes da construção de algumas regiões administrativas do Distrito Federal. Com o início das obras de Brasília, o jovem mudou-se para o acampamento Metropolitana, que levou o nome da empresa responsável por uma das obras da cidade de Juscelino Kubitschek. Eu fui o primeiro a despejar brita na construção do aeroporto, contou Brás. Mas hoje não posso nem chegar perto de lá, explicou, falando sobre sua dificuldade para se locomover.
Naqueles tempos, ele morava na região reservada aos operários. Os engenheiros viviam do outro lado da rua ; onde José mora hoje. Além dos acampamentos, o Núcleo Bandeirante era um espaço tomado pela vegetação do cerrado. Só moravam aqui eu e o tamanduá-bandeira, brincou, referindo-se ao animal característico do bioma. Para comprar sal ou açúcar, era obrigado a percorrer um dia a cavalo para chegar a Luziânia ou Planaltina. Tudo que eu fazia era trabalhar. Não tinha tempo de flertar, de nada. Não tenho do que sentir saudade, disse, nostálgico. Pouco abaixo da residência de Seu Zé, como é conhecido na cidade, ainda existem casas erguidas com tábuas de madeira, moradias comuns antes de surgirem os primeiros prédios de alvenaria.
O aniversário do local histórico será comemorado pela comunidade a primeira vez este ano. A iniciativa partiu da Associação de Moradores, criada há seis meses, para exigir melhorias no bairro. A expectativa é de que 5 mil pessoas passem pela praça central da Metropolitana ao longo do dia e durante a festa. A comemoração tem tudo para ser um evento à altura do que os pioneiros, os moradores e a cidade merecem. Shows com bandas locais, campeonato de futebol, corrida, (1)apresentações de motociclistas internacionais, exposição de carros do Corpo de Bombeiros e do Exército movimentarão a frente da igrejinha característica da cidade durante as festividades. O ápice da festa, no entanto, é esperado para as 15h de domingo, quando os pioneiros serão homenageados com a medalha e o diploma Mérito Pioneiro da Metropolitana.
Para o presidente da Associação dos Moradores, José Bonifácio, o Boi, o bairro passou por um período de abandono. Foi quando um grupo de moradores inconformados resolveu reivindicar algumas melhorias e criou a associação. Juntos, conseguiram melhorar a iluminação de vias públicas e transformar dois lixõs em praças com ciclovia. Mas a maior vitória foi organizar a grande festa em homenagem ao bairro. Aproveitamos a motivação e o embalo dos moradores, explicou Boni. Alguns chegaram aqui antes mesmo da construção do Catetinho. Vamos resgatar e dar valor às pessoas que ajudaram a criar a história de Brasília, contou. O novo administrador do Núcleo Bandeirante, Geovani Ribeiro, completou: É uma oportunidade de viver o que está nos livros. Os personagens e os fatos estão nas ruas da cidade.
1 - Mais interação
A largada da 1; Corrida de Rua da Metropolitana está marcada para as 9h de amanhã, e será dada com tiros de festim, sob responsabilidade do Exército. A associação criou a corrida para integrar homens e mulheres da cidade. Até então, o único ponto de encontro da comunidade era um campeonato de futebol, praticado apenas pelos homens.